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sexta-feira, 19 de abril de 2013

Reportagem Especial - Gabriela Boccacio


Nem tudo que brilha é Oscar

Há cerca de 84 anos, a cerimônia do Oscar vem encantando a todos ao premiar os melhores filmes, atores e diretores norte-americanos. O Oscar de Melhor e Atriz é uma das categorias mais cobiçadas e eleva os vencedores a outro patamar. Porém, qual é a trajetória desse prêmio? Existiria algum tipo de atuação que seja mais valorizada?




História do prêmio

Entre Janet Gaynor, primeira mulher a receber a estatueta de ouro, até Jennifer Lawrence, e Emil Jannings e Daniel Day-Lewis, muitas coisas aconteceram na trajetória do prêmio.
84 anos de história não representam necessariamente 84 vitórias, e sim, 85.  Antigamente, o vencedor não ganhava por vantagem absoluta, a diferença de um voto resultava em um empate. A primeira vez aconteceu em 1932 quando Wallace Beery e Fredric March tiveram que dividir os holofotes. Em 1989 o fato se reproduziu quando Barbara Streisand e Katharine Hepburn que foram obrigadas a bipartir a glória de vencer o Oscar.
Porém para Katharine Hepburn isso não deve ter sido um problema já que ela foi a mulher mais premiada da História na categoria de melhor atriz, foram 4 vitórias. A proeza no quesito masculino foi atingida apenas por Daniel Day-Lewis, ganhador do prêmio 3 vezes.
A cerimônia foi marcada por muitos acontecimentos inesquecíveis.  Marlon Brando foi premiado em 1973 pelo papel de Don Vito Corleone no filme O Poderoso Chefão. O ator recusou o Oscar e pediu para a ativista índia Sacheen Littlefather falar em seu nome para estimular a inclusão de índios americanos na indústria cinematográfica. Esse episódio pode ser compensado pela reação efusiva de Roberto Benigni em 1999 quando foi subir ao palco no seu discurso de agradecimento por sua atuação em A Vida é Bela. A maior gafe ficou por conta de Humphrey Bogart que em 1943 que convencido de que seria o vencedor levantou antes da revelação e fingiu aplaudir de pé Paul Lukas, o verdadeiro premiado da noite.   

E o Oscar não vai para...
        
         Segundo Adriano Cypriano, professor de teatro na Escola Macunaíma e de direção atores na Faculdade Cásper Líbero existe uma receita para não ganhar o Oscar :“ Se você não for americana, jovem ou bonita”. Para ele isso ficou claro quando Fernanda Montenegro, única brasileira indicada ao Oscar, perdeu para Gwyneth Paltrow em 1999 com o filme Shakespeare Apaixonado, “um filme sessão da tarde” ressalta Adriano. O mesmo ocorreu esse ano quando Jennifer Lawrence venceu com sua atuação em O Lado bom da vida e desbancou Emanuelle Riva em Amour.
         Django Livre foi considerado um dos injustiçados desse ano e Leonardo DiCaprio ainda é a figura simbólica do “não vencedor” do Oscar. O ator nem sequer foi indicado para o seu papel de Calvin Candie na última produção de Tarantino. Recebeu apenas indicações em 2005 por O Aviador e em 2007 por Diamante de Sangue.
         Hitchcock, mestre do suspense, nunca subiu no palco para receber a tão almejada estatueta. Isso não impediu que sua carreira e sua filmografia fossem uma das mais valiosas do mundo cinematográfico. Aqui cabe a questão: qual o valor de um Oscar?  

Do voto à estatueta

         “Eles (os jurados) votam nos filmes que viram e com os quais eles se identificaram. Quase todos são americanos, mais velhos e republicanos” afirma Adriano Cypriano. Ele também explica que os jurados assistem aos filmes que estão em exibição na cidade em que residem, por isso nem todos assistem a todos os indicados e escolhem os que lhe convém. Mas isso não revela uma injustiça, “o Oscar representa a indústria cinematográfica americana e nunca se pretendeu alguma outra coisa. Eles não escondem o jogo, é o festival mais honesto que existe. Somente um filme como Argo pode ganhar, ele representa essa indústria” diz o professor.
         Porém isso não dita necessariamente as regras do jogo “os jurados do Oscar são os próprios membros da Academia; foram cerca de 6 mil na última edição. A imprensa  adora buscar padrões de comportamento que valham ao longo do tempo, mas esse colégio eleitoral, além de numeroso, é flutuante. Novos membros entram e saem a cada ano” diz Sérgio Rizzo, jornalista e crítico de cinema.
         Não é possível traçar exatamente um perfil sobre os jurados da Academia, mas existe por trás do festival uma série de interesses: “Hollywood é uma indústria e, como tal, precisa comercializar o seu produto. O Oscar é uma maneira de chamar ainda mais atenção do seu consumidor” diz Tatiana Babadobulos, jornalista e crítica de cinema, “O que vimos este ano foi a premiação de a jovem atriz Jennifer Lawrence que desempenhou um bom papel e também pode-se dizer que há, além do lobby da distribuidora, a pressão comercial já que a imagem da atriz será largamente explorada em Hollywood”.
         É importante ressaltar que nem todas as decisões do Oscar são unânimes, por isso o veredito final  da Academia nem sempre agrada a todos dentro e fora dela. Mas o que significaria a primeira-dama Michelle Obama entregar o Oscar de Melhor Filme para Argo que trata de um tema político e muito polêmico na história americana?

Oscar e biopics

         Onze mulheres e vinte-um homens venceram o Oscar por suas atuações em filmes biográficos. As vitórias femininas se concentraram na última década, metade das vencedoras foram premiadas por suas personagens verdadeiras. A vitória dos homens foi mais homogênea na trajetória do festival. Seria possível distinguir uma certa tendência nos vencedores?
         Segundo Sérgio Rizzo “personagens verídicos tendem a interessar mais às pessoas. Logo, atores que os interpretam tendem, por sua vez, a chamar mais atenção para o seu trabalho. Se o personagem foi ou é também famoso, maior será o interesse. De modo que o Oscar, ao valorizar essas interpretações, nada mais está fazendo do que espelhar um sentimento generalizado sobre o trabalho daqueles que recriam personagens célebres, de Lincoln a Thatcher.” O mérito desses atores que fazem papéis biográficos está no alcance que eles têm com o público. É muito curioso ver como alguém consegue se transformar fisicamente e ser confundido com a pessoa real.
         O exemplo mais atual que temos desse tipo de atuação é o de Daniel Day-Lewis em Lincoln. Para Adriano Cypriano “Ele (Daniel Day-Lewis) colaborou com o Spielberg montando mais ainda a imagem do mito americano de Lincoln. Você institui o campo ficcional quando faz um filme biográfico. É um trabalho de mimese impressionante”. Portanto fazer uma biopic não é necessariamente desmistificar um personagem “Não é uma interpretação real que Meryl Streep faz de Margareth Thatcher e sim uma visão que ela tem dela” afirma Adriano sobre o filme A dama de ferro com o qual Meryl Streep faturou o prêmio.  

         Tudo são especulações, até que um dos jurados se exponha e revele os mecanismos por trás da premiação, nós teremos apenas o direito de supor. Nos resta apenas a opção de duvidar e discordar dos vencedores. O amor que temos por um filme não precisa ter um selo hollywoodiano nele.

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