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sexta-feira, 19 de abril de 2013

Reportagem Especial - Alessandra Freitas



Roda-gigante, lama e rock n' roll: o Lollapalooza 2013
Com várias bandas consagradas do rock, muita lama e multidões intermináveis, o Lollapalooza, apesar de seus contratempos, vendeu quase todos os seus ingressos e já garantiu a edição do ano que vem



Infinitas marcas de pegadas permeavam o chão lamacento do Jockey Club nos dias 29, 30 e 31 de março, representando as aproximadamente 200 mil pessoas que passaram pelo festival Lollapalooza desse ano. Reunindo diversas bandas consagradas de rock, indie, punk, folk e música eletrônica alternativa, o evento alegrou os amantes de música não só de São Paulo, mas de várias outras partes do Brasil - e até de outras partes do mundo.
Os três dias de festival tiveram em média 22 bandas cada; as primeiras apresentações eram ao meio-dia, e as últimas bandas saíam do palco às 23h. Os ingressos, que custavam R$150,00 reis por dia (a meia), quase esgotaram nos dois primeiros dias, e esgotaram no segundo, fazendo com que muitos que deixaram para comprar de última hora voltassem para casa sem assistir aos shows. Além de dois palcos principais, o evento contou com dois palcos alternativos e uma tenda de música eletrônica. E as atrações não acabaram por aí: os pais que levaram seus filhos pequenos contaram com o espaço Kidzapalooza, composto de atrações mirins e uma oficina de bateria com Iggor Cavalera, ex-integrante da banda Sepultura. A roda gigante, patrocinada pela companhia de cerveja Heineken, atraiu muitos dos espectadores do Lolla e foi a opção preferida para descansar entre os horários dos shows. Para os fãs mais fervorosos, havia barraquinhas disponíveis para comprar souvenirs das bandas, como camisas, chaveiros, adesivos para celular e posters de parede. O evento seguiu os passos da edição de 2012 (a primeira realizada no Brasil), e foi um sucesso tão grande que já garantiu a realização do festival no ano que vem, para a grande satisfação dos roqueiros.

Dos primeiros acordes à música final: Como surgiu o Lollapalooza
O festival de rock e indie que acontece em várias partes do mundo, mais conhecido como Lollapalooza, foi uma criação de Perry Farrell, cantor da banda Jane's Addiction, em parceria com Ted Gardener, Marc Geiger e Don Muller. A ideia surgiu em 1990, originalmente como uma turnê de despedida para a sua banda, e foi inspirada em eventos produzidos por Bill Graham.
A grande inovação do evento é que não foi algo que se limitou a apenas um lugar; o Lolla percorreu todo os Estados Unidos e Canadá, diferentemente de festivais anteriores, como o Woodstock, A Gathering of the Tribes e o US Festival. Em 1991, a line-up do projeto foi divulgada, e contou com artistas de vários gêneros diferentes. A grande atração desse ano foi a banda Nine Inch Nails, considerada música industrial. Outros gêneros que também fizeram sucesso foram o post-punk e o rap. Mas o festival não se limitou apenas aos shows: apresentações não-musicais foram inclusas, como o circo de Jim Rose - um show de horrores- uma tenda para exibição de obras de artes, mesas de informações sobre políticas ambientais sem fins lucrativos, grupos que promovem a contra-cultura e consciência política, além de jogos de realidade virtual. A ideia era que o Lollapalooza não fosse apenas várias bandas se apresentando, mas um ambiente de cultura e entretenimento, quase como um parque temático.
Entretanto, por mais incrível que pareça, o festival não foi algo contínuo, e sofreu um declínio em 2004, quando os organizadores decidiram fazer do festival um evento de dois dias por cidade. A venda de ingressos não foi suficiente para arcar com os custos, e a turnê teve que ser cancelada. Em 2005, Peter Farrell e a Agência William Morris realizaram uma parceria juntamente com a empresa Capital Sports Entertainment -hoje denominada C3 Presents-, e reformularam o festival para o formato que é hoje, com o porém de ser algo restrito ao Grant Park, em Chicago, Illionois.
Em 2010, os amantes de música fora dos Estados Unidos receberam a feliz notícia de que o evento estava tomando o primeiro passo para que se tornasse internacional: através de uma parceria com a empresa chilena Lotus, Santiago, no Chile, o país se tornou uma das cidades-sede do evento (que teve lugar nos dias 2 e 3 de abril de 2011).
No ano seguinte a essa parceria, a empresa Geo Eventos, no Brasil, confirmou a primeira versão brasileira do Lollapalooza, que teve o Jockey Club, em São Paulo, como sede nos dias 7 e 8 de abril de 2012.

Lollapalooza: Uma “Nação Alternativa”
Foi nos anos 90 que o conceito de rock alternativo surgiu, sem o qual não haveria impulso para o desenvolvimento do projeto. Peter Farrell então criou, no Lollapalooza o termo “nação alternativa”. Gêneros como o rap, grunge, e movimentos de punk rock como mosh pit e crowd surfing tiveram grande participação nos festivais de 1992 e 1993. Esses anos também contaram com a inclusão de cabines para a entrada de microfone aberto para leituras e oratória, tatuagens e piercings, o que aumentou muito o número de pessoas que foram ao festival.
O número de palcos também começou a aumentar nessa época: em 1992, o festival adicionou um segundo palco, e em 1996, um terceiro. As reclamações do festival não diferenciam nem um pouco das reclamações atuais – o elevado custo dos ingressos, dos alimentos e água dos shows. Em 29 de agosto de 1992, quando o festival foi para Alpine Valley em East Troy, Wisconsin, o público rasgou pedaços de grama e atiraram entre si e nas bandas, gerando um grande prejuízo para o local, e aumentando a visão de “baderneiros” que os amantes de música alternativa tinham na época.
Em 1994, Farrell trabalhou com Jim Evans, um artista que trabalhava com posters de rock, e criou uma série de posters e imagens pra o evento desse ano -tradição que continua até hoje. Em 1996, Farrell decidiu criar um outro festival, o ENIT, e parou de participar da produção do Lollapalooza. Nesse mesmo ano, a participação da banda Metallica incomodou vários fãs, que alegaram que tal adição ia contra a ideia de apresentar bandas “não-mainstream”, ou seja, que não eram manjadas pelo público. A imagem machista do Metallica chegou a incomodar Farrell, que saiu da turnê em protesto. Muitos esforços foram feitos para manter o festival, incluindo adicionar artistas country como Waylon Jennings e grupos eletrônicos como The Prodigy. Mas já era tarde demais para o conceito do Lolla, e em 1998 a falta de uma banda principal adequada resultou no cancelamento do festival. O cancelamento representou um declínio da popularidade do rock alternativo. Spin, a respeito do assunto, disse: “Lollapalooza é como um coma para o rock alternativo agora”.
Em 2005, Peter Farrell fez parceria com a Capital Sports & Entertainment, a William Morris Agency e Cahrles Attal Presents e ressucitou o Lollapalooza, como um festival de dois dias, em Chicago, Illinois. Dessa vez, o festival contou com uma variedade maior de artistas (70 artistas em cinco palcos), e foi um grande sucesso, atraindo mais de 65 mil pessoas. O festival continuou e já em 2008 era um sucesso tamanho, que foi assinado um acordo para deixar o Lolla em Chicago até 2018, garantindo já para o evento 13 milhões de dólares. A expansão foi contínua desde então, e agora o festival já tem sede em diversos países.

Apesar de todos os altos e baixos do festival, é inegável que ele é um grande símbolo da música considerada por muitos como “alternativa”. A participação de bandas de renome a cada ano confirma o apoio da indústria da música a esse evento que cada vez reúne mais roqueiros e influencia mais o gosto musical das pessoas. Izabela Medina, de 19 anos, veio de Belo Horizonte só para curtir o festival. “Eu gosto porque reúne as bandas que eu mais gosto em lugar só. É quase meu paraíso pessoal”, ela brinca. E como ela, muitas pessoas que foram ao Jockey Club para aproveitar os shows não moram em São Paulo. Alexis Rolón veio do Paraguai, e diz não se arrepender nem um pouco. “Usei a desculpa de vir visitar uns amigos para viajar pra cá, mas queria mesmo era ver os shows”, ele ri, de depois completa: “Não tem nada como entrar na multidão, escutando as músicas que eu gosto e todo mundo cantando a junto, curtindo a mesma 'vibe'. É indescritível”. Quem é de São Paulo também aproveitou. Caio Sebben, 20, define o Lollapalooza em uma frase: “Se caísse uma bomba aqui, acabaria todo o bom gosto musical de São Paulo”. E disse que, apesar de todos os problemas, estava aproveitando bastante. “Vim com meus amigos, e o melhor é que não é nada maçante. Você pode curtir um show e depois vir sentar nos puffs debaixo das tendas ou dar uma volta na roda gigante”. Mas reclama: “Eu iria curtir muito mais se não tivesse essa lama toda, eu acho que eles poderiam pensar em alguma solução para isso nos próximos anos, porque o cheiro não é nem um pouco agradável, e a lama destrói os sapatos de todo mundo”.
A chuva do dia 29, misturada às bebidas derramadas no chão durante o festival, se misturaram à terra do Jockey e formaram uma grande quantidade de lama no local. Além de várias pessoas terem tropeçado e estragado seus sapatos ao andar pelo barro, o cheiro decorrente disso não foi nem um pouco agradável, pois se misturou também às fezes dos cavalos do Jockey Club. O fotógrafo oficial do Lolla, Renan Lazari, entretanto, diz que não esperava outra coisa. “É um Jockey, bobo de quem achou que ia estar tudo limpo e cheiroso”, ele ri. Para Renan, o sucesso do Lolla no Brasil se deve muito aos brasileiros: “O público brasileiro é fantástico, a energia é muito boa!” e completa dizendo que “um ótimo combustível também é a espera... 'Black Keys’ não toca todo final de semana em São Paulo, então quando eles resolvem aparecer o povo fica louco”. Para Renan, o mais legal do festival desse ano foi que muitos pais levaram seus filhos para ver os shows. “ Acho genial pais que levam os filhos no festival. Levarei os meus um dia...acho importante educar os filhos com coisas divertidas e música boa”, e completa dizendo que “o gosto musical é toda uma construção. Lembro das coisas que ouvia com meus pais, depois com meus amigos, meus professores de música...acredito também que a internet ande educando a molecada musicalmente. É muito bom pra abrir a cabeça pra coisas novas”.

Uma alternativa para quem não conseguir ir ao evento, foi assistir pela televisão. Os shows do Lollapalooza foram transmitidos pelo canal MTV, exceto pela apresentação da banda Pearl Jam, que vetou a transmição pelo canal. Edson Marques, 56, que não pôde ir ao show porque estava viajando à negócios, achou a atitude injusta, e argumentou dizendo que “os fãs apoiam o Pearl Jam há tanto tempo, e acho muita babaquice eles não deixarem transmitir o show pra quem está vendo de casa. Não são todos os fãs que têm condições de ir ao Lollapalooza”.
Várias celebridades também passaram pelo jockey Club nos dias 29, 30 e 31 de março. Além de várias artistas nacionais, como Carolina Ferraz, até a atriz Lindsay Lohan foi avistada no local por alguns minutos, tendo que deixa-lo pouco tempo depois após causar grande confusão entre fotógrafos e seguranças.
Agora que quase 200 mil pessoas já sujaram seus sapatos na lama, pularam ao som de grandes bandas como The Killers, se surpreenderam com o talento de novatos da música como Gary Clark, Júnior, muitos já começam a se preparar para o festival do ano que vem, juntando dinheiro e apostando com os amigos qual será a line-up da vez. Para quem ficou de fora esse ano e quer participar, ou para quem foi e quer continuar a interagir com outros amantes do rock, o Lollapalooza disponibiliza uma página no facebook (www.facebook.com/) e outra no twitter (www.twitter.com.br/), além do site oficial (www.), com atualizações sobre o evento, incluindo informações sobre as edições em outros países e as bandas que se apresentaram. E enquanto esperam o ano que vem, a playlist desse ano já foi liberada, para quem foi poder recordar os shows e quem não foi ter uma ideia melhor do que tocou por lá.
O Lollapalooza, com seus altos e baixos, une não só bandas de diferentes gerações, mas pessoas de diferentes idades também. É um festival cultural que encanta qualquer um, e deve continuar por muito mais tempo, para continuar unindo gerações em torno da música.

BOX 1:

Confira abaixo a programação de cada dia:

Sexta, 29/03:

                     The Killers
                     DeadMau5
                     The Flaming Lips
                     Knife Party
                     Cake
                     Passion Pit
                     Crystal Castles
                     Porter Robinson
                     The Temper Trap
                     Of monsters and Men
                     Feed me
                     Technostalgia feat. DJ Marky & Bid
                     Agridoce
                     Holger
                     Dirtyloud
                     Tokyo Savannah
                     Copacabana Club
                     Boss in Drama
                     Perrosky
                     Bruno Barudi
                     SL Dakota Dazantiga
                     Oficina de bateria com Iggor Cavalera
                     RevoltzSP

Sábado, 30/03

                     The Black Keys
                     Queens of the Stone Age
                     A perfect circle
                     Franz Ferdiand
                     Steve Aoki
                     Two Door Cinema Club
                     Criolo
                     Tomahawk
                     NAS
                     Madeon
                     Alabama Shakes
                     Zeds Dead
                     Toro Y Moi
                     Gary Clark, Jr.
                     Ludov
                     Graforréia Xilarmônica
                     Stop Play Moon
                     Lennox
                     Classic
                     William Naraine
                     Disco Baby

Domingo, 31/03:

                     Pearl Jam
                     Planet Hemp
                     Kaskade
                     The Hives
                     Kaiser Chiefs
                     Hot Chip
                     Foals
                     Major Lazer
                     Puscifer
                     Rusko
                     Felguk
                     Lirinha + Eddie
                     Vanguart
                     Vivendo do Ócio
                     Mix Hell
                     Wehbba
                     Wannabe Jalva
                     Baia
                     República
                     DataBase
                     Dis Moi
                     Sarah Messias

BOX 2:

As bandas mais cotadas pelos fãs do Lollapalooza para a edição do ano que vem:

                     Red Hot Chili Pepper
                     The Kooks
                     Jack White
                     Mumford and Sons
                     Grizzly Bear
                     Japandroids
                     Band of Horses
                     Phoenix
                     Alt j
                     Strokes
                     Tame impala





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