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sexta-feira, 19 de abril de 2013

Reportagem Temática - Ana Flávia Bardella


O extremo do platônico




Amor romântico, amor familiar, amor amigo: todos eles têm coisas em comum. São sentimentos fortes, inspiradores e que se reforçam e se reafirmam através dos laços de convivência. O amor tem como hábito perder a racionalidade em determinados momentos. Mas o que acontece quando existe muito amor e nenhuma convivência? Como se ama alguém a quem você nunca conheceu?
Esse desdobramento quase inexplicável do amor é muito comum e tem sua representação máxima nos “fãs”. Essa palavra é usada para designar pessoas que se sentem estranhamente atraídas por algum tipo de personalidade midiática. Seja ela ator ou atriz, participante de reality show ou cantor. O carisma ou talento do famoso em questão se expande de tal maneira a despertar em um determinado grupo um sentimento de atração e identificação muito forte.
“Nem se eu quisesse muito conseguiria explicar”, diz Melissa Lopes, estudante, de 16 anos. A garota é fã da banda NX Zero e conta que o primeiro contato com o grupo foi marcante em sua vida. “Era bem novinha e escutei a música Além de Mim, o primeiro single de sucesso que eles fizeram. Estava na cozinha e a televisão estava ligada na sala, em um canal de clipes. Em menos de um minuto já estava hipnotizada, de coração batendo forte, querendo saber os rostos por trás do som. Foi amor a primeira ouvida!”, brinca.
Esses primeiros passos para se informar sobre a vida e o trabalho dos futuros ídolos são decisivos na trajetória de qualquer fã. É o momento de ir além do encantamento e de mergulhar: navegar.
A internet foi o instrumento que mais facilitou a vida dos fãs nos últimos anos. Através dela foi possível não só a busca rápida das informações após o primeiro contato, mas também ir além: baixar todos os CDs e DVDs que já tiverem sido lançados desde o início do trabalho do ídolo, ou todo o material profissional já produzido por ele, além de tomar conhecimento de boa parte de sua vida pessoal.
Para Klaryssa Akemi, estudante de 13 anos e “katycat”, como se denomina, ou fã de Katy Perry, para ser fã é preciso conhecer: “Poser fala muita besteira”. Os “posers” nada mais são do que falsos fãs. Pessoas que fingem em determinados momentos que entendem do artista, mas na verdade sabem poucas coisas, não demonstram tanto interesse quanto outros fãs, não dedicam tanto tempo de sua vida a eles, e, seguindo essa lógica, não os amam tanto quanto os “de verdade”. Mas como identificar quem é fã e quem não é?
            Para Larissa Schiavano, estudante, 17 anos e fã da banda One Direction, a resposta é fácil: “Eu acho que poser é aquela pessoa que diz ser fã de verdade, mas só gosta enquanto os ídolos estão na "moda" ou só porque os acham bonitinhos. Dependendo da pessoa é assim, mas cada um tem seu jeito de gostar”. Victória Matsumoto, de 18 anos, fã de Panic! At the Disco e também estudante, acredita que os posers são aqueles que tentam muito gostar do artista: “O problema é gostar de uma música ou duas e dizer que você é o maior fã do mundo. Dizer que ama e conhece tudo quando não conhece. Isso irrita”. Juliana Trendi é um pouco mais radical: “Para mim não existe essa de poser. Acho muito diferente o jeito das pessoas de serem fãs. Não me irrito, por exemplo, se alguém se diz mais fã que eu, afinal, isso não é uma competição”.
            Ainda que fosse uma competição, seria difícil alguém ganhar de Juliana. A química de 23 anos é fã da cantora Anahi, ex-integrante da banda mexicana RBD. Mesmo após a desintegração do grupo, a moça continuou seguindo os passos de todos os ídolos, principalmente da que gostava mais. Fundou em 2009, com o auxílio de outras três meninas, um Fã Clube intitulado “Impostoras de Any”, que hoje tem mais de quatro mil integrantes. Fez duas tatuagens em homenagem a cantora. Uma delas, no pé, traz a sua assinatura.
            Quando o assunto é ídolo, principalmente ídolo internacional, é de extrema importância o acesso à internet. Grande parte das informações não saem na imprensa, e para manter-se informado é necessário que o fã acesse regularmente um site de notícias especializado, ou fã clube, que avise sobre novidades de seu ídolo: quando vem ao Brasil, quando será a próxima sessão de fotos, em que está trabalhando atualmente ou quem é seu novo namorado ou namorada.
            Além disso, é dentro do espaço virtual onde ocorrem as maiores interações entre os fãs. Isso porque quando alguém está conectado, a tendência é que busque mais informações sobre aquilo que gosta. Fatalmente, nessa busca, se depara com pessoas com interesses comuns e tem a possibilidade de interagir com elas. Com Klaryssa foi assim: “Quando mudei de São Paulo para Baurú, conversava pelo twitter com uma menina que também era fã da Katy. Entrei para uma escola nova, e descobri que ela também estudava lá! Nós nos encontramos e hoje somos amigas. Foi muito bom conhecer alguém que gostava das mesmas coisas que eu”.
            Mas como as postagens dos fãs são vistas por quem não entende nada do assunto? Letícia Almeida tem 18 anos, e apesar de gostar bastante de algumas bandas, não possui nenhum ídolo. Sobre o assunto, diz: “Tem uma menina no meu facebook que não passa um dia sem compartilhar pelo menos cinco coisas relacionadas ao cantor que ela gosta. Tudo bem gostar, mas acho um pouco de exagero”. Sobre isso, Juliana rebate: “Posto muitas coisas relacionadas à Dulce Maria e à Anahi nas redes sociais. Muitas pessoas não entendem, e inclusive já fui bem criticada. Mas não me importo! Amor de fã, só fã consegue explicar”.
            Larissa encontrou uma solução para o problema: “Costumo postar poucas coisas sobre o One Direction no facebook, pois quando se posta demais sobre um determinado assunto, isso fica cansativo. Por isso, no twitter, criei uma conta exclusiva para a banda e não tenho quase ninguém que não esteja relacionado a eles”. Victória também é comedida: “No início postava muitas coisas, mas em um determinado momento parei. Hoje em dia só compartilho esse tipo de material quando o Panic! lança um clipe ou CD novo”.
            Muito já foi dito a respeito do uso do espaço virtual para o relacionamento dos fãs uns com os outros. Mas uma possibilidade fascinante deste universo é a chance de estabelecer um contato com seus ídolos pelas redes sociais. Klaryssa e Larissa dizem que sempre mandam mensagens ou comentam o que os músicos postam, principalmente através do twitter. Mesmo nunca tendo tido uma resposta, elas não desistem.
            Nesse ponto, Juliana e Melissa são mais sortudas. A fã de NX Zero já foi respondida pelo menos quatro vezes pelos integrantes da banda: “O Ge (guitarrista) e o Di (vocalista) usavam bastante o twitter há uns anos atrás. Hoje em dia não costumam responder os fãs, é uma pena. Mas outras bandas nacionais, um pouco menos famosas, das quais também gosto têm o hábito de responder”. Com Juliana não foi tão fácil: “A primeira vez que a Anahi falou com a gente (Impostoras de Any) foi emocionante. Até choramos! Ela também nos segue no twitter, mas só conseguimos falar com ela duas vezes. Precisamos tentar muito para isso acontecer”.
            Assim como Juliana, Victória também tem uma tatuagem que se refere ao trabalho dos ídolos: “É um trecho da música Northern Downpour. Eles escreveram para as namoradas, pois sentiam falta delas quando viajavam. Lembra um pouco o ambiente de um aeroporto, com despedidas e saudades. Para mim também significou o período do meu intercâmbio, quando fui para a Carolina do Norte. Quando voltei estava mais madura, mas alguns desses sentimentos ficaram. Tem muito significado para mim, por isso acho que nunca vou me arrepender”.
            Juliana, mesmo tendo uma tatuagem com o nome da cantora Anahi, acredita que a maior loucura que já fez por ela foi outra: “Fora pagar R$ 1300,00 para almoçar com ela e mais sessenta pessoas, em todas as vezes que veio ao Brasil, um dia fiz uma coisa totalmente louca. Quando está no país, os fãs vão atrás dela no aeroporto e depois no hotel. Eu e uma amiga fomos e descobrimos o andar em que ela estava. Subimos as escadas até o 15º andar e, quando chegamos, o segurança nos mandou descer. Isso aconteceu cinco vezes! Decidimos tentar só mais uma vez e depois sair, para não criar problemas. Na sexta vez não havia mais ninguém no andar. Nós nos escondemos na escada de emergência, com a porta entreaberta por mais de duas horas. Finalmente, vimos a Anahi saindo do elevador. Fomos até ela, que ficou muito impressionada e nos abraçou, mas depois fomos obrigadas a descer. Foi aí que surgiu o nome do fã clube Impostoras de Any”. 
            Casos como esses são mais comuns do que se costuma imaginar. O amor dos fãs é algo que não pode ser explicado, como provavelmente qualquer outro tipo de amor. Muitos não entendem, muitos não aceitam, e muitos fazem da adoração pelos ídolos um norte para suas vidas. Outros não são tão radicais e nem por isso se consideram “menos fãs”. O fato é que os fãs estão inseridos na sociedade e despertam a curiosidade de quem não faz parte do mesmo universo.

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