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domingo, 16 de junho de 2013

Perfil - Beatriz Coppi


Suco de fatos


“Quer tomar um suco de fatos?”. É o que Bruno de Abreu Bataglin, o objeto desse perfil, costuma dizer antes de fazer antes de uma piada ou um trocadilho tipicamente interessante. Isso depois de a famigerada frase ter sido a piada em ums das edições do Quinto Quarto, da Rádio Gazeta AM, em uma época na qual o programa ainda não era apresentado por ele. Estudante de jornalismo do último ano da Faculdade Cásper Líbero e estagiário há quase um ano e meio na Gazeta Esportiva, ele se descreve no twitter da seguinte forma: “Estudante de Jornalismo da Cásper Líbero. Amante de esportes e do bom jornalismo. Palestrino de coração. Torcedor do Arsenal e do New Orleans Saints.”
Apesar do empurrãzinho das mídias digitais, falar de alguém próximo é quase tão difícil quanto falar de nós mesmos. Enquanto no segundo caso, o objetivo costuma ser nos enaltecer sem passar do tênue limite da arrogância, no primeiro a preocupação é outra: conseguirei deixar meu personagem satisfeito? A minha vítima neste texto, graças ao bom Deus, não é meu parente. “Graças ao bom Deus” por um motivo simples: é meu namorado. Ou seja, se fosse parente, isso seria, no mínimo, estranho, mas enfim.
Umas das coisas que ele mais gosta, mas muito mesmo, é futebol americano. Acompanha todos os jogos, inclusive depois que o New Orleans Saints é eliminado. Mas isso nem sempre acontece, tanto que venceu o Superbowl em 2009, a 43ª edição da grande final da NFL (National Football League). A foto do astro do time, Drew Brees, comemorando o título ainda está como papel de parede em seu computador. Fora os jogos, ainda observa diariamente as notícias não só do site oficial (NFL.com), mas também no portal da ESPN, brasileira e norte americana, e Yahoo Sports. Esse interesse foi a principal causa do surgimento do programa Quinto Quarto. Apesar de também falar das outras ligas (NBA, MLB e NHL), o esporte da bola oval é o que mais lhe instiga a sempre pesquisar não só nos sites de notícias, mas em livros oficiais da liga e DVDs.
Ao contrário do que diz o jargão popular para se referir a pessoas apressadas (“nasceu de sete meses?”), ele não é apressado, mas, de acordo com seu tio, Luís Gustavo de Abreu, ele nasceu de seis. Além do tio, sua mãe e avó confirmam a informação, mas Bruno diz se lembrar de ter nascido de sete. O que introduz uma de suas várias qualidades: o senso de humor, além de uma memória perfeita. Ter nascido tão adiantado fez com que nascesse muito frágil, tanto que um de seus pulmões funciona com apenas 50% da capacidade (é como se ele tivesse um pulmão e meio).
Mas isso não o impediu de ser chamado de ‘Matador’, por seu grande talento futebolístico. Um dos maiores ídolos do time em que joga na Faculdade (também um dos maiores da história), o JoBelo. Sim, caro leitor, trata-se de uma caríssima homenagem ao famoso cantor de pagode. O camisa 13 ganhou o apelido carinhoso dele mesmo, no começo do primeiro ano. Quando os meninos da sala passavam uma lista para que os futuros jogadores do time da sala colocassem as respectivas posições, Bruno escreveu: ‘atacante (matador)’. Dia 8 de maio deste ano, inclusive, de acordo com a página oficial do time no Facebook, ele ficou um bom tempo dando entrevistas por causa um grande drible que conseguiu realizar no jogo contra o JoBalotelli (time do 1º JoB de 2013). Não vi, mas confio no Fellipe Lucena, assessor de imprensa do clube casperiano.
Ainda de acordo com o astro Matador, “se tivesse treinado a vida toda, com certeza estaria na Seleção Brasileira. Tenho talento para todos os esportes”. De fato, o personagem deste texto diz isso sobre basquete, futsal, futebol e, inclusive, sinuca. E ainda me pergunta se, apesar de que levaria uma vida diferente, caso coincidisse de a gente também se conhecer, iria ver os jogos. Risos  e ironias à parte, sempre respondo que sim. Afinal, como namorada e escritora do primeiro perfil sobre ele, minha função é fazê-lo continuar falando e dar apoio em seus sonhos e aspirações.
Esse brilhantismo torna um desafio falar de seu senso de humor sem ser redundante. Mas a sorte desta pessoa que lhes escreve é que suas qualidades não se resumem às piadas (quase) sempre excelentes. É uma pessoa que luta pelo que quer, por mais que não seja tão fácil quanto pode parecer. Começou a estagiar no começo do terceiro ano, na Gazeta Esportiva, uma agência de notícias esportivas da Fundação Cásper Líbero. Apesar da bolsa integral e do vale-refeição, desde o começo do contrato, ele trabalha à noite. Assim, por mais que tenha que acordar cedo no dia seguinte para manter sua excelência acadêmica, apenas chega em casa, quando cedo, às 23 horas e meia.
Assim, em grande parte do tempo, ele anda com sono. Muito sono. Afinal, como a gente sempre vê no Facebook, nada como estar na nossa caminha, com o nosso travesseiro e, de quebra, uma mantinha. Mas nosso perfilado vai além dessa imagem. Ele é uma pessoa que gosta de dormir. Deitou, dormiu. Mas dorme feliz e sonha. De vez em quando, vêm alguns pesadelos, como quando sonhou que tinha sido sequestrado na garagem da casa em que morava quando era pequeno. Foi jogado dentro do porta-malas e, apesar de dizer não lembrar de muita coisa, é um dos poucos sonhos dos quais se lembra.
Tão sonhador e romântico que, quando perguntei as condições para o perfil ser aprovado, fez questão que eu ressaltasse um dos dias mais felizes de sua vida: quando me conheceu. Confesso que, neste dia, ele me surpreendeu. Não sei se bate com a imagem de quem o vê andando pela faculdade, mas achava que devia ser uma pessoa simpática e expansiva, completamente seguro de si. Mas, no dia 1º de setembro do ano passado, vi seu lado mais tímido,  sem abater a simpatia, mas de um jeito diferente. Muito sincero, já deixou claro a que tinha vindo: “Gosto de você”. Apesar de na hora ter duvidado, depois me deixei levar, sem saber exatamente o porquê. Tanto que agora Bruno se tornou meu perfilado.
A proposta do perfil foi feita pelo chat do Facebook, já que, quando tive a ideia, ele estava trabalhando. Nessa conversa, aprendi uma grande e preciosa lição. Apesar de a imparcialidade ser uma tradição jornalística, dependendo do caso, um apelo um pouco mais emocional é essencial:
– Hahahahhahahah, ai meu Deus. Tem tantas pessoas interessantes para você perfilar...
– Porque escolhi você: pelo desafio de perfilar alguém tão próximo a mim, porque você de fato é uma pessoa excepcional por motivos que, se eu ainda não te convenci, o farei quando for a primeira pessoa a ler o trabalho e, porque vou ficar famosa por ter feito o primeiro perfil do melhor jornalista de todos os tempos. Preciso de mais algum ou está bom?
– Ok, me convenceu.
Também gosta de filmes sangrentos. Um adjetivo um tanto sutil, considerando seu principal gosto cinematográfico. Quando assistiu “Mercenários 2” no cinema, saiu da sala dizendo que “faltou um pouco de sangue.” Uma pequena observação é que aparecem cabeças sendo cortadas e membros voando (como braços e pernas). Enquanto isso, planeja ir à estreia de “Universidade Monstros” (a continuação do sucesso “Monstros SA”, de 2001), cuja história acontece antes do primeiro filme. E, além disso, acha graça em algumas comédias românticas, como “A Verdade Nua e Crua.”
Porém, sua complexidade, senso de humor e ironia nem sempre são compreendidos. Todos os anos, acontece a Cervejada dos Bixos, primeira festa da Faculdade Cásper Líbero, com ingressos muito concorridos e que esgotam muito rápido. Na dúvida se ia ou não, decidiu comprar os ingressos e, em cima da hora, decidiu não ir mais. Como havia muita gente pedindo para comprá-los, decidiu, de brincadeira, leiloá-los. Criou um evento no Facebook, com local em Tijuana (MEX) e lance mínimo de 100 reais.  Partindo do pressuposto de que ninguém acreditaria na cobrança de uma centena de dinheiros para ir na cervejada ou, muito menos, que teira de ir para Tijuana atrás de ingressos. Mas várias pessoas não entenderam e começaram a hostilizar Bruno e o evento, usando nomes que seriam impróprios para este veículo. Chamaram-no, inclusive, de estudante de uma faculdade rival da Cásper nos esportes, da qual alguns alunos necessitam de aulas sobre o uso do “ç”. Sem querer citar nomes.
Lucas Menegale, um amigo da sala, time e do TCC, simpatizou logo de cara com o ‘Matador’. A gente entrou na Cásper e logo já começamos a trocar ideia... E já virou meu amigo de cara mesmo. Tínhamos muitos assuntos em comum, futebol, principalmente. Nós dois somos do interior, então fomos nos acostumando com esse ritmo da capital. Mas era engraçado, porque nas aulas ele sempre surpreendia a galera com uma das loucuras dele... Já chegou a comer papel, literalmente. Várias vezes e vários papéis diferentes. Ele diz que os papéis têm gostos diferentes! Mas sempre fica com ânsia quando come um.”
Seu gosto gastronômico questionável, porém, não para por aí. Sorvete com azeite é um dos componentes do cardápio de seus pratos prediletos. Há quem ache feijão com Neston também estranho, apesar de shampoo Dove estar, de longe, no topo da lista. Mesmo alimentos mais comuns, como borda da pizza, ele gosta, mas nem sempre. “Só quando estou na pegada”. Entretanto, cozinha bem e ainda investe em receitas curiosas. Por exemplo, frango com canela (parece estranho, mas garanto que fica muito bom). Fora o talento na cozinha, aprendeu a ter o faro para essas e muitas outras inovações no fogão quando fez gastronomia na Sorbonne (mais um dos sonhos dele, só que desse ele se lembra).
Voltando ao colega Menegale, que também é típico parceiro de trabalhos em grupo, ele cita uma característica que ambos têm em comum e, que, inclusive, ajuda na manutenção dessa linda amizade. “O Mata é um mestre na arte da procrastinação. É incrível como tudo fica pra última hora. Eu também sou. E isso é um problema porque a gente sempre faz trabalhos juntos. Inclusive o TCC! Então a gente sempre fica com a corda no pescoço, precisando fazer as coisas em tempo recorde. O bom é que sempre dá certo. De um jeito ou de outro a gente se vira.” Quanto ao TCC, fui testemunha. Faltando dois dias para entregar a qualificação, de 50.ooo toques, decidiram dividir quantos cada um do grupo teria que escrever. Sem contar que escolheram o orientador apenas algumas horas antes da entrega do projeto. Mas sempre conseguem fazer tudo no prazo.
Por outro lado, nem sempre Abreu (como os amigos de Sorocaba o chamam) teve esse tipo de comportamento acadêmico. Tiago Patto, seu melhor amigo da cidade natal relembra a mania do amigo de, no terceiro colegial, principalmente nas aulas de exatas, levar fones de ouvido para ouvir música no último volume acompanhada pela leitura do jornal esportivo Lance!. “Teve uma vez que o professor chamou a atenção dele, e ele não escutou, porque estava ouvindo musica, foi muito bizarro. A classe inteira olhando ele e ele balançando a cabeça escutando rock”. O que não impediu de ser bem quisto pelos professores. A professora de educação artística, por exemplo, jogou o caderno dele pela janela, mas depois se arrependeu e, por iniciativa própria, foi buscar.
Quando era pequeno, Bruno era muito apegado a seu bisavô, quem chamava de nono (já que era italiano). Um episódio dessa época foi um dia em que os dois tinham sumido da casa. Ninguém os achava em parte nenhuma. Até que abriram a porta do quarto do nono e pegaram-no esvaziando um tubo de inseticida na cabeça do bisneto. “Esse menino está cheio de piolho!”. Outro causo lembrado carinhosamente pela família foi quando, mais uma vez, os dois tinham sumido. Desta vez, fora de casa. A mãe, os tios e a avó ligaram para a família toda atrás dos dois e nada. Até que, muito tempo depois, eles voltam juntos para casa e, até hoje, ninguém sabe onde foram. Entretanto, Bruno não lembra. Ou seja, ninguém jamais saberá. Infelizmente, o nono faleceu no dia do aniversário de sua mãe, Stella Maris. E é por isso, que, até hoje, ela ainda se abala quando alguém toca no assunto.
Mas, felizmente, isso não impede que a família relembre essas e outras histórias com alegria, lembrando como deram risadas quando aconteceram. Prova disso é que, já na primeira vez que viajei para Sorocaba, fui recebida com estas e várias outras. Como quando Bruno jogava bola com um amigo de bairro, também na infância, e levou uma rasteira que o fez cair de boca (aberta) no chão. Ficou com o dente da frente quebrado. Mas quem olha não consegue notar o incidente nem o seu conserto, feito com resina.
Como se não bastasse, o futuro grande jornalista é um gênio no que diz respeito a piadas de pontinhos. Sabe todas. Isso quando não advinha na hora. Em uma de nossas entrevistas, quando perguntava “O que é um pontinho amarelo no deserto?”, respondia sem pestanejar: “Camyellow”. “E um na piscina?”, mais uma vez respondeu rapidamente: “Cesar Cyellow!”. Na minha última tentativa de achar uma eu não soubesse, perguntei o que são vários pontinhos verdes em uma quadra de basquete. Seu raciocínio foi impecável: “Piada de pontinho quase sempre tem trocadilho com cor em inglês. Quadra de basquete deve ter um time de basquete. Green Team?” Mais uma vez, acertou. Não é à toa que ele merece ser meu namorado e perfilado.

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