Homem aranha
chinês
“Xuxu, como foi que você ficou assim...
Inteligente?” começo meu questionário a Xoung Wey Sue querendo saber como que
uma pessoa chega à marca de 178 no teste de QI. Ele responde que se lembra
exatamente de como foi, “faltavam apenas dois dias para eu completar 12 anos e,
assim que acordei, todas as cores estavam mais vivas, as estrelas brilhavam
mais, faziam sentido em sua disposição espacial. O Mundo estava diferente!”
E mexo um pouco no computador, volto a olhar
para ele e pergunto “Nossa, mas isso parece a história do homem aranha. Enfim,
e a partir desse momento você ficou mais inteligente?”. Ele fica um pouco sem
graça, me olha fico e diz “Foi mais ou menos isso. Dias depois de tudo ter
mudado, percebi que meu raciocínio estava mais rápido”.
Ele completa a história, explicando “Passei
em frente a um outdoor que continha um desafio matemático, e pedia para que
quem conseguisse completar a sequência numérica, entrasse em contato com um
número de telefone, pois seria ganhador de um prêmio do governo. Eu resolvi a
sequência na hora e mostrei para um amigo. Esse amigo ligou para o número e
disse que ele conseguira resolver. Então, a Marinha foi até a casa dele para
entregar o prêmio, mas, para isso, ele precisaria provar os cálculos que fez.
Então, ele desmentiu a história e passou meu endereço dizendo ter sido eu que
resolvera o cálculo. Não queria que ninguém soubesse! Eu não teria ligado...
Mas a Marinha foi até minha casa, me deu o prêmio e eu provei o cálculo para
eles”.
É ai que começa a vida de Xoung Wey Sue,
segundo ele mesmo...
Sue nasceu na China, na cidade de Taipei,
Taiwan, em 7 de novembro de 1967. Aos 2 anos de idade, mudou-se para São
Paulo e, apesar do sotaque oriental adquirido através da família, ele não tem
lembrança alguma do país de origem. Na verdade, suas principais lembranças se
dão após a “picada do homem aranha”. Brincadeiras a parte, ele diz ter começado
outra vida após os 12 anos.
Logo no início deste perfil, é necessário
explicar: Sue gosta de ser chamado carinhosamente de Xuxu por seus amigos.
Inclusive, Xuxu Transgênico é seu nome no Facebook. O motivo do apelido um
tanto quando estranho é o fato dele ter criado, de fato, um xuxu transgênico. O
currículo de Sue é muito versátil; é formado em matemática pela USP, passou 14
anos estudando diversas matérias, como: biologia, bioquímica, psicologia
coletiva e sociologia. Ele diz ser “expert” em transmutação de fórmulas e
modelos.
O chinês se orgulha de uma das suas
principais realizações: a utilização de duas fórmulas da bioquímica (oxidação
de princípios ativos no sangue e a equação de cálculo de PH de solução tampão)
no cálculo de degradação temporal no preço das opções. O que isso significa e
como ele desenvolveu isso? Ele não conta, apenas sorri e diz ter fé em Deus.
Além do currículo recheado de versatilidade,
Sue também conta que é ele quem faz os cálculos para extração do petróleo do
pré-sal. Como se não bastasse, já faz sete anos que é estrategista da empresa
em que trabala e, quando questionado sobre suas funções, ele diz “Agradeça todo
dia que você não precisa tomar decisões importantes”. Ele me diz isso porque
trabalho no marketing da empresa, dentro de uma instituição financeira, o
marketing não tem lá muita importância.
Sue não tem uma rotina fixa de trabalho,
pois mora em Curitiba, faz Home Office, e vem a São Paulo somente para resolver
problemas. Quando questionado sobre seus motivos de por que não morar em São
Paulo, a resposta está na ponta da língua “São Paulo é três vezes e meia
Curitiba”, referindo-se ao custo de vida.
A verdade é que Sue é muito mão fechada,
segundo ele mesmo. Ele é dono de inúmeros empreendimentos imobiliários, tem um
salário astronômico, e muito capital aplicado na Bolsa de Valores. Ele diz ter
“vencido a Bolsa” e agora estar cansado de “brincar disso”. Ganhar dinheiro na
Bolsa era este seu objetivo de vida, pois o avô se suicidara após ter perdido
toda a fortuna nas oscilações do mercado acionário.
Quando vai à empresa, Sue senta-se no
departamento de marketing, abre seu notebook e começa seu falatório
interminável. Ele jamais passa despercebido em suas idas à empresa, pois anda
por todas as áreas fazendo os comentários e observações que sua genialidade
permite.
Em uma de suas visitas, em uma quinta-feira,
Sue me convidou para almoçar junto com mais três colegas. O combinado era que
eu e as outras meninas escolhêssemos algum lugar para almoçarmos juntos no dia seguinte.
Então, optamos pelo restaurante Fifties e informamos Sue perto das 12 horas.
Ele fez cara de quem não gostou e disse “lá é caro e obesogênico. Antigamente
nós comíamos a vontade por R$ 6,30”.
Ficamos conversando durante alguns minutos
sobre o restaurante, até que ele sugeriu o MC Donald’s. Questionei-o sobre o
conceito de “obesogênico”, e ele disse que a história de que MC Donald’s
engorda, ou faz mal, é apenas uma lenda. Decidimos então que nos encontraríamos
na recepção do prédio, às 13 horas, e escolheríamos o restaurante lá. Eu disse
“Sue, vou atrasar cinco minutos, ok?”, e ele pensativo respondeu “Então,
combinamos 13 e 5, pode ser?”.
No final das contas, fomos a um restaurante
cujo cardápio era: Salada de entrada, risoto de palmito com algum grelhado de
prato principal, e sorvete de coco com brigadeiro de sobremesa. Quando chegou a
primeira etapa da refeição, Sue observou as folhas da salada com muita
precisão. Separava algumas com a mão, pondo-as na mesa, e outras, levava à
boca. Na hora do prato principal, ele alertou o garçom “metade da comida para
mim, por favor”. O garçom fez que sim com a cabeça, mas trouxe um prato para lá
de caprichado para o chinês, que comeu toda a comida.
Ele foi falando de estratégias de
investimentos o almoço todo e, às vezes, contava algum episódio sobre seu
filho, como o fato do menino bater nos colegas da escola e ele, como pai, estar
impressionado com a falta de pulso firme de uma instituição escolar em não
conseguir conter um garoto de 4 anos. Sue pratica Muay Thai, e conta que
demorou dois anos para conseguir dar um chute sem se machucar. Mas seu filho é
muito esperto e, apenas de observar o pai, já sabe dar o tal chute que não dói.
Agora já era hora da sobremesa e Sue fica em
dúvida sobre o sorvete e outra sobremesa fora do cardápio. Ele acaba optando
por uma torta de coco e pede ao garçom que não cobre a mais pela troca de
sobremesas. Logo após de comermos, o garçom traz a conta e Sue não dá tempo
para que ninguém pegue seus cartões, “quanto deu?”, grita para o garçom. Então,
ele saca duas notas de cem reais e corre para o caixa, enquanto nós insistíamos
em dividir a conta. Ao sairmos do local, ele se explica “eu que convidei, eu
que pago”.
Voltamos para o trabalho falando sobre
comida, Sue lamenta-se por um almoço com o presidente da empresa há algumas
semanas atrás, no restaurante Ráscal. Ele diz que a comida era boa, mas não
poderia valer noventa reais por cabeça. “Mesmo não tendo sido eu que paguei, o
dinheiro saiu da empresa. Dá na mesma!”.
Enquanto eu tentava
revisar algumas matérias, Sue contava sobre seus filhos e mostrava algumas
fotos deles no celular. “O mais velho tem quatro e o mais novo tem dois”,
orgulha-se o pai. O aparelho telefônico estava dentro de um saquinho plástico,
que era amarrado bem rente ao celular. Sue justifica que não quer bactérias em
sua boca quando for falar ao telefone.
Ele tem alguns
outros hábitos que são muito peculiares, como colocar azeite em uma garrafa pet
de 510 ml e tomá-lo ao longo do dia. Na empresa, ninguém entende este hábito,
mas ele não se importa e diz fazer muito bem para a saúde. Além disso, deixa em
cima da mesa um sabonete Phebo, apoiado na própria embalagem. Quando sente sua
pele oleosa, passa o sabonete na testa e limpa com um pano, que carrega sempre
no bolso da camisa.
Ele não investe
muito em roupas, admite. Na verdade, está na maioria das vezes com uma camisa
azul de mangas curtas e uma calça preta social. Usa óculos de lentes fundas com
uma cordinha atrás do pescoço para segurar. Ele tem o cabelo bem preto e poucos
fios brancos nasceram até agora.
Voltando aos hábitos
esquisitos, Sue estava com dor de garganta no dia em que nos levou ao
restaurante. Para aliviar a dor, ele comprou um tubo de xarope de 500 ml e
tomou goles do remédio até acabar. Um funcionário passou por Sue e se assustou
com a quantidade de xarope que ele havia tomado, mas o chinês respondeu “Como
você quer que eu melhore?”.
Sue me manda e-mails
esporádicos com artigos para alimentar sua coluna no site da empresa. Ele tenta
explicar suas fórmulas e conceitos de forma simples, mas confesso que não é
tarefa fácil traduzir seu economês para a linguagem das “pessoas normais”. Em
outra vez que o chinês veio nos visitar, ele disse ter inventado um produto
novo no mercado, seria como opções para fundos imobiliários, explica.
Todos os
funcionários que passavam pelo departamento de marketing recebia a notícia de
que ele havia inventado o produto e, claro, todos faziam cara de espanto por
não entenderam como funciona essa tal invenção. Ele não tem muita paciência
para explicar, e justifica-se “já está quase tudo pronto, daqui algumas semanas
você vai entender”. Sue diz que para fazer com que o produto seja aderido pelo
mercado, ele vai orar e ter muita fé em Deus.
O chinês não conta
muito sobre sua família. Perguntei sobre sua trajetória de vida e ele diz que
depois de ter respondido o desafio matemático, sua vida tornou-se diferente de
todos os outros jovens. Na escola, ele se destacava muito e, portanto, pulou
algumas séries do ensino fundamental. Aos 14 anos, estava no Chile, em um
concurso de matemática, quando a Marinha apareceu lá para levá-lo a um colégio
especial para ele.
Sue estudou o ensino
médio em um colégio da Marinha, com um ensino muito puxado e pouca vida social.
Ele diz que o mantinham afastado da sociedade com medo de que fosse
sequestrado, ou algo no gênero. Sue diz saber que não é como as outras pessoas,
mas confessa que sua fé em Deus é maior do que qualquer coisa e sua vida é
aquilo que ele mesmo desenhou.
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