O quadrinho em 2013
O que este ano promete para a divulgação das histórias em
quadrinhos nacionais e internacionais
Karina Goto
Há pelo menos meia década, o mercado brasileiro de quadrinhos tem sofrido
alterações perceptíveis. Novos incentivos podem ser vistos, tais como o Plano
Nacional Biblioteca da Escola (PNBE), que a partir de 2006 passou a receber
quadrinhos para a distribuição em bibliotecas escolares. Desde 2007, há um
edital do Programa de Ação Cultural do Estado de São Paulo (ProAC) que oferece
uma verba para a produção de quadrinhos nacionais. Editoras tradicionais estão
criando selos de quadrinhos e novas editoras especializadas estão surgindo.
Houve uma transição entre o quadrinho de banca para as livrarias, na qual a
revista foi adaptada para o formato livro e aconteceu também a expansão das
chamadas graphic novels. Os artistas
independentes estão cada vez mais presentes, aumentando o número de
publicações, e utilizando a internet como ferramenta de publicação. Impressos
vão para a internet e o movimento contrário também é válido. O mercado
brasileiro vem se expandindo, mas ainda está longe de competir com os mercados franco-belga,
norte-americano e japonês, cujas tiragens passam das casas dos milhões.
Os festivais de quadrinhos estimulam a produção independente, incentivam
o público leitor e estão cada vez mais presentes no Brasil. Prova disso é a
vinda de convidados internacionais para essas convenções, o número de
visitantes aumenta consideravelmente a cada edição, autores esperam os
festivais para lançarem suas publicações, coletivos de quadrinistas são criados
durante esses eventos.
Para o
jornalista de quadrinhos Érico Assis, "a palavra-chave dos festivais é
'contato'. É o contato dos leitores com os quadrinistas, dos aspirantes com as
editoras, dos próprios quadrinistas com os próprios quadrinistas, do público
com os quadrinhos que até então não conhecia. [...] Desse contato também surgem
muitas discussões interessantes, produtivas, entre quem participa. São bons
estímulos. São que nem reações químicas: o contato que deflagra alguma coisa. O
panorama dos quadrinhos no Brasil certamente se beneficia dos contatos que os
festivais proporcionam."
O destaque maior de 2013 vai para o FIQ, maior festival brasileiro de
quadrinhos. O eixo sudeste-sul é abastecido com o FestComix, o Ugra Zine Fest,
o Brasil Comic Con em São Paulo, com a FIQ, em Belo Horizonte (MG) e o
Multiverso ComicCon (RS), e o nordeste é representado pelo Top! Top! (PB).
Abaixo uma descrição dos festivais que vão acontecer durante este ano:
FIQ
O Festival Internacional de Quadrinhos (FIQ) nasceu no ano de 1991,
quando Roberto Ribeiro, diretor da Editora Casa 21 criou a Bienal de
Quadrinhos. A Bienal mudou de sede em 1997, saindo do Rio de Janeiro e migrando
para a cidade de Belo Horizonte. Já em 1999, o evento passou a se chamar FIQ e
vem acontecendo até os dias atuais. "Acho que é o único festival de quadrinhos tão antigo assim aqui.
Hoje temos dezenas de pequenos eventos, mas são todos bem mais novos",
afirma Daniel Werneck, um dos organizadores do FIQ .
O evento é gratuito e conta com o apoio da Prefeitura de Belo Horizonte,
com o patrocínio cultural da Oi Futuro e da Lei Estadual de Incentivo à Cultura
de Minas Gerais.
Grandes nomes do quadrinho nacional como Angeli, Mozart Couto, Lourenço
Mutarelli, Júlio Shimamoto e Mauricio de Sousa fizeram parte dos convidados de
honra do festival. Entre os artistas internacionais que já compareceram ao FIQ
estão o britânico David Lloyd, ilustrador de V de Vingança e os franceses
Frédéric Boilet, de O Espinafre de Yukiko, e Cyril Pedrosa, autor de Três
Sombras. Além disso, o FIQ já homenageou a França, Itália e Espanha, Japão e
Coreia do Sul e Argentina.
Segundo o site Bleeding Cool, o FIQ é a maior convenção de quadrinhos da
América e contou com 148 mil visitantes na edição mais recente. Com isso, em
2011, superou o público das convenções norte-americanas San Diego Comic-Con
(130 mil pessoas) e New York Comic Con (105 mil pessoas). De acordo com
Werneck, "nenhum evento
do Brasil, por enquanto, chega perto desse volume de gente. É um local enorme,
com dezenas de stands e centenas de artistas, entre convidados e visitantes."
Em 2013, a oitava edição acontece na Serraria Souza Pinto entre os dias
13 a 17 de novembro. Durante a premiação do 24º Troféu HQMIX, Afonso Andrade,
curador do FIQ, anunciou em primeira mão que Laerte seria o convidado de honra.
Foram divulgadas prévias de algumas artes da exposição Ícones dos Quadrinhos,
na qual cem quadrinistas mundiais reinterpretam os cem principais personagens
dos quadrinhos com desenhos inéditos. Há também a Exposição infantil, primeira
exposição voltada para
crianças e jovens com curadoria colaborativa. Até o momento os quadrinistas internacionais
confirmados são George Pérez, Klaus Janson, Sean Gordon Murphy e Dave
Johnson.
O mineiro Adriano Augusto enfatiza a importância do FIQ para
a expansão dos contatos profissionais: "sem o FIQ eu jamais teria
conhecido os agentes e jamais teria participado de títulos como colorista no
mercado americano de quadrinhos. É um evento fantástico que dá grandes
oportunidades para os artistas conseguirem os contatos necessários para entrar
nesse ramo." Outros atributos deste festival são os de que ele promove a
cidade, chama a atenção do público exterior, possibilita encontrar quadrinhos
de difícil distribuição e independentes, atende a todos os públicos de diversas
faixas etárias, mostra como funciona o mercado internacional, garante a troca
de ideias e informações, resume os dois últimos anos das publicações, traz
profissionais de todo o país. Fica clara a importância de vitrine, abrindo
espaço para o quadrinho mineiro e de novos talentos. Herbert Berbert dá seu
depoimento: "fui na Gibicon e fiquei maravilhado em conhecer pessoalmente
muitos [quadrinistas] e ver a simpatia e satisfação deles. Depois disso, fui em
outros eventos, conheci o Mauricio de Sousa e não consegui parar mais. [...] O FIQ
vai ser o início da concretização do meu sonho, onde vou me apresentar não mais
como um grande fã, mas sim como um profissional iniciante na área de quadrinhos
e ilustração. Pretendo levar meu portfólio e meu primeiro trabalho e agradecer
aos amigos."
Durante a edição de 2011, Sidney Gusman, responsável pelo Planejamento Editorial da
Mauricio de Sousa Produções, anunciou o lançamento da linha
"Graphic MSP", uma série de graphic novels com os personagens da
Turma da Mônica. Segundo Gusman,
"anunciar no FIQ foi uma maneira também de prestigiar o evento. No Brasil,
as editoras não dão a devida importância aos festivais, como rola lá fora. É um
momento perfeito para esses anúncios, pois há um enorme número de fãs no local
e online antenados." O quarto volume da Graphic MSP, que contará a
história de Piteco, será lançado no festival deste ano.
Fest Comix
O Fest Comix é um dos maiores
eventos de quadrinhos e mangás do Brasil. Ocorre no final de outubro na cidade
de São Paulo. Realizado pela livraria Comix, o festival apresenta palestras com
nomes internacionais e nacionais dos quadrinhos, tem sessões de autógrafos,
além de concursos de cosplay e seu
principal atrativo são os milhares de itens com desconto. A vigésima edição que
acontece neste ano ainda não foi divulgada.
Brasil Comic Con
A Yamato Comunicações anunciou a
criação de um evento voltado aos quadrinhos: o Brasil Comic Con. A primeira
edição fará parte do especial de dez anos do Anime Friends e a Yamato ainda
está em fase de negociação com os artistas. O evento acontece entre os dias 11
a 14 e de 18 a 21 de julho no Campo de Marte.
Multiverso
ComicCon
Criado pela Multiverso
Produtora, o Multiverso ComicCON se encontra em sua terceira edição. O evento
acontecerá nos dias 22 e 23 de junho, em Porto Alegre. Os artistas confirmados
são Cris Peter, Eduardo Damasceno, Eduardo Spohr, Estevão Ribeiro, Rogê
Antônio, Daniel HDR, Gabriel Bá e Fábio Moon.
Rio Comicon
A terceira edição do Rio Comicon estava prevista para ocorrer em 2012,
mas foi adiada para 2013 por causa de dificuldades com o patriocínio e
investimentos culturais. Até agora nenhuma outra informação foi divulgada.
Ugra Zine
Fest
O Ugra Zine Fest, festival dedicado às publicações independentes, aos
fanzines, quadrinhos e ao movimento “faça você mesmo” chegou a sua terceira
edição em 2013. Durante os dias 6 e 7 de abril, no Centro Cultural São Paulo, o
público conferiu exposições, assistiu a exibição de um filme, participou de
oficinas, palestras e debates. Além disso, na entrada da biblioteca havia uma
feira de venda e troca de zines e materiais do gênero. Para Douglas Utescher,
criado do Ugra, "a nossa ideia é constituir um espaço para o quadrinho
independente. O foco do Ugra abrange todas as publicações independentes e o
quadrinho tem grande espaço".
Top! Top!
A segunda edição do Top! Top! será realizada nos dias 6 a 8
de dezembro e acontece na cidade de João Pessoa. O Top! Top! Contará com uma
exposição em homenagem aos cinquenta anos dos quadrinhos paraibanos.
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