Narrador de emoções
Ari Ferreira de Aguiar, ou Ari Aguiar,
é narrador dos canais ESPN. Nascido no dia 11 de dezembro de 1980, estudou na
Universidade FUMEC, onde se formou em jornalismo no ano de 2003. Conforme ele
mesmo diz no seu perfil do site dos canais ESPN: “Sou, como todos, um fã do
esporte também”. Fanático por futebol, e apaixonado pelos mais diversos
esportes no mundo, Ari se tornou um dos narradores mais versáteis do país,
narrando esportes que vão do hóquei ao ciclismo. Com um caráter exemplar e um
senso jornalístico muito apurado, Ari Aguiar já provou ser um grande
profissional, e também provou que ainda tem um longo futuro de muitas
contribuições tanto para o jornalismo, quanto para os seus ouvintes, que não
economizam nos elogios a esse já mestre da narração.
Conheci o Ari em um sábado. Já havia
entrado em contato com o narrador algumas vezes por meio de rede sociais,
sempre mandava abraços para ele em suas transmissões da NHL, a National Hockey
League, principal e maior liga de hóquei do mundo, meu esporte preferido. Em um
dia desses, mandei um tweet para ele, perguntando se poderia ir assistir a uma
transmissão de hóquei. Recebi uma resposta animadora: “me passa seu e-mail que
a gente vê direito”.
Eis que chegou esse sábado citado acima.
Cheguei na ESPN com algumas dezenas de minutos de antecedência, e fui
recepcionado pelo próprio Ari. De bermuda branca, tênis e uma camiseta laranja,
me recebeu timidamente, apertando minha mão e me apresentado à redação da ESPN.
Tratava seus companheiros de trabalho com respeito, mas com a comodidade típica
de amigos. Afinal, como já me disse, a ESPN tem a redação mais feliz do Brasil,
todos lá são amigos e gostam do que fazem. Com alguns minutos sobrando para o
começo da transmissão, o mineiro colhia as últimas informações que lhe seriam
úteis, em sua mesa da redação que não aglomerava muita coisa, diferente de
outras mesas abarrotadas de livros e papeis.
Subimos para que ele e seu companheiro
de transmissão, Thiago Simões, pudessem se maquiar para entrarem ao vivo em
alguns minutos. Após um certo conflito para ver quem vestiria a camisa rosa,
enquanto o outro ficaria com uma azul bem mais discreta, Ari se sentou para que
produtos fossem aplicados à sua pele. “Meio estranho isso, né?” comentou para
mim.
Fomos para o estúdio de transmissão.
Ari, ainda vestindo bermuda, deixou o toddynho que tomara atrás do balcão em
que sentaria atrás para entrar ao vivo. Claramente, não se importava com o que
ficava fora das câmeras, o que era tampado pela grande bancada da ESPN.
Conhecia cada um dos poucos que ficavam dentro do estúdio, desde o produtor
Tuca Moraes, com quem brincava que o jogo poderia demorar mais do que o normal
caso o empate persistisse, até os câmeras, entre eles o Ceará, por quem
demonstrava uma afetividade maior. “Cearense cabeçudo” brincava Ari.
Sendo filmado por três câmeras, suas
expressões mudam significativamente, tomando um semblante mais serio e
profissional, porém bastante original. E quando as câmeras se desligam, e o
foco se volta para as imagens geradas diretamente do jogo, a face relaxa, e
tudo é transmitido apenas pelo microfone a sua frente. Relatando as imagens a
sua frente com perfeição, Ari parece aproveitar poucas coisas tanto quanto
narrar um jogo. Seus olhos percorrem todos os cantos das duas televisões a sua
frente, e mudam de foco por vezes quando ele verifica alguma coisa em seu
computador.
A parceria com Thiago, comentarista do
jogo, flui bem. Ari é uma pessoa de fácil comunicação, que sabe lidar com as
pessoas a sua volta, principalmente, sabe trabalhar com profissionais. Sabe
brincar muito bem, também. “Ele parece o McLovin, não parece?” fazendo uma
referência ao menino nerd do filme Superbad. De fato, parece. Ele quase aderiu à
ideia de me dar um apelido também, logo esquecido por um acontecimento
importante no jogo que requereu sua atenção.
Após o final do jogo, as despedidas. Distribuiu
alguns “até amanhã”, e deseja a todos os que trabalharam com ele naquela noite
um bom descanso. Afinal, todos os que estavam ali são companheiros de trabalho,
e merecem o devido respeito. Respeito e afetividade que demonstra com sua
mulher, com quem fala por telefone: “Oi, meu anjo. To indo praí já já.”.
Bem humorado, apesar do cansaço e da hora
já bastante avançada do dia, se despede de mim com um sorriso. Agradeço a ele
por me receber tão bem na redação, e ele faz questão de me lembrar de que é uma
pessoa como eu, que não tem poderes maiores.
Procurando descobrir mais da
personalidade de Ari, procuro-o para agendar uma entrevista. Recebo uma
resposta positiva, e sugiro a padaria Real, bastante próxima da ESPN, e famosa
por receber um grande número de narradores e comentaristas de futebol famosos,
além de astros da música brasileira que vão passar na MTV, que também se
localiza ao lado da padaria.
Chego mais cedo, como de costume. Após
alguns minutos, Ari chega, vestido de maneira parecida com a que estava na
noite em que fui acompanhar o jogo na ESPN. Desta vez de calça, usa os mesmos
óculos que usa em todos os momentos de seu dia, os mesmos tênis e uma camiseta
simples. Senta-se, pede uma coca cola, e já logo começamos o bate papo.
Perguntado sobre seu tio, o já falecido
ex-jogador do Santos, Formiga, Ari realça sua importância não só para ele, mas
também para sua família: “O Tio Formiga era o grande ídolo da família, era o
nosso ídolo particular. Todos aprenderam a gostar muito do futebol”. “A história
do Tio Formiga é muito bonita. Ele sustentou meu avô, minha avó e todos os
irmãos. Ele pagou uns cursos pro meu pai para que ele pudesse cursar uma
faculdade, então toda a família era muito grata a ele”.
Ari é bastante versátil. Cobre os mais
diversos tipos de esportes, e se diz fanático por todos os esportes, como
baseball, futebol americano, basquete. “Tudo que passava eu assistia.
Antigamente tinha o ESPN Outdoor, tinha pescaria, aqueles caras que corriam em
cima de troncos na água, tiro no prato, ginástica olímpica, vôlei
universitário, hipismo, passava tudo isso no sábado de manhã e eu assistia
tudo. E não tinha como, eu assistia e aprendia, e até hoje eu adoro essas
coisas. Qualquer esporte que tá na minha frente, eu assisto”.
Contando sobre suas primeiras
experiências como narradoras, Ari tem alguns casos interessantes, e até
engraçados para quem ouve. “O primeiro jogo que eu narrei foi América e
Criciúma, na série B, no Independência. Foi uma coisa fenomenal. A melhor
sensação que eu já senti na vida. O dia que eu narrei o primeiro jogo na ESPN
foi muito bom, mas eu ainda acho que o primeiro jogo que eu narrei lá no
Independência, numa terça feira a noite, foi o dia mais emocionante da minha
vida. O jogo foi 1 a 1, eu errei o nome dos dois jogadores que fizeram os gols,
não acertava o nome de ninguém que pegava na bola, por aquela transmissão
ninguém me contrataria, foi o pior teste do mundo”.
“Teve o dia em que eu fui fazer o meu
primeiro teste pra ESPN, também. No dia eu tava monstramente nervoso, e depois
do teste eles disseram que “depois a gente dá uma resposta”, e aquilo acabou comigo,
fiquei pensando “quando esses caras vão me ligar”. Eu fiz um teste só de
futebol, e eu não fui bem”. “Eles me chamaram pra fazer outro teste, de outros
esportes. Dessa vez não me pagaram nada, mas eu fui fazer. Quando eu fiz, me
disseram a mesma coisa: “a gente te liga”. E eu pensei que eles não iriam me
ligar nunca, porque eu não tinha ido bem de novo, tava nervoso e etc.”.
“Depois me ligaram dizendo que o chefe
da ESPN queria falar comigo. E o Trajano me disse no jeitão dele, três meses de
teste, se você for bom você continua, se não você vai embora. E eu tô ai até
hoje”.
Essa diversidade de esportes que o
mineiro cobre gera limitações em seu trabalho. Sobre a dificuldade de se
atualizar em tanta coisa, Ari fala: “Eu não me atualiza em nada direito. É
sempre as principais manchetes do ESPN, google reader, mas se eu fosse me
aprofundar em tudo eu não teria vida. Ficaria na frente do computador o dia
inteiro vendo notícia, porque a circulação de notícias virou um negócio maluco.
Hoje você tem que ser prático”. “Hoje é melhor saber o basicão de tudo, do que
me aprofundar em uma coisa e deixar outra de lado, porque pro meu trabalho, o
que eu me dispus a fazer, eu não posso.”
Ari começou a sua vida no rádio, e hoje
trabalha em uma das maiores emissoras televisivas do mundo. Quando perguntado
sobre a sua transição da rádio para a TV, é bastante sincero: “Eu nunca fui bom
na rádio. Eu quebrava o galho, tanto que eu nunca consegui nada na rádio em BH.
Tentei, levei gravações, mas eu nunca fui bom. Minha voz não é grave, o que não
ajudou, eu tinha que ter investido mais nisso. Mas a televisão foi muito mais
fácil de me adaptar do que para o rádio, porque a televisão tem a imagem para
te ajudar, diferentemente do rádio. Foi muito fácil”.
Pulando um pouco do profissionalismo
para a vida pessoal, o narrador não tem medo de esconder algumas coisas.
Nascido em BH, as relações que teve que deixar para trás parecem ainda machucar
um pouco. “Minha mulher diz que eu sou muito mimado, e sair de perto da minha
mãe foi muito difícil, apesar de já ser um pouco velho. Mas eu senti mesmo
falta dos meus amigos, porque eles são meus amigos há muito tempo, desde que eu
me conheço por gente. Tem cinco caras que eu encontrava todo dia, reunia na
casa de alguém pra fazer um som, apesar de eu não tocar nada, e hoje eu vejo
eles ainda falando sobre se encontrar via twitter, facebook, e eu acho
complicado. Era uma convivência de todo dia, o tempo inteiro, e hoje são todos
casados, um é advogado, engenheiro, antropólogo. Foi difícil sair dessa rotina
que eu tinha com eles, mas você vai se adaptando, não tem jeito. Mas agora eu me acostumei, eu vou pra lá, eles vem, não é
uma dependência completa”.
O lado da mudança teve seu lado bom, no
entanto. “São Paulo é muito melhor do que BH para trabalhar. Eu nunca teria um
emprego bom como o que eu tenho em BH. Um emprego bom em São Paulo, em BH seria
o máximo, o melhor, comparando as duas realidades. Sair de lá, profissionalmente,
foi muito bom”.
“Aqui eu conheci minha mulher, casei, então
São Paulo foi muito bom pra mim, mas nos primeiros seis meses, um ano, foi
difícil. No começo eu morei com a minha irmã e foi bom, mas depois que eu fui
morar sozinho, eu tava sozinho porque eu não tinha amigos, eu não conseguia
fazer amigos. Eu saia com o pessoal, mas não era a mesma coisa. Depois que eu
conheci a minha mulher, eu namorava e não ficava mais sozinho. E conforme os
dois lados cresciam, tanto eu como meus amigos, a gente se via mais. Hoje eu
não troco SP por BH, mas nem por baixo de tiro. Nem com um emprego garantido”.
Para terminar a entrevista, Ari revela
sua principal meta profissional: “As Olimpíadas. Mais do que eu quero narrar
uma Copa do Mundo. Copa do Mundo seria pra curtir, ver o clima, mais do que ir
para trabalhar. Mas as Olímpiadas eu queria cobrir, ficar os 15 dias, e sentir
o trabalho de 20 horas por dia, que deve ser muito legal. Lá tem muito
trabalho, mas tem a parte boa de você viver o dia a dia, de sentir o clima.
Isso eu tenho muita vontade. No Brasil eu vou estar aqui, e acho que a próxima
será só em 2020, já que eu não vou cobrir essa de Londres. Acho que muita gente
ficaria frustrado por não ter sido relacionado ainda, mas eu ainda acho que sou
novo, no começo da carreira, tem muita coisa pra acontecer e que eu tenho que
aprender”.
Ari Aguiar é uma excelente pessoa, e um
excelente profissional. Apaixonado pelo que faz, pelos seus amigos e sua
família, é difícil não criar admiração pelo narrador. Sabe tratar todas as
pessoas ao seu redor da maneira correta, independente de sua relação com elas.
Uma pessoa conhecida, mas que merece ser mais reconhecido pelo seu talento, e
pela sua personalidade, um tanto quanto rara no meio jornalístico.
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