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domingo, 16 de junho de 2013

Perfil - Lucas Hanashiro


Narrador de emoções



Ari Ferreira de Aguiar, ou Ari Aguiar, é narrador dos canais ESPN. Nascido no dia 11 de dezembro de 1980, estudou na Universidade FUMEC, onde se formou em jornalismo no ano de 2003. Conforme ele mesmo diz no seu perfil do site dos canais ESPN: “Sou, como todos, um fã do esporte também”. Fanático por futebol, e apaixonado pelos mais diversos esportes no mundo, Ari se tornou um dos narradores mais versáteis do país, narrando esportes que vão do hóquei ao ciclismo. Com um caráter exemplar e um senso jornalístico muito apurado, Ari Aguiar já provou ser um grande profissional, e também provou que ainda tem um longo futuro de muitas contribuições tanto para o jornalismo, quanto para os seus ouvintes, que não economizam nos elogios a esse já mestre da narração.

Conheci o Ari em um sábado. Já havia entrado em contato com o narrador algumas vezes por meio de rede sociais, sempre mandava abraços para ele em suas transmissões da NHL, a National Hockey League, principal e maior liga de hóquei do mundo, meu esporte preferido. Em um dia desses, mandei um tweet para ele, perguntando se poderia ir assistir a uma transmissão de hóquei. Recebi uma resposta animadora: “me passa seu e-mail que a gente vê direito”.

Eis que chegou esse sábado citado acima. Cheguei na ESPN com algumas dezenas de minutos de antecedência, e fui recepcionado pelo próprio Ari. De bermuda branca, tênis e uma camiseta laranja, me recebeu timidamente, apertando minha mão e me apresentado à redação da ESPN. Tratava seus companheiros de trabalho com respeito, mas com a comodidade típica de amigos. Afinal, como já me disse, a ESPN tem a redação mais feliz do Brasil, todos lá são amigos e gostam do que fazem. Com alguns minutos sobrando para o começo da transmissão, o mineiro colhia as últimas informações que lhe seriam úteis, em sua mesa da redação que não aglomerava muita coisa, diferente de outras mesas abarrotadas de livros e papeis.

Subimos para que ele e seu companheiro de transmissão, Thiago Simões, pudessem se maquiar para entrarem ao vivo em alguns minutos. Após um certo conflito para ver quem vestiria a camisa rosa, enquanto o outro ficaria com uma azul bem mais discreta, Ari se sentou para que produtos fossem aplicados à sua pele. “Meio estranho isso, né?” comentou para mim.

Fomos para o estúdio de transmissão. Ari, ainda vestindo bermuda, deixou o toddynho que tomara atrás do balcão em que sentaria atrás para entrar ao vivo. Claramente, não se importava com o que ficava fora das câmeras, o que era tampado pela grande bancada da ESPN. Conhecia cada um dos poucos que ficavam dentro do estúdio, desde o produtor Tuca Moraes, com quem brincava que o jogo poderia demorar mais do que o normal caso o empate persistisse, até os câmeras, entre eles o Ceará, por quem demonstrava uma afetividade maior. “Cearense cabeçudo” brincava Ari.

Sendo filmado por três câmeras, suas expressões mudam significativamente, tomando um semblante mais serio e profissional, porém bastante original. E quando as câmeras se desligam, e o foco se volta para as imagens geradas diretamente do jogo, a face relaxa, e tudo é transmitido apenas pelo microfone a sua frente. Relatando as imagens a sua frente com perfeição, Ari parece aproveitar poucas coisas tanto quanto narrar um jogo. Seus olhos percorrem todos os cantos das duas televisões a sua frente, e mudam de foco por vezes quando ele verifica alguma coisa em seu computador.

A parceria com Thiago, comentarista do jogo, flui bem. Ari é uma pessoa de fácil comunicação, que sabe lidar com as pessoas a sua volta, principalmente, sabe trabalhar com profissionais. Sabe brincar muito bem, também. “Ele parece o McLovin, não parece?” fazendo uma referência ao menino nerd do filme Superbad. De fato, parece. Ele quase aderiu à ideia de me dar um apelido também, logo esquecido por um acontecimento importante no jogo que requereu sua atenção.

Após o final do jogo, as despedidas. Distribuiu alguns “até amanhã”, e deseja a todos os que trabalharam com ele naquela noite um bom descanso. Afinal, todos os que estavam ali são companheiros de trabalho, e merecem o devido respeito. Respeito e afetividade que demonstra com sua mulher, com quem fala por telefone: “Oi, meu anjo. To indo praí já já.”.

Bem humorado, apesar do cansaço e da hora já bastante avançada do dia, se despede de mim com um sorriso. Agradeço a ele por me receber tão bem na redação, e ele faz questão de me lembrar de que é uma pessoa como eu, que não tem poderes maiores.

Procurando descobrir mais da personalidade de Ari, procuro-o para agendar uma entrevista. Recebo uma resposta positiva, e sugiro a padaria Real, bastante próxima da ESPN, e famosa por receber um grande número de narradores e comentaristas de futebol famosos, além de astros da música brasileira que vão passar na MTV, que também se localiza ao lado da padaria.

Chego mais cedo, como de costume. Após alguns minutos, Ari chega, vestido de maneira parecida com a que estava na noite em que fui acompanhar o jogo na ESPN. Desta vez de calça, usa os mesmos óculos que usa em todos os momentos de seu dia, os mesmos tênis e uma camiseta simples. Senta-se, pede uma coca cola, e já logo começamos o bate papo.

Perguntado sobre seu tio, o já falecido ex-jogador do Santos, Formiga, Ari realça sua importância não só para ele, mas também para sua família: “O Tio Formiga era o grande ídolo da família, era o nosso ídolo particular. Todos aprenderam a gostar muito do futebol”. “A história do Tio Formiga é muito bonita. Ele sustentou meu avô, minha avó e todos os irmãos. Ele pagou uns cursos pro meu pai para que ele pudesse cursar uma faculdade, então toda a família era muito grata a ele”.

Ari é bastante versátil. Cobre os mais diversos tipos de esportes, e se diz fanático por todos os esportes, como baseball, futebol americano, basquete. “Tudo que passava eu assistia. Antigamente tinha o ESPN Outdoor, tinha pescaria, aqueles caras que corriam em cima de troncos na água, tiro no prato, ginástica olímpica, vôlei universitário, hipismo, passava tudo isso no sábado de manhã e eu assistia tudo. E não tinha como, eu assistia e aprendia, e até hoje eu adoro essas coisas. Qualquer esporte que tá na minha frente, eu assisto”.

Contando sobre suas primeiras experiências como narradoras, Ari tem alguns casos interessantes, e até engraçados para quem ouve. “O primeiro jogo que eu narrei foi América e Criciúma, na série B, no Independência. Foi uma coisa fenomenal. A melhor sensação que eu já senti na vida. O dia que eu narrei o primeiro jogo na ESPN foi muito bom, mas eu ainda acho que o primeiro jogo que eu narrei lá no Independência, numa terça feira a noite, foi o dia mais emocionante da minha vida. O jogo foi 1 a 1, eu errei o nome dos dois jogadores que fizeram os gols, não acertava o nome de ninguém que pegava na bola, por aquela transmissão ninguém me contrataria, foi o pior teste do mundo”.

“Teve o dia em que eu fui fazer o meu primeiro teste pra ESPN, também. No dia eu tava monstramente nervoso, e depois do teste eles disseram que “depois a gente dá uma resposta”, e aquilo acabou comigo, fiquei pensando “quando esses caras vão me ligar”. Eu fiz um teste só de futebol, e eu não fui bem”. “Eles me chamaram pra fazer outro teste, de outros esportes. Dessa vez não me pagaram nada, mas eu fui fazer. Quando eu fiz, me disseram a mesma coisa: “a gente te liga”. E eu pensei que eles não iriam me ligar nunca, porque eu não tinha ido bem de novo, tava nervoso e etc.”.

“Depois me ligaram dizendo que o chefe da ESPN queria falar comigo. E o Trajano me disse no jeitão dele, três meses de teste, se você for bom você continua, se não você vai embora. E eu tô ai até hoje”.

Essa diversidade de esportes que o mineiro cobre gera limitações em seu trabalho. Sobre a dificuldade de se atualizar em tanta coisa, Ari fala: “Eu não me atualiza em nada direito. É sempre as principais manchetes do ESPN, google reader, mas se eu fosse me aprofundar em tudo eu não teria vida. Ficaria na frente do computador o dia inteiro vendo notícia, porque a circulação de notícias virou um negócio maluco. Hoje você tem que ser prático”. “Hoje é melhor saber o basicão de tudo, do que me aprofundar em uma coisa e deixar outra de lado, porque pro meu trabalho, o que eu me dispus a fazer, eu não posso.”

Ari começou a sua vida no rádio, e hoje trabalha em uma das maiores emissoras televisivas do mundo. Quando perguntado sobre a sua transição da rádio para a TV, é bastante sincero: “Eu nunca fui bom na rádio. Eu quebrava o galho, tanto que eu nunca consegui nada na rádio em BH. Tentei, levei gravações, mas eu nunca fui bom. Minha voz não é grave, o que não ajudou, eu tinha que ter investido mais nisso. Mas a televisão foi muito mais fácil de me adaptar do que para o rádio, porque a televisão tem a imagem para te ajudar, diferentemente do rádio. Foi muito fácil”.

Pulando um pouco do profissionalismo para a vida pessoal, o narrador não tem medo de esconder algumas coisas. Nascido em BH, as relações que teve que deixar para trás parecem ainda machucar um pouco. “Minha mulher diz que eu sou muito mimado, e sair de perto da minha mãe foi muito difícil, apesar de já ser um pouco velho. Mas eu senti mesmo falta dos meus amigos, porque eles são meus amigos há muito tempo, desde que eu me conheço por gente. Tem cinco caras que eu encontrava todo dia, reunia na casa de alguém pra fazer um som, apesar de eu não tocar nada, e hoje eu vejo eles ainda falando sobre se encontrar via twitter, facebook, e eu acho complicado. Era uma convivência de todo dia, o tempo inteiro, e hoje são todos casados, um é advogado, engenheiro, antropólogo. Foi difícil sair dessa rotina que eu tinha com eles, mas você vai se adaptando, não tem jeito. Mas agora eu me acostumei, eu vou pra lá, eles vem, não é uma dependência completa”.

O lado da mudança teve seu lado bom, no entanto. “São Paulo é muito melhor do que BH para trabalhar. Eu nunca teria um emprego bom como o que eu tenho em BH. Um emprego bom em São Paulo, em BH seria o máximo, o melhor, comparando as duas realidades. Sair de lá, profissionalmente, foi muito bom”.

“Aqui eu conheci minha mulher, casei, então São Paulo foi muito bom pra mim, mas nos primeiros seis meses, um ano, foi difícil. No começo eu morei com a minha irmã e foi bom, mas depois que eu fui morar sozinho, eu tava sozinho porque eu não tinha amigos, eu não conseguia fazer amigos. Eu saia com o pessoal, mas não era a mesma coisa. Depois que eu conheci a minha mulher, eu namorava e não ficava mais sozinho. E conforme os dois lados cresciam, tanto eu como meus amigos, a gente se via mais. Hoje eu não troco SP por BH, mas nem por baixo de tiro. Nem com um emprego garantido”.

Para terminar a entrevista, Ari revela sua principal meta profissional: “As Olimpíadas. Mais do que eu quero narrar uma Copa do Mundo. Copa do Mundo seria pra curtir, ver o clima, mais do que ir para trabalhar. Mas as Olímpiadas eu queria cobrir, ficar os 15 dias, e sentir o trabalho de 20 horas por dia, que deve ser muito legal. Lá tem muito trabalho, mas tem a parte boa de você viver o dia a dia, de sentir o clima. Isso eu tenho muita vontade. No Brasil eu vou estar aqui, e acho que a próxima será só em 2020, já que eu não vou cobrir essa de Londres. Acho que muita gente ficaria frustrado por não ter sido relacionado ainda, mas eu ainda acho que sou novo, no começo da carreira, tem muita coisa pra acontecer e que eu tenho que aprender”.

Ari Aguiar é uma excelente pessoa, e um excelente profissional. Apaixonado pelo que faz, pelos seus amigos e sua família, é difícil não criar admiração pelo narrador. Sabe tratar todas as pessoas ao seu redor da maneira correta, independente de sua relação com elas. Uma pessoa conhecida, mas que merece ser mais reconhecido pelo seu talento, e pela sua personalidade, um tanto quanto rara no meio jornalístico. 

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