Leticia Antunes Larieira
A
febre dos e-commerces
Como
a internet mudou a relação entre vendedores e compradores
Na última década, a internet
impactou (e muito) as relações humanas. Sob uma plataforma comum, o mundo todo
se uniu através da tela do computador (mais recentemente até do celular),
permitindo que milhões de pessoas ao redor do mundo interajam diariamente. A
partir desta globalização acelerada e desenfreada, a web passou a interferir cada vez mais na vida das pessoas,
cotidianamente, transformando ações que antigamente eram executadas sem a
internet tornarem-se inimagináveis hoje em dia sem a ajuda dela. Passar um dia
inteiro sem mandar um e-mail, conversar com os amigos pelo chat do Facebook ou
pesquisar notícias online pode ser
impensável para a maioria de pessoas. Por isso, a internet é o maior fenômeno
do século XXI, o fator determinante do nosso século.
No Brasil, o crescimento de internautas foi impressionante.
Desde 2001, segundo o site especializado em comércio online ecommerce.org.br, o nosso país
demonstrou um aumento de 650% de pessoas concetadas. Em 2012, já atingimos o número de 90 milhões
de brasileiros com acesso à internet, o que representa quase metade da
população, 45%. A tecnologia que antigamente estava disponível apenas para a
camada social de maior poder aquisitivo e capital cultural, felizmente com o
passar do tempo vem se tornando mais democrática, atingindo as classes mais
baixas e menos escolarizadas.
Novos
negócios
Assim como a internet está mudando a
maneira como as pessoas se relacionam, ela também está mudando a maneira como
as pessoas trabalham e fazem negócio. Com o boom
da internet na década de 1990 e a interação proporcionada por ela entre seus
internautas, naturalmente a web foi
enxergada potencialmente como uma nova plataforma para o empreendedorismo.
De repente, por causa dela, toda a
lógica empresarial começou a se transformar. As empresas não precisam mais de
sede física para funcionar, o quadro de funcionários não precisa ser tão extenso
para operar na plataforma online e o
capital inicial é relativamente baixo. Ela não mudou apenas como as empresas
funcionam internamente, mas também as relações comerciais. Fornecedores,
parceiros e clientes poderiam comunicam-se com muito mais eficiência e
velocidade, a custo bem menor.
Outro fator importante é o
fato da internet facilitar a terceirização e individualização do trabalho,
proporcionando novas oportunidades para profissionais prestadores de serviços.
O e-commerce, juntamente com as novas tecnologias, alterou não somente o modo
de como se executa o trabalho, mas também como ele será realizado. Por causa
desse novo comércio eletrônico, portanto, novas configurações trabalhistas
surgiram.
Devido a essas novas facilidades, muitas
pessoas se arriscaram na web e
construíram novos negócios, muitas vezes de sucesso, comercializando os mais
diversos produtos. A partir dessa nova lógica de mercado, surgiu o e-commerce, conhecido também como
comércio eletrônico, nova tendência de mercado.
Quem
vende
Além
de mudar radicalmente as relações entre empresas, o e-commerce, juntamente com a internet, mudou também a relação dos
consumidores. Por meio de sites de compra como o E-bay e o Mercado Livre, por exemplo, um novo modelo de negociação
surgiu: o C2C consumer-to-consumer. Esse sistema permite que pessoas comuns, que
não têm intenções empresariais, façam negócio entre si. O sujeito não se lança
na rede com visando empreender, mas sim de encontrar oportunidades que sejam
vantajosas para ele, negociando com internautas que têm a mesma intenção. Esses sites servem como intermediário para a
interação de pessoas com um interesse em comum.
Por outro lado, novas empresas estão
surgindo neste meio. Muitas delas, inclusive, realizando negócios que
antigamente eram tipicamente convencionais. É o caso do brechó online de luxo
Lebeh, que funciona desde 2011. Engajado em projetos sociais e preocupado com a
sustentabilidade, o brechó doa parte dos seus lucros para instituições de
caridade, faz as entregas utilizando a bicicleta como meio de transporte e
aposta no papel reciclado em suas embalagens. De acordo com a dona do brechó,
Vivian Tempel,“a internet facilitou muito a vida do pequeno empreendedor; ficou
mais fácil desenvolver um negócio e abrir a sua própria empresa. Meu custo com
a plataforma virtual é bem menor do que seria se eu decidisse abrir uma loja
física”.
O varejo é um nicho mercadológico
extremamente competitivo, e a internet só está acentuando esta disputa. Redes
de lojas já consolidadas no mercado, dos mais variados segmentos, estão optando
por vender seus produtos também pela internet. Elas estão aproveitando sua
posição no varejo tradicional para estender suas operações para um novo canal: o e-commerce. Empresas como Ponto Frio,
Magazine Luiza, Saraiva Pão de Açúcar, Livraria Cultura e Lojas Americanas já
contam com uma enorme estrutura online para dar suporte aos seus clientes internautas,
que preferem consumir sem ter que sair de casa. Tais negócios, já tão bem
posicionados, ainda enfrentam as dificuldades de integração dos seus negócios.
Isso se deve principalmente porque as vendas pela internet ainda são uma
novidade para a maioria dos brasileiros, que precisam se acostumar com a ideia.
Porém, essa integração do convencional com o virtual mostra-se cada vez mais como
uma tendência de mercado em que as empresas deverão se alocar nos próximos anos
se quiserem continuar bem posicionadas.
Quem
compra
O
crescimento do e-commerce, consequência
da notável expansão da internet, tem sido espetacular nos últimos anos. Desde
2001, também de acordo com o portal ecommerce.org.br,
o número de compradores online aumentou quase 3000% no Brasil. O número saltou
de um milhão de consumidores em 2001 para 23 milhões em 2011. A ascensão da venda online está baseada, claro, no aumento
de pessoas com acesso à internet. Atualmente, cerca de 40 milhões de
brasileiros, 20% da população brasileira num total, utilizam um e-commerce para fazer compras, metade
deles rotineiramente.
Inicialmente, um consumidor em potencial de um e-commerce é o internauta que já faz
compras normalmente, podendo fazê-la pela internet. Portanto, seria qualquer
pessoa que já tenha acesso à rede. Porém, no Brasil isso não é tão óbvio.
Alguns fatores essenciais mudam a relação das pessoas com vendas online. O cliente mais promissor de um site do comércio
eletrônico representa a uma elite dentro da elite de usuários. Segundo o Ibope,
40% possuem renda familiar acima de R$5 mil mensais e 75% têm ensino superior
completo. De acordo com esses números, podemos constatar que este consumidor
não apenas faz parte de uma minoria na internet como também no Brasil.
Por outro lado, há também pessoas com um poder aquisitivo
um pouco mais baixo que mesmo assim são amantes da internet e entusiasmadas com
novas tecnologias, não tendo medo de se arriscarem na rede. O grande desafio do
marketing e comércio online é justamente conseguir que os consumidores típicos
com alto poder aquisitivo, que ainda não fazem compras pela internet por receio
e preconceito, quebrem essa barreira e tornem-se grandes clientes do e-commerce.
Vivian
diz como é o público da Lebeh, “a maioria das minhas clientes são mulheres de
25 a 45 anos, de alto poder aquisitivo. Muitas consumidoras de grifes, outras
consumidoras de produtos de qualidade, independente da marca. Temos
algumas clientes que não costumavam comprar pela internet e tiveram a primeira
experiência na Lebeh, enquanto outras são consumidoras vorazes online”.
Claramente, o caso do brechó online de luxo exemplifica as estatísticas.
O comércio online tem
crescido porque a venda pela internet também é muito benéfica para aquele que
compra. A disponibilidade de pesquisa de preços em diversos sites, a comodidade
e eficiência de se comprar online são vantagens que proporcionadas aos
clientes. Portanto, informados sobre produtos e preços, o poder de barganha do
comprador é maior. De acordo com Dalton Felipini, mestre em e-commerce pela Fundação Getúlio Vargas,
“a internet alterou de muitas
maneiras o nosso comportamento, inclusive, na forma como realizamos compras. O
consumidor definitivamente adotou a compra online
devido, principalmente, à conveniência e a economia”.
Viviane
Karine, cliente do brechó Lebeh, diz sobre o que a atrai num e-commerce, “o que me motiva a comprar
online é a facilidade, rapidez, não ter vendedor tentando te empurrar
produtos. É ótimo também para comprar produtos de diferentes marcas em um único
site e poder comparar os preços”. Viviane está entre as pessoas que abraçaram o
comércio eletrônico e realizam boa parte das suas compras via internet, “compro
pela internet semanalmente; e todos os tipos de produto. Produtos de beleza,
vinhos, roupas, sapatos, livros e até compras de supermercado”.
A
estudante Júlia Mello, consumidora assídua de sites como Amazon, Ebay, Nasty
Gal, Striaawberry.net e Cosme-de.com, diz “compro pela internet principalmente
porque não tenho tempo de ir às lojas. Outro fator muito importante é que você
encontra mais variedade nos sites de venda”. Além dos quesitos conforto,
eficiência e praticidade, Júlia dá valor a outros fatores quando compra online, “algumas dessas lojas virtuais
têm mais o meu estilo. O design das
peças é diferenciado, você não encontra coisas assim no Brasil. O que mais me
atrai realmente é o produto exclusivo e os preços mais acessíveis encontrados”.
Julia se encaixa no público que faz compras online
mensalmente.
Ao
comprar, Julia e Viviane prezam primeiramente pela credibilidade do site. Por
isso, compram sempre em e-commerces
que já estão habituadas. Julia diz, “Se o frete é grátis, a loja ganha um ponto
a mais. Como sempre existe a dúvida de que se o objeto na realidade parece com
o da foto, ou se a peça vai me servir, quanto mais informações o site tiver,
melhor. Medida das peças, descrição, boas fotos. Sobre a reputação da empresa,
sempre procuro no Google antes de comprar, mas nunca tive problemas, em mais de
três anos de compras pela internet”. Assim como a Julia, Viviane também faz
questão de pesquisar mais sobre onde está comprando, “antes de comprar,
pesquiso comentários sobre o site e vejo se tem formas seguras de pagamento”.
Para Vivian
Tempel, o relacionamento que o site tem com o cliente, ainda que online, e a
credibilidade que o site passa são fatores cruciais para uma boa venda. “Tentamos ter um relacionamento
próximo, dentro do possível, mesmo sendo virtual. Desde a descrição e imagens
dos produtos, pensamos como se fôssemos consumidoras, para saber quais
informações e quais detalhes são importantes destacar. Logo após o recebimento
do produto, fazemos um pós-venda para saber se o cliente ficou
satisfeito com o produto e com o serviço. Com isso acabamos conhecendo alguns
deles e abrindo um canal de comunicação, que é bastante utilizado por parte dos
cliente”, ela diz.
Com tanta facilidade na hora da compra, será então que a
internet promoveria compras impulsivas dos seus consumidores? Tempel discorda
desta teoria, “não acredito que comprem por impulso. A compra na internet acaba
sendo mais consciente, pois a pessoa tem a possibilidade de pesquisar e pensar;
é possível colocar o produto no carrinho, continuar navegando e voltar para ver
se é aquilo mesmo que deseja”. Já Vivian, como consumidora, confessa que
“muitas vezes compro por impulso coisas das quais não preciso, apenas pelo
prazer de consumir”.
A
tecnologia ajuda a tecnologia
Existem várias estratégias utilizadas pelos sites
de e-commerce para atraírem mais
clientes.
Uma delas, o email marketing, continua sendo a mais
tradicional. A empresa manda newsletters ou
emails promocionais para os seus clientes cadastrados. Essa ainda é uma
ferramenta poderosa, já que a rede Submarino, por exemplo, divulgou que cerca
de 35% das suas vendas são advindas desses emails.
Porém, novas ferramentas estão
surgindo. O programa de afiliados, por exemplo, permite que os e-commerces a ampliarem o seu espaço mercadológico
por meio de sites parceiros. O dono do site escolhe um fornecedor de produtos
compatível com o publico do site e que possua um sistema gerenciador de
afiliados, cadastra-se e coloca em páginas selecionadas do site o anúncio desse
fornecedor. O sistema registra todas as vendas advindas do site afiliado e
lança uma a comissão em sua conta bancária no final de determinado período.
Uma
das maneiras mais eficazes de se atingir um público-alvo específico têm sido a
criações de sites ou blogs de conteúdo e a interação da empresa com os
prospectos clientes por meio das redes sociais. Essas mídias sociais auxiliam
os e-commerces a encontrarem
potenciais clientes, promove uma comunicação mais eficaz e consolida o
relacionamento futuro com os compradores. A proprietária da Lebeh diz,
“procuramos oferecer conteúdo interessante para os clientes, através do
blog e mídias sociais. Por enquanto
o resultado tem se mostrado bem satisfatório”. Viviane confirma esse sucesso,
“muitas vezes, o que me motiva a consumir pela internet são os blogs dos sites
de vendas”.
E o futuro?
Às
vezes, parece impossível que a tecnologia possa se desenvolver ainda mais. Porém,
o mercado nunca para e continua a inovar.
Em relação ao futuro das vendas pela
internet, a nova tendência serão os m-commerces,
comércio através de dispositivos móveis. Isso quer dizer que você não precisará
nem acessar um computador para realizar uma compra; basta ter ao seu alcance um
smartphone ou um tablet.
Por enquanto, apesar da sua
expansão, o e-commerce ainda procura atingir um público de alto poder
aquisitivo e potencial cliente das vendas pela internet, mas prefere não
comprar online devido à insegurança
de disponibilizar seus dados na web.
Mesmo assim, estamos passando por um
momento de revolução. De repente, todas as nossas atividades estão englobadas
numa tela. Assim como todas as nossas ações foram parar na internet, nada mais
natural que os nossos hábitos de compras também migrassem para esse meio. E
sorte para todas as empresas que terão que se alocar nessa nova indústria.
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