Nem tudo que
brilha é Oscar
Há
cerca de 84 anos, a cerimônia do Oscar vem encantando a todos ao premiar os
melhores filmes, atores e diretores norte-americanos. O Oscar de Melhor e Atriz
é uma das categorias mais cobiçadas e eleva os vencedores a outro patamar.
Porém, qual é a trajetória desse prêmio? Existiria algum tipo de atuação que
seja mais valorizada?
História do prêmio
Entre
Janet Gaynor, primeira mulher a receber a estatueta de ouro, até Jennifer
Lawrence, e Emil Jannings e Daniel Day-Lewis, muitas coisas aconteceram na trajetória
do prêmio.
84
anos de história não representam necessariamente 84 vitórias, e sim, 85. Antigamente, o vencedor não ganhava por
vantagem absoluta, a diferença de um voto resultava em um empate. A primeira
vez aconteceu em 1932 quando Wallace Beery e Fredric March tiveram que dividir
os holofotes. Em 1989 o fato se reproduziu quando Barbara Streisand e Katharine
Hepburn que foram obrigadas a bipartir a glória de vencer o Oscar.
Porém
para Katharine Hepburn isso não deve ter sido um problema já que ela foi a
mulher mais premiada da História na categoria de melhor atriz, foram 4
vitórias. A proeza no quesito masculino foi atingida apenas por Daniel
Day-Lewis, ganhador do prêmio 3 vezes.
A
cerimônia foi marcada por muitos acontecimentos inesquecíveis. Marlon Brando foi premiado em 1973 pelo papel
de Don Vito Corleone no filme O Poderoso Chefão. O ator recusou o Oscar e pediu
para a ativista índia Sacheen Littlefather falar em seu nome para estimular a
inclusão de índios americanos na indústria cinematográfica. Esse episódio pode
ser compensado pela reação efusiva de Roberto Benigni em 1999 quando foi subir
ao palco no seu discurso de agradecimento por sua atuação em A Vida é Bela. A
maior gafe ficou por conta de Humphrey Bogart que em 1943 que convencido de que
seria o vencedor levantou antes da revelação e fingiu aplaudir de pé Paul
Lukas, o verdadeiro premiado da noite.
E o Oscar não vai para...
Segundo Adriano Cypriano, professor de
teatro na Escola Macunaíma e de direção atores na Faculdade Cásper Líbero
existe uma receita para não ganhar o Oscar :“ Se você não for americana, jovem
ou bonita”. Para ele isso ficou claro quando Fernanda Montenegro, única
brasileira indicada ao Oscar, perdeu para Gwyneth Paltrow em 1999 com o filme
Shakespeare Apaixonado, “um filme sessão da tarde” ressalta Adriano. O mesmo
ocorreu esse ano quando Jennifer Lawrence venceu com sua atuação em O Lado bom
da vida e desbancou Emanuelle Riva em Amour.
Django Livre foi considerado um dos
injustiçados desse ano e Leonardo DiCaprio ainda é a figura simbólica do “não
vencedor” do Oscar. O ator nem sequer foi indicado para o seu papel de Calvin
Candie na última produção de Tarantino. Recebeu apenas indicações em 2005 por O
Aviador e em 2007 por Diamante de Sangue.
Hitchcock, mestre do suspense, nunca
subiu no palco para receber a tão almejada estatueta. Isso não impediu que sua
carreira e sua filmografia fossem uma das mais valiosas do mundo
cinematográfico. Aqui cabe a questão: qual o valor de um Oscar?
Do voto à estatueta
“Eles (os jurados) votam nos filmes que
viram e com os quais eles se identificaram. Quase todos são americanos, mais
velhos e republicanos” afirma Adriano Cypriano. Ele também explica que os
jurados assistem aos filmes que estão em exibição na cidade em que residem, por
isso nem todos assistem a todos os indicados e escolhem os que lhe convém. Mas
isso não revela uma injustiça, “o Oscar representa a indústria cinematográfica
americana e nunca se pretendeu alguma outra coisa. Eles não escondem o jogo, é
o festival mais honesto que existe. Somente um filme como Argo pode ganhar, ele
representa essa indústria” diz o professor.
Porém isso não dita necessariamente as
regras do jogo “os jurados do Oscar são os próprios membros da Academia; foram
cerca de 6 mil na última edição. A imprensa
adora buscar padrões de comportamento que valham ao longo do tempo, mas
esse colégio eleitoral, além de numeroso, é flutuante. Novos membros entram e
saem a cada ano” diz Sérgio Rizzo, jornalista e crítico de cinema.
Não é possível traçar exatamente um
perfil sobre os jurados da Academia, mas existe por trás do festival uma série
de interesses: “Hollywood
é uma indústria e, como tal, precisa comercializar o seu produto. O Oscar é uma
maneira de chamar ainda mais atenção do seu consumidor” diz Tatiana
Babadobulos, jornalista e crítica de cinema, “O que vimos este ano foi a
premiação de a jovem atriz Jennifer Lawrence que desempenhou um bom papel e
também pode-se dizer que há, além do lobby da distribuidora, a pressão
comercial já que a imagem da atriz será largamente explorada em Hollywood”.
É importante ressaltar que nem todas as decisões do Oscar
são unânimes, por isso o veredito final
da Academia nem sempre agrada a todos dentro e fora dela. Mas o que
significaria a primeira-dama Michelle Obama entregar o Oscar de Melhor Filme
para Argo que trata de um tema político e muito polêmico na história americana?
Oscar e biopics
Onze mulheres e vinte-um homens venceram
o Oscar por suas atuações em filmes biográficos. As vitórias femininas se
concentraram na última década, metade das vencedoras foram premiadas por suas
personagens verdadeiras. A vitória dos homens foi mais homogênea na trajetória
do festival. Seria possível distinguir uma certa tendência nos vencedores?
Segundo Sérgio Rizzo “personagens
verídicos tendem a interessar mais às pessoas. Logo, atores que os interpretam
tendem, por sua vez, a chamar mais atenção para o seu trabalho. Se o personagem
foi ou é também famoso, maior será o interesse. De modo que o Oscar, ao valorizar essas interpretações, nada mais
está fazendo do que espelhar um sentimento generalizado sobre o trabalho
daqueles que recriam personagens célebres, de Lincoln a Thatcher.” O mérito
desses atores que fazem papéis biográficos está no alcance que eles têm com o
público. É muito curioso ver como alguém consegue se transformar fisicamente e
ser confundido com a pessoa real.
O
exemplo mais atual que temos desse tipo de atuação é o de Daniel Day-Lewis em
Lincoln. Para Adriano Cypriano “Ele (Daniel Day-Lewis) colaborou com o Spielberg
montando mais ainda a imagem do mito americano de Lincoln. Você institui o
campo ficcional quando faz um filme biográfico. É um trabalho de mimese
impressionante”. Portanto fazer uma biopic não é necessariamente desmistificar
um personagem “Não é uma interpretação real que Meryl Streep faz de Margareth Thatcher
e sim uma visão que ela tem dela” afirma Adriano sobre o filme A dama de ferro
com o qual Meryl Streep faturou o prêmio.
Tudo são especulações, até que um dos
jurados se exponha e revele os mecanismos por trás da premiação, nós teremos
apenas o direito de supor. Nos resta apenas a opção de duvidar e discordar dos
vencedores. O amor que temos por um filme não precisa ter um selo hollywoodiano
nele.
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