Roda-gigante, lama e rock n' roll: o Lollapalooza 2013
Com várias bandas consagradas do
rock, muita lama e multidões intermináveis, o Lollapalooza, apesar de seus
contratempos, vendeu quase todos os seus ingressos e já garantiu a edição do
ano que vem
Infinitas marcas de
pegadas permeavam o chão lamacento
do Jockey Club nos dias 29, 30 e 31 de março, representando as aproximadamente
200 mil pessoas que passaram pelo festival Lollapalooza desse ano. Reunindo
diversas bandas consagradas de rock, indie, punk, folk e música eletrônica
alternativa, o evento alegrou os amantes de música não só de São Paulo, mas de
várias outras partes do Brasil - e até de outras partes do mundo.
Os três dias de festival tiveram em
média 22 bandas cada; as primeiras apresentações eram ao meio-dia, e as últimas
bandas saíam do palco às 23h. Os ingressos, que custavam R$150,00 reis por dia
(a meia), quase esgotaram nos dois primeiros dias, e esgotaram no segundo,
fazendo com que muitos que deixaram para comprar de última hora voltassem para
casa sem assistir aos shows. Além de dois palcos principais, o evento contou
com dois palcos alternativos e uma tenda de música eletrônica. E as atrações
não acabaram por aí: os pais que levaram seus filhos pequenos contaram com o
espaço Kidzapalooza, composto de
atrações mirins e uma oficina de bateria com Iggor Cavalera, ex-integrante da
banda Sepultura. A roda gigante, patrocinada pela companhia de cerveja
Heineken, atraiu muitos dos espectadores do Lolla e foi a opção preferida para
descansar entre os horários dos shows. Para os fãs mais fervorosos, havia
barraquinhas disponíveis para comprar souvenirs das bandas, como camisas,
chaveiros, adesivos para celular e posters de parede. O evento seguiu os passos
da edição de 2012 (a primeira realizada no Brasil), e foi um sucesso tão grande
que já garantiu a realização do festival no ano que vem, para a grande
satisfação dos roqueiros.
Dos primeiros acordes à música
final: Como surgiu o Lollapalooza
O festival de rock e indie que
acontece em várias partes do mundo, mais conhecido como Lollapalooza, foi uma
criação de Perry Farrell, cantor da banda Jane's Addiction, em parceria com Ted
Gardener, Marc Geiger e Don Muller. A ideia surgiu em 1990, originalmente como
uma turnê de despedida para a sua banda, e foi inspirada em eventos produzidos
por Bill Graham.
A grande inovação do evento é que
não foi algo que se limitou a apenas um lugar; o Lolla percorreu todo os
Estados Unidos e Canadá, diferentemente de festivais anteriores, como o Woodstock,
A Gathering of the Tribes e o US Festival. Em 1991, a line-up do projeto foi divulgada, e
contou com artistas de vários gêneros diferentes. A grande atração desse ano
foi a banda Nine Inch Nails, considerada música industrial. Outros gêneros que
também fizeram sucesso foram o post-punk e o rap. Mas o festival
não se limitou apenas aos shows: apresentações não-musicais foram inclusas,
como o circo de Jim Rose - um show de horrores- uma tenda para exibição de
obras de artes, mesas de informações sobre políticas ambientais sem fins
lucrativos, grupos que promovem a contra-cultura e consciência política, além
de jogos de realidade virtual. A ideia era que o Lollapalooza não fosse apenas
várias bandas se apresentando, mas um ambiente de cultura e entretenimento,
quase como um parque temático.
Entretanto, por mais incrível que
pareça, o festival não foi algo contínuo, e sofreu um declínio em 2004, quando
os organizadores decidiram fazer do festival um evento de dois dias por cidade.
A venda de ingressos não foi suficiente para arcar com os custos, e a turnê
teve que ser cancelada. Em 2005, Peter Farrell e a Agência William Morris
realizaram uma parceria juntamente com a empresa Capital Sports
Entertainment -hoje denominada C3 Presents-, e reformularam o
festival para o formato que é hoje, com o porém de ser algo restrito ao
Grant Park, em Chicago, Illionois.
Em 2010, os amantes de música fora
dos Estados Unidos receberam a feliz notícia de que o evento estava tomando o
primeiro passo para que se tornasse internacional: através de uma parceria com
a empresa chilena Lotus, Santiago, no Chile, o país se tornou uma das
cidades-sede do evento (que teve lugar nos dias 2 e 3 de abril de 2011).
No ano seguinte a essa parceria, a
empresa Geo Eventos, no Brasil, confirmou a primeira versão brasileira do
Lollapalooza, que teve o Jockey Club, em São Paulo, como sede nos dias 7 e 8 de
abril de 2012.
Lollapalooza: Uma “Nação
Alternativa”
Foi nos anos 90 que o conceito de rock
alternativo surgiu, sem o qual não haveria impulso para o desenvolvimento
do projeto. Peter Farrell então criou, no Lollapalooza o termo “nação
alternativa”. Gêneros como o rap, grunge, e movimentos de punk rock como mosh
pit e crowd surfing tiveram grande participação nos festivais de
1992 e 1993. Esses anos também contaram com a inclusão de cabines para a
entrada de microfone aberto para leituras e oratória, tatuagens e piercings,
o que aumentou muito o número de pessoas que foram ao festival.
O número de palcos também começou a
aumentar nessa época: em 1992, o festival adicionou um segundo palco, e em
1996, um terceiro. As reclamações do festival não diferenciam nem um pouco das
reclamações atuais – o elevado custo dos ingressos, dos alimentos e água dos
shows. Em 29 de agosto de 1992, quando o festival foi para Alpine Valley em
East Troy, Wisconsin, o público rasgou pedaços de grama e atiraram entre si e
nas bandas, gerando um grande prejuízo para o local, e aumentando a visão de
“baderneiros” que os amantes de música alternativa tinham na época.
Em 1994, Farrell trabalhou com Jim
Evans, um artista que trabalhava com posters de rock, e criou uma série de
posters e imagens pra o evento desse ano -tradição que continua até hoje. Em
1996, Farrell decidiu criar um outro festival, o ENIT, e parou de participar da
produção do Lollapalooza. Nesse mesmo ano, a participação da banda Metallica
incomodou vários fãs, que alegaram que tal adição ia contra a ideia de
apresentar bandas “não-mainstream”, ou seja, que não eram manjadas pelo
público. A imagem machista do Metallica chegou a incomodar Farrell, que saiu da
turnê em protesto. Muitos esforços foram feitos para manter o festival,
incluindo adicionar artistas country como Waylon Jennings e grupos eletrônicos
como The Prodigy. Mas já era tarde demais para o conceito do Lolla, e em
1998 a falta de uma banda principal adequada resultou no cancelamento do
festival. O cancelamento representou um declínio da popularidade do rock
alternativo. Spin, a respeito do assunto, disse: “Lollapalooza é como um
coma para o rock alternativo agora”.
Em 2005, Peter Farrell fez parceria
com a Capital Sports & Entertainment, a William Morris Agency e Cahrles
Attal Presents e ressucitou o Lollapalooza, como um festival de dois dias, em
Chicago, Illinois. Dessa vez, o festival contou com uma variedade maior de
artistas (70 artistas em cinco palcos), e foi um grande sucesso, atraindo mais
de 65 mil pessoas. O festival continuou e já em 2008 era um sucesso tamanho,
que foi assinado um acordo para deixar o Lolla em Chicago até 2018, garantindo
já para o evento 13 milhões de dólares. A expansão foi contínua desde então, e
agora o festival já tem sede em diversos países.
Apesar de todos os altos e baixos do
festival, é inegável que ele é um grande símbolo da música considerada por
muitos como “alternativa”. A participação de bandas de renome a cada ano
confirma o apoio da indústria da música a esse evento que cada vez reúne mais
roqueiros e influencia mais o gosto musical das pessoas. Izabela Medina, de 19
anos, veio de Belo Horizonte só para curtir o festival. “Eu gosto porque reúne
as bandas que eu mais gosto em lugar só. É quase meu paraíso pessoal”, ela
brinca. E como ela, muitas pessoas que foram ao Jockey Club para aproveitar os
shows não moram em São Paulo. Alexis Rolón veio do Paraguai, e diz não se
arrepender nem um pouco. “Usei a desculpa de vir visitar uns amigos para viajar
pra cá, mas queria mesmo era ver os shows”, ele ri, de depois completa: “Não
tem nada como entrar na multidão, escutando as músicas que eu gosto e todo
mundo cantando a junto, curtindo a mesma 'vibe'. É indescritível”. Quem é de
São Paulo também aproveitou. Caio Sebben, 20, define o Lollapalooza em uma
frase: “Se caísse uma bomba aqui, acabaria todo o bom gosto musical de São
Paulo”. E disse que, apesar de todos os problemas, estava aproveitando
bastante. “Vim com meus amigos, e o melhor é que não é nada maçante. Você pode
curtir um show e depois vir sentar nos puffs debaixo das tendas ou dar uma
volta na roda gigante”. Mas reclama: “Eu iria curtir muito mais se não tivesse
essa lama toda, eu acho que eles poderiam pensar em alguma solução para isso
nos próximos anos, porque o cheiro não é nem um pouco agradável, e a lama
destrói os sapatos de todo mundo”.
A chuva do dia 29, misturada às bebidas
derramadas no chão durante o festival, se misturaram à terra do Jockey e
formaram uma grande quantidade de lama no local. Além de várias pessoas terem
tropeçado e estragado seus sapatos ao andar pelo barro, o cheiro decorrente
disso não foi nem um pouco agradável, pois se misturou também às fezes dos
cavalos do Jockey Club. O fotógrafo oficial do Lolla, Renan Lazari, entretanto,
diz que não esperava outra coisa. “É um Jockey, bobo de quem achou que ia estar
tudo limpo e cheiroso”, ele ri. Para Renan, o sucesso do Lolla no Brasil se
deve muito aos brasileiros: “O público brasileiro é fantástico, a energia é
muito boa!” e completa dizendo que “um ótimo combustível também é a espera...
'Black Keys’ não toca todo final de semana em São Paulo, então quando eles
resolvem aparecer o povo fica louco”. Para Renan, o mais legal do festival
desse ano foi que muitos pais levaram seus filhos para ver os shows. “ Acho
genial pais que levam os filhos no festival. Levarei os meus um dia...acho
importante educar os filhos com coisas divertidas e música boa”, e completa
dizendo que “o gosto musical é toda uma construção. Lembro das coisas que ouvia
com meus pais, depois com meus amigos, meus professores de música...acredito
também que a internet ande educando a molecada musicalmente. É muito bom pra
abrir a cabeça pra coisas novas”.
Uma alternativa para quem não
conseguir ir ao evento, foi assistir pela televisão. Os shows do Lollapalooza
foram transmitidos pelo canal MTV, exceto pela apresentação da banda Pearl Jam,
que vetou a transmição pelo canal. Edson Marques, 56, que não pôde ir ao show
porque estava viajando à negócios, achou a atitude injusta, e argumentou
dizendo que “os fãs apoiam o Pearl Jam há tanto tempo, e acho muita babaquice
eles não deixarem transmitir o show pra quem está vendo de casa. Não são todos
os fãs que têm condições de ir ao Lollapalooza”.
Várias celebridades também passaram
pelo jockey Club nos dias 29, 30 e 31 de março. Além de várias artistas
nacionais, como Carolina Ferraz, até a atriz Lindsay Lohan foi avistada no
local por alguns minutos, tendo que deixa-lo pouco tempo depois após causar
grande confusão entre fotógrafos e seguranças.
Agora que quase 200 mil pessoas já
sujaram seus sapatos na lama, pularam ao som de grandes bandas como The Killers,
se surpreenderam com o talento de novatos da música como Gary Clark, Júnior,
muitos já começam a se preparar para o festival do ano que vem, juntando
dinheiro e apostando com os amigos qual será a line-up da vez. Para quem
ficou de fora esse ano e quer participar, ou para quem foi e quer continuar a
interagir com outros amantes do rock, o Lollapalooza disponibiliza uma página
no facebook (www.facebook.com/) e
outra no twitter (www.twitter.com.br/), além
do site oficial (www.), com atualizações sobre o evento, incluindo informações
sobre as edições em outros países e as bandas que se apresentaram. E enquanto
esperam o ano que vem, a playlist desse ano já foi liberada, para quem foi
poder recordar os shows e quem não foi ter uma ideia melhor do que tocou por
lá.
O Lollapalooza, com seus altos e
baixos, une não só bandas de diferentes gerações, mas pessoas de diferentes
idades também. É um festival cultural que encanta qualquer um, e deve continuar
por muito mais tempo, para continuar unindo gerações em torno da música.
BOX 1:
Confira abaixo a programação de cada dia:
Sexta, 29/03:
•
The Killers
•
DeadMau5
•
The Flaming Lips
•
Knife Party
•
Cake
•
Passion Pit
•
Crystal Castles
•
Porter Robinson
•
The Temper Trap
•
Of monsters and Men
•
Feed me
•
Technostalgia feat. DJ Marky & Bid
•
Agridoce
•
Holger
•
Dirtyloud
•
Tokyo Savannah
•
Copacabana Club
•
Boss in Drama
•
Perrosky
•
Bruno Barudi
•
SL Dakota Dazantiga
•
Oficina de bateria com Iggor Cavalera
•
RevoltzSP
Sábado, 30/03
•
The Black Keys
•
Queens of the Stone Age
•
A perfect circle
•
Franz Ferdiand
•
Steve Aoki
•
Two Door Cinema Club
•
Criolo
•
Tomahawk
•
NAS
•
Madeon
•
Alabama Shakes
•
Zeds Dead
•
Toro Y Moi
•
Gary Clark, Jr.
•
Ludov
•
Graforréia Xilarmônica
•
Stop Play Moon
•
Lennox
•
Classic
•
William Naraine
•
Disco Baby
Domingo, 31/03:
•
Pearl Jam
•
Planet Hemp
•
Kaskade
•
The Hives
•
Kaiser Chiefs
•
Hot Chip
•
Foals
•
Major Lazer
•
Puscifer
•
Rusko
•
Felguk
•
Lirinha + Eddie
•
Vanguart
•
Vivendo do Ócio
•
Mix Hell
•
Wehbba
•
Wannabe Jalva
•
Baia
•
República
•
DataBase
•
Dis Moi
•
Sarah Messias
BOX 2:
As bandas mais cotadas pelos fãs do Lollapalooza para
a edição do ano que vem:
•
Red Hot Chili Pepper
•
The Kooks
•
Jack White
•
Mumford and Sons
•
Grizzly Bear
•
Japandroids
•
Band of Horses
•
Phoenix
•
Alt j
•
Strokes
•
Tame impala
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