Comecei
a ter contato com minha perfilada escolhida pelo Facebook para fazer o pedido e
ir ganhando intimidade. Isso durou aproximadamente duas semanas e então
expliquei que precisava me encontrar com ela para conversamos melhor e
pessoalmente e convidei-a para vir à minha casa. Ela me passou seu número de
telefone para marcamos melhor, e então liguei para ela num sábado. Quando nos
falamos ao telefone, para a minha surpresa, ela que me convidou para ir à sua
casa, o dia e o horário que fosse melhor para mim. Escolhi segunda-feira, dia 3
de junho, pela manhã, ela topou e me passou seu endereço.
Na segunda-feira
me preparei com algumas perguntas na cabeça, minha curiosidade, meu celular,
minha câmera, uma caderneta e uma caneta. Cheguei na casa dela, toquei a
campainha e eis que aparece a minha personagem. Sandra Castro, mais conhecida
como “Pinck”. O tempo estava um pouco frio, e ela ainda estava de pijama. Uma
blusa comprida e branca, uma calça num tom rosa claro e um chinelo. Ela me
recepcionou de uma forma incrivelmente simpática e acolhedora, da mesma forma
que ela aparentava ser pelo Facebook e pelo celular.
Entrando
na casa dela tentei observar se havia alguns objetos na cor rosa. Deparei-me
com a manta do sofá num tom de rosa escuro e logo ao lado um telefone na cor
pink. Ela pediu que eu me sentasse no sofá, e eu me sentei no de dois lugares.
Ela se sentou no de três lugares, se esticou no sofá, se cobriu com a manta e comentou
sobre o frio. Com seu jeito extrovertido e comunicativo já puxou conversa
comigo e não demorou muito para engatarmos nos assuntos e nas histórias que
envolvia ela.
Sandra
sempre seguiu o exemplo da mãe, que da mesma forma que ela era envolvida com
políticas sociais, sempre tentando ajudar ao próximo. Acabou entrando no
partido do PSDB aos 17 anos, pois desde pequena se importava muito com o lado
social e sempre buscava prestar auxílios às pessoas necessitadas. Aos 19 anos
se casou com um médico boliviano, e passou a ter um gosto maior pela área da
saúde. Ela socorria pessoas que estavam doentes, sempre dava assistência às
pessoas que tinham alguma patologia e distribuía remédios, que eram caros, nas
subprefeituras e nas igrejas, para pessoas que não tinham condições de comprar.
Uma
praça que se encontra na frente da casa dela antigamente era um terreno baldio,
totalmente abandonado e onde as pessoas acabavam jogando muito lixo. As pessoas
reclamavam muito sobre a praça e numa oportunidade ela conseguiu uma matéria no
SPTV região, com o Márcio Canuto, sobre a praça. Com isso ela conseguiu
recursos e empreiteiros, de parte particular, para reformar a praça, que hoje é
muito bonita e bem conservada. Por ser bem engajada na política e por já ser
reconhecida em sua comunidade, em 2008 ela decidiu se candidatar para
vereadora, teve 1860 votos sem campanha, mas não conseguiu o cargo.
Uma
das curiosidades que não saiam da minha cabeça era sobre da onde tinha surgido
o apelido de “Pinck”, e então perguntei a ela. Ela me contou que sempre que ela
saia para fazer suas ações sociais, ela ia com uma roupa rosa e um salto alto,
inclusive andava até com umas mechas rosa no cabelo, diziam até que ela era um
“ponto cor de rosa”, a partir daí as crianças passaram a chama-la de “tia rosa”
e as pessoas a chama-la de “pink”. Foi aí que ela adotou o apelido de “pink”,
mas ela não queria que a escrita fosse igual a da cor, então ela acrescentou um “c” antes do “k” e ficou
“Pinck”. Como ela mesma disse: “Eu não sou uma cor, mas sim um estilo de
mulher”. Ela é evangélica e frequenta a
Congregação Cristã no Brasil, e até lá ela é chamada de “Pinck”, “elas sempre
me falam: A paz de Deus, irmã Pinck!”, conta ela.
Seu
carro, um Ford Ka, não escapou da cor, ele também é rosa. O carro é o xodó
dela, e não só tem cor diferente como também é tunado. Antigamente ele
simplesmente o pintou de rosa, até que o Extra – Supermercados ficou sabendo da
existência dessa figura, entrou em contato com ela e ofereceu de tunar o carro
no seu estilo, e sem dúvida ela topou. Hoje, os bancos, a marcha, o tapete, e
as luzes de baixo do carro são rosa. E ela adora sair com seu carro rosa por aí,
e todos acabam reconhecendo ela. Perguntei a ela se trocaria de carro se ela
tivesse essa oportunidade. Ela disse que já teve várias oportunidades de
comprar um carro zero, mas que ela não quis. O Ford Ka rosa é uma parte
preciosa da sua vida e ela quer ficar com ele nas mãos até morrer. Atualmente
não seria nenhuma hipótese trocar o carro ou comprar outro, mas se ela
comprasse outro carro ela certamente iria tuná-lo com a cor rosa também.
Com
relação à cor rosa, ela diz ter um tipo de fetiche com a cor, e gosta da cor
desde que ela era pequena. Seu quarto, seu guarda-roupa, alguns objetos da
casa, os sapatos, as botas, é tudo cor de rosa. Quando ela ganha presente,
normalmente é rosa, e então ela guarda com muito carinho os presentes
recebidos, como se fossem uma coleção. Ela conta que às vezes, quando ela se veste,
se sente outra mulher, uma mulher mais séria, triste e deprimida, e que aquela
mulher não é a Sandra Pinck. A Sandra Pinck que ela é se veste de forma
divertida, com a cor rosa, é simpática, engraçada, feliz e dá muita risada. Ela
diz que o rosa a transforma, e o humor dela, sempre positivamente.
De
todos os objetos e roupas rosa que ela tem, ela tem um em especial. É um lenço
de dança de ventre no tom rosa escuro, com umas medalhas douradas penduras. Ela
gosta tanto desse lenço que ela evita ao máximo usá-lo e não tem coragem de
lavar o lenço. Ela sempre foi admirada pela dança do ventre, e numa época ela
conheceu uma moça que dançava a dança do ventre pelo Facebook e resolveu ir
assisti-la numa apresentação. No dia a moça estava usando esse lenço na
apresentação, e a Sandra ficou encantadíssima. Foi aí que ela foi atrás da moça
para pedir o lenço e conseguiu, ganhou o lenço de presente da moça. Hoje ela
guarda esse lenço com muito carinho e é a peça mais especial para ela.
Ela já
foi muitas vezes julgada pelo seu estilo e jeito de se vestir, tanto pelos
próprios familiares quanto pelas pessoas de fora. O filho mais velho, Júnior,
de 21 anos acha que ela está muito velha para usar essas roupa e cores
chamativas. Quando ele tinha 15 anos já não queria mais entrar no carro pink da
mãe, pois morria de vergonha, já o amigos dele curtiam o estilo da Sandra
quando passava com seu carro na frente da escola. Já o filho mais novo, Renan,
de 11 anos, acha legal a mãe se vestir assim e a apoia, mas sente um pouco de
vergonha também. Atualmente ela está se
separando, mas quando ela era casada o marido a apoiava integralmente a usar
rosa, e quando viajava sempre trazia algum presente rosa para mimar a esposa.
Já sua mãe, apesar de gostar de rosa também e de ter orgulho ao falar da filha
e de seu estilo às amigas, ela sempre acaba dando um puxão de orelha quanto ao
uso excessivo do rosa. Por onde ela passa, as crianças adoram a Sandra e seu
jeito de se vestir. Já algumas outras pessoas criticam as roupas e o carro dela,
mas Sandra acaba relevando. Ela dá mais importância ao seu gosto e às pessoas
que a apoiam do que aos outros que a condenam pelo seu estilo exótico.
Sandra
fez um curso técnico de contabilidade, não por sua própria escolha, mas por
escolha dos pais. E um tempo depois fez graduação em contabilidade também.
Trabalhou como contadora no Unibanco, no Bradesco e em outras empresas, mas
esse trabalho não a satisfazia. Como já havia mencionado, ela acabou se
interessando pela área da saúde mais tarde. O marido a apoio em mudar de área,
e ela fez curso de enfermagem e instrumentação cirúrgica, e um tempo depois,
quando se mudou para o Mato Grosso, fez curso de massoterapia. Atualmente, além
das ações sociais que realiza, ela também trabalha como massoterapeuta, reabilitando
pacientes com AVC (Acidente Vascular Cerebral). Ela atende os pacientes em suas
próprias casas, é recomendado que o tratamento inicial seja feito uma vez por
dia, e com o passar do tempo esse
intervalo vá se alongando. Esse tratamento ajuda o paciente a reaprender a
andar, falar, sentir os objetos, e ela sente uma grande gratificação por poder
ajudar essas pessoas e em trabalhar com isso.
Com
tantas pessoas esperas tentando derrubar os fracos, como ela mesma disse, e com
tantas barbaridades que são cometidas, às vezes ela fica meio para baixo, e com
vontade de desistir de tudo. Mas aí, ela lembra que são essas pessoas que
precisam da ajuda dela, as pessoas fracas, as necessitadas, e então ela já
volta a ficar para cima, com seu ótimo bom humor. Na maioria são as crianças
que a incentivam a ficar de pé, porque são as mais carentes e indefesas. Ela
não mede esforços para ajudar seja quem for, e sua empregada, Valdenice, que a
conhece há mais de 9 anos, é prova disso. Nice, como é chamada por Sandra,
estava fazendo o almoço enquanto conversávamos na sala, e ela ia ajudando
Sandra a se lembrar das histórias. Elas são melhores amigas, porque Nice a
acompanha em todos os lugares desde que se conhecem, e ela também é um dos
pilares que não deixa Sandra desistir. Sandra conclui que ela não ganha nada
material ajudando as pessoas, mas que o verdadeiro retorno é todo o carinho e
admiração que ela recebe das pessoas.
Como
ela já havia tido contato com vários jornalistas durante sua vida, gosta muito
da parte social e de ajudar as pessoas e se diz ser xereta, perguntei se ela já
pensou em ser jornalista. Ela disse que admira muito a profissão e gosta de
“por a boca no trombone” para denunciar as coisas e falar a verdade, mas que se
ela pudesse escolher outra profissão, ela gostaria de ser assistente social,
pois ela acha que seria o melhor meio para ela poder ajudar integralmente as
pessoas necessitadas. Mas ela se diz satisfeita com tudo o que faz atualmente,
e até diz que ela é como uma vereadora, mas sem o título. Ela diz que
futuramente pretende se candidatar de novo como vereadora da cidade de São
Paulo, ou, se surgir a oportunidade, se candidatar a Deputada de Ibirá, que
fica perto de São José do Rio Preto. Caso ela se candidate mesmo, ela pretende
investir na campanha.
Toda a
conversa fluiu naturalmente e consegui as resposta para as perguntas e
curiosidades que eu tinha no momento. Eu disse que por enquanto era só, e que
eu entraria em contato novamente para marcarmos outro lugar para conversamos de
novo ela assentiu e me convidou para conhecer o guarda-roupa dela. Subimos a
escada, entrei no quarto dela, e me deparei com tudo cor de rosa, mais rosa do
havia encontrado na sala de estar. Ela me mostrou primeiramente suas botas e
sapatos, um mais rosa que o outro, e me explicou que a maioria deles foi
comprada fora do Brasil, pois é difícil encontrar essas peças por aqui. Logo
depois, ela me mostrou suas roupas, várias blusas, calças e casacos cor de
rosa, e seus olhos pareciam brilhar enquanto me mostrava as peças. Pedi para
que me mostrasse também o tal lenço cor de rosa que era tão especial, e ela
ficou muito animada. Realmente o lenço era lindo, e então pedi para tirar uma
foto dela com o lenço. Ela concordou de pronto, e foi trocar sua roupa, se
pentear e se maquiar. Parecia a personagem do desenho animado, Penélope
Charmosa, toda vestida de rosa. Então tirei algumas fotos, ela realmente
parecia empolgada com tudo aquilo.
Antes
de ir embora pedi para que ela me apresentasse seu famoso Ford Ka rosa, e com
toda a simpatia dela fomos lá. O cara era realmente como ela tinha descrevido,
tudo rosa, por dentro e por fora. Tirei algumas fotos do carro também, e dela
ao lado do seu xodó. Parecia que foram feitos um para o outro. Disse que logo
entraria em contato novamente com ela e ela se despediu de mim de um jeito
muito extrovertido.
Continuei
meu contato com ela pelo Facebook durante a semana e fomos conversando. Até que
ela me convidou para ir com na sexta-feira de tarde da mesma semana, dia 7 de
junho, para acompanhar ela numa visita a uns moradores de rua que ela já
conhecia, e eu aceitei o convite.
Na
sexta-feira apareci lá na casa dela, e ela me recebeu da mesma forma calorosa e
cheia de bom humor. Entrei na sala dela, ela perguntou se eu queria beber algo,
mas não aceitei. No mesmo instante o telefone dela tocou e ela atendeu. Era uma
amiga dela que estava precisando de sua ajuda para marcar algumas consultas
médicas. Entramos no carro rosa dela, ela ainda estava conversando com a amiga,
e o outro celular dela tocou. Ela parecia estar ligada nos 220, sempre
prestando atenção em tudo. Enquanto ela dirigia, ela ia conversando comigo,
buzinando e cumprimentando as pessoas conhecidas.
Chegamos
ao local, Parque São Domingos, descemos do carro e fomos até os moradores de
rua. Todos a reconheceram. Fomos falar primeiro com o Wilson, que era o que
morava na rua há mais tempo, cerca de 10 anos, segundo ele. Eles se conheciam
há 6 anos, e contou que a Sandra sempre esteve lá ajudando eles, ela ajudava
desde com pão com mortadela até socorrendo os moradores que passavam mal para
levar no hospital. Quando ela podia, também ajudava doando algumas roupas para
eles. Ela sentava, também comia pão com mortadela e conversava com eles. Wilson
trabalha com artesanato para ganhar alguns trocados e diz que o que mais ele
admira na Sandra é a sua simplicidade, por estar ali ao deles e ajudando eles,
mesmo que moralmente.
Também
falamos um pouco com o Luís, que era o mais antigo conhecido dela de lá. Eles
se conheciam há 10 anos. Ele deu um forte abraço em Sandra e depois foi
perambular por lá, mas Sandra contou que ele já passou por muitas coisas. Tinha
uma época que ele bebia muito, e Sandra sempre tentou afastar ele desse vício.
Ela relata que quando ele está sóbrio ele é uma pessoa muito boa e educada.
Logo depois ele reapareceu de novo, conversou um pouco com a Sandra e até
chegaram a dar uns passinhos de dança.
Todos
os moradores de rua de lá foram muito simpáticos comigo e com a Sandra, e
especialmente carinhosos com ela. Eles me contaram um pouco sobre sua vida e
seus sufocos, como fazem para se virar, sobre a simpatia e a consideração que
eles têm pela Sandra e que ela é uma figura muito divertida e está sempre
sorrindo, independente de quem você seja.
Quando
estávamos indo embora, ela me convidou para ir à casa da mãe dela e como eu
estava com tempo aceitei. A mãe dela, Dona Terezinha era tão simpática como ela
e tinha um grande sorriso estampado no rosto. Pedi para que ela me contasse
algo que a Sandra tinha feito que marcou ela e ela me contou. Estava Dona
Terezinha, a Sandra e seu filho, Júnior, que ainda era pequeno, no carro. O dia
estava muito frio e ela viu umas pessoas dormindo na rua, entre elas uma
criança. Então ela tirou a roupa do próprio filho para vestir a criança. Isso
foi algo que marcou muito ela. E ela se orgulha da generosidade e da bondade da
filha.
Quando
já era hora de eu ir embora, Sandra me ofereceu uma carona até minha casa e
aceitei para poder conversar mais um pouco com ela. Fomos conversando e no meio
do caminho ela colocou um CD para tocar. Com orgulho ela explicou que ela mesma
tinha baixado as músicas, que faziam parte do passado dela e que ela gostava
muito, e ele que tinha gravado também as músicas no CD. Fomos ouvindo as
músicas até o caminho da minha casa e íamos conversando também. Quando chegamos
nos despedimos e agradeci ela pelo tempo que ela dispôs a mim e pela ajuda. Ela
disse que qualquer coisa que eu precisasse mesmo que não fosse de trabalho eu
podia recorrer a ela. E ela foi embora no Ford Ka rosa dela e com um belo
sorriso no rosto.
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