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sexta-feira, 19 de abril de 2013

Reportagem Especial - Samanta Esteves


O PODER JOVEM


Importância e desafios do Movimento Estudantil




Para o autor Eduardo Galeano,"Sonhar não faz parte dos trinta direitos humanos que as Nações Unidas proclamaram no final de 1948. Mas, se não fosse por causa do direito de sonhar e pela água que dele jorra, a maior parte dos direitos morreria de sede”  "Sonhar não faz parte dos trinta direitos humanos que as Nações Unidas proclamaram no final de 1948. Mas, se não fosse por causa do direito de sonhar e pela água que dele jorra, a maior parte dos direitos morreria de sede"Sonhar não faz parte dos trinta direitos humanos que as Nações Unidas proclamaram no final de 1948. Mas, se não fosse por causa do direito de sonhar e pela água que dele jorra, a maior parte dos direitos morreria de sede"Sonhar não faz parte dos trinta direitos humanos que as Nações Unidas proclamaram no final de 1948. Mas, se não fosse por causa do direito de sonhar e pela água que dele jorra, a maior parte dos direitos morreria de sedeMas será que os jovens de hoje em dia continuam tão sonhadores quanto antes? É cada vez mais evidente que se vive um período de desmobilização política causado pelo individualismo e descrença no poder de transformação através da organização coletiva – sintomas do sistema capitalista que podem ser percebidos na conjuntura nacional.
Para José Carlos, 22, que participou ativamente do movimento estudantil de Medicina, a DENEM (Diretoria Executiva Nacional dos Estudantes de Medicina), “hoje em dia, ao contrário do final da década de 1960, vivemos um processo de desmobilização e de refluxo das lutas sociais, que reflete na fragilidade das reivindicações realizadas nos diferentes movimentos sociais, entre eles está o movimento estudantil.”
Apesar do enfraquecimento do movimento estudantil nos dias atuais, a luta coletiva dos estudantes pela defesa de bandeiras como os 10% do PIB para a educação continua essencial ao desenvolvimento do país. “o crescimento intenso do processo de privatização das universidades tira da educação seu papel de transformação social, considerando que valores como lucratividade e formação para o mercado de trabalho colocam-se como orientadores da graduação.” acrescenta José Carlos.
De acordo com Carolina Figueiredo, militante do movimento estudantil Domínio Público e integrante do Diretório Central dos Estudantes da Unicamp – DCE, “a ofensiva da política neoliberal está ancorada a um ideário de reforço à lógica da competitividade, do individualismo, da apatia generalizada, coroadas com toda a força entre os universitários, o que traz consigo maior fragilidade e fragmentação entre o ME.”

                             Movimento social dos estudantes

Um dos maiores desafios do movimento estudantil hoje é a tentativa de não se isolar da realidade enquanto movimento social que deve levantar as bandeiras por uma sociedade livre de opressões, o que só é possível quando os estudantes não se distanciam das lutas pautadas por outros movimentos sociais como a Marcha da Maconha, o MST, o Fórum Popular de Sáude e a Frente Nacional Drogas e Direitos Humanos – organizações da sociedade civil que agem sobre a realidade a fim de libertá-la de suas amarras.
"Ou os estudantes se identificam com o destino de seu povo, com ele sofrendo a mesma luta, ou se dissociam do seu povo e, nesse caso, serão aliados daqueles que exploram o povo." Nesse contexto, a frase de Florestan Fernandes nunca permaneceu tão atual.
A importância do movimento estudantil enquanto movimento social está na capacidade crítica e transformadora de agir como vanguarda nos momentos políticos turbulentos da sociedade. Assim como outros movimentos sociais, a desvantagem da cooptação do movimento estudantil pelo governo faz com que as entidades que o representam possam perder a independência e autonomia crítica tão necessárias para se manter como um organizações combativas na defesa de interesses populares.
Segundo José Carlos, “esse processo só é realmente inovador quando não tem caráter eleitoreiro, uma vez que as experiências partidárias vitoriosas acabam por manter a máquina estatal funcionando de acordo com os interesses das grandes corporações, em detrimento dos interesses da coletividade dos trabalhadores”
                                   A privatização do ensino

A conjuntura neoliberal foi responsável pelo sucateamento da educação brasileira através da privatização do ensino. Tal conjuntura desfavorece o movimento estudantil, já que a inserção de campos de movimento estudantil nas universidades privadas é mínima.
Perguntado sobre as dificuldades que alunos das faculdades privadas enfrentam para se organizar, José Carlos comenta sobre o espaço pouco propício para um ambiente universitário democrático. “Acredito que seja muito difícil para o estudante da universidade privada promover reivindicações em seu espaço de atuação, pois há maior chance de punições por parte das diretorias, uma vez que a exigência de manter a organização da vida acadêmica de forma conservadora é essencial para a sobrevivência do modelo privatista”.

UNE - um passado de lutas

O movimento estudantil tem uma importância histórica inegável na luta por mudanças e conquistas sociais. No Brasil, exerceu sua influência na luta contra a ditadura militar, na defesa das diretas já e marcou presença na campanha dos "caras pintadas" pela saída de Collor. Mas para falar sobre movimento estudantil, é necessário retomar a história da UNE – intimamente ligada ao passado das reivindicações estudantis.
A vontade de transformar a realidade continua mobilizando muitos estudantes que lutam, entre outras bandeiras, para enfrentar as sérias contradições da educação no Brasil e reconstruir a base do sistema social a fim de construir uma sociedade pautada pelo respeito aos direitos humanos.
A história da UNE é feita de um passado de conquistas alcançadas com a luta incessante de inúmeros estudantes que arriscaram suas vidas pelo bem coletivo. Curiosamente, a UNE se originou de um órgão que surgiu desvinculado da defesa de bandeiras políticas e só se efetivou como entidade que representa os interesses dos estudantes pela insistência de universitários que desafiaram as regras da Casa do Estudante do Brasil, presidida por Ana Amélia, organização estudantil que tinha a pretensão de ser apolítica e desautorizava pautar seu trabalho por questões que estimulassem a politização acadêmica. Hoje, ironicamente, a UNE volta a ser apenas uma organização de representação formal dos estudantes e deixa de ser uma entidade de luta com poder combativo e autonomia crítica perante o governo federal.
Ficou famoso o episódio do Congresso da UNE que ocorreu em Ibiúna, na ditadura militar. O Congresso, que acontecia de maneira clandestina, terminou com os delegados presos por soldados da Força Pública e policiais do DOPS. As principais lideranças do movimento universitário foram presas, entre eles estava José Dirceu, presidente da UEE, Luís Travassos, presidente da UNE, Vladimir Palmeira, presidente da União Metropolitana de Estudantes, e Antonio Guilherme Ribeiro Ribas, presidente da União Paulista de Estudantes Secundarios.
A história mostra que não foi sem luta que alguns universitários conquistaram o direito dos estudantes de hoje serem representados na UNE através da tiragem de delegados e não é sem esforço que o movimento estudantil atual tenta reconquistar essa entidade como espaço de reivindicação dos direitos estudantis, reacendendo, entre os jovens, a vontade de participação.

   A UNE hoje

Em tempos de “cada um por si” o CONUNE, Congresso Nacional da Une que acontecerá em julho de 2013, se aproxima e estudantes de diversos coletivos que atuam no movimento estudantil começam a cumprir uma agenda de encontros em diversas faculdades para mostrar a relevância da participação no Congresso e conseguir a adesão de novos estudantes nos espaços de movimento estudantil que disputam a Une.
Com o governo Lula, a majoritária da UNE, ligada ao PC do B, base aliada do governo, passa a ter as medidas de precarização do ensino legitimadas pelo governo.
Bruno Modesto e Carolina Figueiredo, do coletivo Domínio Público e Felipe Moda, do campo Rompendo Amarras de movimento estudantil ajudam a construir a Oposição de Esquerda, espaço composto por diversos coletivos que fazem oposição ao bloco majoritário da entidade.
“A realidade está muito difícil e, em última análise, precisamos mudar o mundo. Mas se a gente acredita que é possível mudar o mundo, eu tenho certeza de que é possível mudar a UNE”, diz Modesto, um dos integrantes do Diretório Central dos Estudantes da UNICAMP e militante do campo estudantil Domínio Público.
Para Carolina Figueiredo “o papel que a direção majoritária da UNE - centrada na UJS (União da Juventude Socialista) - vem desempenhando desde o governo FHC é o de reprodução de vários problemas e vícios da entidade. Também comenta as arbitrariedades que acontecem no processo de tiragem de delegados, “não são elementos novos as fraudes na eleição de delegados, os CAs, DAs e DCEs fundados um dia antes do credenciamento aos congressos, o aparelhamento abusivo da estrutura da UNE para fins próprios ao grupo que a dirige, a crescente burocratização das instâncias da entidade e a extrema despolitização dos espaços puxados pela UJS”.

 A oposição de Esquerda

Em relação ao papel que a oposição de esquerda representa para a realidade social brasileira, Modesto diz: “a tarefa de mudar a Une é importante para o cenário que a gente tem no país hoje, mas só é possível de acontecer se tiver alinhada com os movimentos sociais em todas as lutas que acontecem, sejam as lutas pela melhora da educação ou pela garantia dos direitos humanos. Acho que a oposição de esquerda representa isso.”
Na Paulista, número 900, era 26 de março quando alguns estudantes se reúnem em frente ao auditório da Faculdade Cásper Líbero para debater a relevância da participação no Congresso da Une. Felipe Moda, estudante de ciências sociais da Usp e integrante do coletivo de movimento estudantil Rompendo Amaras, fala dos principais problemas enfrentados pelos estudantes atualmente e sobre a importância de disputar o espaço da Une.
Felipe explica aos estudantes as principais bandeiras da Oposição de Esquerda como a defesa dos 10% do PIB para a educação, as cotas para negros, investimentos para permanência estudantil e a luta pelo investimento nas universidades públicas. Segundo ele, a majoritária, ligada ao PC do B, deixou de representar os interesses estudantis há algum tempo, aceitando passivamente as decisões do governo federal. De acordo com ele, hoje a entidade é cooptada pelo governo federal e foi transformada em uma entidade burocrática e distanciada dos alunos, lembrada apenas por ser a organização responsável pela carteirinha estudantil.
Conta também como a atitude de descaso da direção majoritária pode ser vista na prática na segregação que acontece no próprio Congresso, com os piores e mais distantes alojamentos destinados aos estudantes que fazem parte da oposição.
                                            ANEL

O Movimento Estudantil passa por diversas crises sobre qual a melhor política a ser pautada com o objetivo de representar o interesse dos estudantes. A criação da ANEL como organização de ruptura com a UNE representa a crise de legitimidade e de direção pela qual passa a maior entidade dos estudantes.
Para Carolina, “os grupos que defendem a ruptura com a UNE compartilham de uma análise equivocada que subestima tanto a força das políticas do governo, quanto a legitimidade lastro da UJS e do conjunto dos setores governistas entre o movimento estudantil.” De acordo com ela, “ qualquer ruptura, hoje, acaba por ser meramente formal e burocrática e não possibilita avançar no processo de superação dos dilemas do ME, além de contribuir para enfraquecer a unidade entre os setores de esquerda”, enfatiza.
Para Modesto, a fundação de novas entidades de esquerda no movimento estudantil apenas enfraqueceria o poder dos estudantes, “a pior coisa que poderia acontecer seria cada grupo da Oposição de Esquerda sair fundando uma nova entidade.” De acordo com ele, “a partir deste pólo de organização, o importante é conseguir chegar em novas sínteses conjuntas de um projeto de enfrentamento a esse modelo de educação.”

                                              Um futuro incerto

A relevância da participação da juventude nos movimentos sociais tem um poder incontestável. Recentemente, o mundo viu o poder de transformação dos jovens com a eclosão da Primavera Árabe e movimentos por ela influenciados. O Brasil passa por uma fase eufórica de economia aquecida e expectativa em relação aos megaeventos. Os movimentos estudantis mais combativos alertam, porém, para a contradição que isso representa frente a grande desigualdade social que ainda impera. Nesse contexto, os estudantes terão um papel essencial ao alertar para as contradições deixadas de lado na busca pelo desenvolvimento do país.

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