Michelle
Moreira Braz dos Santos; Mi Braz, nome que assina em seus e-mails; ou simplesmente Michelle, é uma figura bastante peculiar.
Quase integrou a turma de Língua e Literatura I, do professor Marcelo Bulhões,
matéria ministrada na Unesp de Bauru. A temida aula de sábado de manhã era um
árduo dia para os futuros jornalistas unespianos e, mesmo assim, com um copo de
cappuccino na mão, ela sempre esteve presente por todo o semestre.
Era
uma pessoa discreta que ficava no canto direito da sala. Ali na frente, lugar
ocupado por quase toda sua vida escolar. O tal espaço dos chamados alunos
estudiosos. Observações à parte, as aulas faziam parte de seu estágio-docência.
Mestre em Comunicação, Michelle também cursou Rádio e TV e Jornalismo na mesma
universidade.
É natural de Taubaté, interior de São Paulo, cidade
onde seus pais ainda residem e que ela visita esporadicamente. A libriana, que
atualmente habita a província de Corunha, nasceu no dia 23 de setembro de 1988.
É filha de José Braz Santos, mais conhecido como Zico, que trabalhou parte da
sua vida como bancário e agora atua no setor empresarial; e da professora de
Língua Portuguesa, Lúcia Moreira Santos. Tem dois irmãos: o engenheiro
aeronáutico Matheus, de vinte e dois anos e a estudante da Universidade de
Morón, Milene, de vinte anos.
Michelle era uma criança tímida, responsável e com
poucos amigos. Desde pequena se interessava pelas artes. Um de seus passatempos preferidos sempre foi
a pintura e já na adolescência começou a ter aulas de piano, mas deixou de lado
a carreira musical por achar que não seria tão bem sucedida quanto desejava.
Em 2005, quando cursava o terceiro ano do Ensino
Médio, Michelle resolveu prestar vestibular para Jornalismo, devido ao seu
interesse pela parte cultural e seu maior estímulo foi o de ganhar um concurso
de redação em sua cidade natal, cujo tema era um perfil póstumo sobre Monteiro
Lobato. Apesar de não ser sua primeira opção de universidade, já que pretendia
estudar na USP, passou no vestibular da Unesp na quarta chamada e imediatamente
se mudou para a cidade de Bauru. Nunca tinha morado em outra cidade diferente.
Ao longo do curso, percebeu que não era a profissão que queria exercer para o
resto de sua vida. Durante a primeira graduação, ela se inscreveu como aluna
especial nas aulas de História da Arte, do curso de Educação Artística e lá ficou
por dois anos. Ela afirma que teve maior identificação com o pessoal das Artes
que o da Comunicação. Ao final do oitavo semestre, prestou a prova para a
pós-graduação, ainda na Unesp, e foi aprovada.
A
mestre ainda pretende publicar sua dissertação em livro. “É uma coisa inédita”,
afirma. “O estudo é sobre o escritor Guilherme de Almeida, autor de Cosmópolis.
Gostei muito. Enquanto os outros pesquisadores estudam as mídias digitais e
coisas do gênero, eu estudo a década de 30”. Inusitado.
Michelle é perfeccionista, mas diz que agora não é
tanto quanto já foi. No ano de 2010, se aventurou de novo pelo mundo
universitário, dessa vez para o curso de Radialismo. Ela escolheu o curso por
ter se identificado com a experiência de produtora teatral que teve na companhia
de teatro de seu namorado, o ator Bruno Wan-Dick. Os dois se conheceram em
situação inusitada, durante o curso de Jornalismo: ela precisava de um tapete
vermelho para a apresentação de um trabalho e Bruno foi indicado a ela como a
pessoa que poderia ajudá-la. A partir daí, eles foram se conhecendo e estão
juntos há nove anos. Michelle não gosta deixar sua vida em função de somente um
único objetivo.
Passou seis anos em Bauru “Foi muito gostoso viver
lá, vou lembrar da cidade com carinho”. Em Bauru, Michelle tinha uma mania de
ir à sorveteria Nova Delícia, próxima do residencial Camélias, toda vez que se
sentia improdutiva. Visitava o Sesc
sempre que podia e um fato inusitado é que, mesmo tendo cursado Rádio e TV, ela
não frequenta muito o cinema. Prefere fazer filmografias de determinado diretor
e assistir a um certo número de filmes em um mesmo dia. E ainda analisa o
enquadramento e as partes técnicas da película. Como a maioria dos jornalistas,
já teve o sonho dourado de viver na metrópole de São Paulo. Pensa em morar
algum dia no Rio de Janeiro ou também em Curitiba e Porto Alegre, cidades com
ciclo forte de produção audiovisual.
O
estilo de se vestir de Michelle é notável. Seu guarda-roupa é composto por
saias, vestidos, casaquinhos, peças estampadas, tudo com um toque bem feminino.
Na visita a sua casa, ela estava vestindo uma camisa azul clara, meia-calça
beterraba e uma sapatilha da Melissa, e revelou, aliás, que gosta bastante da
marca. Prefere calçar sapatinhos e quase nada de salto, “sou baixinha e já me
aceitei”, diz. Michelle tem um apreço por esmaltes e maquiagem e se realiza
quando visita uma loja de cosméticos chamada Ikesaki, no bairro da Liberdade,
em São Paulo. Seu acessório mais chamativo é uma bolsa de cor amarela, que dá
um contraste com o resto do figurino.
A
estatura dela é baixa, sua medida corpórea é de uma pessoa magra e seu peso
condiz com o tamanho. As mãos são pequenas, possíveis obstáculos na hora de
tocar piano. Seu cabelo contêm pontas loiras, é castanho escuro em essência, de
comprimento médio e não completamente liso, com algumas ondulações. Todo esse
conjunto contribui para uma harmonia em sua feição.
No
linguajar popular, Michelle seria considerada uma pessoa “arrumadinha”, “bem
cuidada”. Seus movimentos corporais são simples, delicados, uma expressão que
encaixaria seria “leve como uma pluma” e também há uma clareza no seu jeito de
falar.
Não é
a toa que seu primeiro apelido na universidade acabou se tornando “Poder”. Essa
expressão começou a ser usada por um aluno da sala 70 e que , no final das
contas, foi atribuída a ela. É pela sua elegância que conquistou a turma de
jornalismo do período noturno.
Michelle
é uma pessoa disciplinada, que traça metas para sua vida. Essa mentalidade veio
dos pais, que são exemplos de persistência. Afirma que já foi mais
perfeccionista: “Sofro com isso. Gasto muito tempo em coisas simples de serem
feitas”. Um lema que segue atualmente é confiar no acaso e acreditar no
improviso e na capacidade de burlar os obstáculos. Procura ser discreta e gosta
de fazer várias coisas ao mesmo tempo. Aprendeu o valor do lazer com seu
namorado, pois antes associava o descanso à perda de tempo e isso trazia um
sentimento de culpa a ela. Ela mesma se declara uma pessoa “camaleoa”,
“criativa” e que desde pequena tem “fome de conhecimento”.
No
discurso de encerramento da disciplina de Língua e Literatura I, ela pronunciou
que não se vê como uma jornalista ou trabalhando em um jornal diário. Ao longo
do curso, foi gradualmente perdendo o ânimo até a chegada do Trabalho de
Conclusão de Curso, tão complexo que a fez perder o encanto de vez com a
profissão jornalística. o tema de seu TCC foi o Festival de Inverno de Campos
do Jordão, nos anos de 2008 e 2009 e teve como filho, o livro-reportagem
“Desverniz”.
Um dos
motivos de ter escolhido o Jornalismo foi a vontade de trabalhar como crítica
cultural, mas diz que ainda não tem embasamento suficiente para isso. O
Jornalismo foi sua opção por promover uma interação entre várias pessoas, item
importante para ela. Embora goste de ler e escrever, Michelle já não vê a mesma
graça ao fazer entrevistas como antigamente. Não se arrepende do jornalismo, já
que o curso ensinou bastante na parte da argumentação, de defender ideias, além
de melhorar a escrita.
Em tom
de confissão, Michelle fala que não se identificava com a turma dela; veio para
a universidade para dar o seu melhor e não se preocupava com a próxima festa.
Segundo ela, isso veio do esforço de seus pais para sustentar os filhos.
Revisando o passado, não se sente culpada por não ter participado das
comemorações com o pessoal de sua sala.
Foi
para Rádio e TV por uma certa influência do namorado, Bruno, e segundo ele, ela
sempre tem um jeito de atuar na produção. A princípio, Michelle achava um
trabalho meio “operário”, mas agora encara o cargo como uma parte importante de
administração e que é crucial para fazer qualquer projeto audiovisual
funcionar. Além de ter tido contato com a parte de assessoria de imprensa,
Michelle gosta mesmo é de pesquisar.
Após
dividir a habitação com outras pessoas, ela achou o tão esperado “lar doce
lar”, um apartamento próximo ao SESC que habitou sozinha. É um lugar tranquilo
e um pouco afastado das moradias estudantis. A cor antiga do prédio tinha uma
tonalidade ao estilo do cineasta espanhol Pedro Almodóvar, conhecido pela
exuberância de cores chamativas, principalmente puxadas para o vermelho. Agora
ele está azul cintilante e de longe pode ser avistado. O apartamento de
Michelle é simples e aconchegante. Sua sala, por uma mera coincidência, também
é azul clara, combinando com o resto do edifício. Uns exemplares da Piauí estão
empilhados em um banquinho, o quadro “Noite estrelada” de Van Gogh, uma
corujinha de pelúcia, uma boneca de pano, uma televisão pequena e vários livros
estão presentes no local. Percebe-se a presença do namorado dentro do aconchego de seu lar,
mesmo ele não estando lá. Na geladeira, há uma foto de uma peça produzida pelo
mesmo e também tem um bilhetinho escrito: “Oi amor, deixei um presente na
geladeira. Bjos. Amo-te.”
Perguntada
sobre a falta de casa, Michelle disse que sente falta dos pais, mas de um modo
saudável, ou melhor dizendo, uma saudade saudável. Suas viagens de volta para a
cidade de origem têm sido escassas, mas a conversa matinal e dominical com a
mãe por telefone é sagrada.
Com
relação às redes sociais, relutou para ter um perfil na rede social Facebook,
criado em 2012. “Você pode criar facilmente um personagem de si, Tudo é
perfeito. Acho muito arriscado. Não me vejo tendo um Twitter, por exemplo. Não sei
se teria coisas legais para postar todo o dia.”
Gosta
de sorvetes de sabores extravagantes, biscoito de gergelim com chá e petiscos
japoneses. Não é muito ligada à comida, “não cozinho bem, não acho graça
nisso.” Michelle aprecia novas experiências culinárias, iria em um restaurante
tailandês sem hesitar se alguém a convidasse.
Das
pessoas que admira estão: seus pais, pois deram uma lição de capacidade de
crescer na vida. Seu namorado, que é formado em Artes Cênicas e tem uma
produtora de teatro para o público infantil. Gosta da facilidade dele em lidar
com crianças. Além de ele ter trazido uma leveza para sua vida. Seu irmão, já
que é considerado bastante “relax” e generoso. Das figuras públicas, admira o
trabalho dos documentaristas Eduardo Coutinho e João Moreira Salles.
Para
os planos futuros, pretende seguir na área de produção audiovisual,
principalmente em documentários e no cinema. Está direcionando seu doutorado
também nessa carreira.
Numa
das entrevistas, a perfilada termina com uma citação marcante de Cláudio
Abramo: “O jornalismo é, antes de tudo e, sobretudo, a prática diária da
inteligência e o exercício cotidiano do caráter.” Poder.
Nenhum comentário:
Postar um comentário