A jornada de trabalho
não é fácil, o dia é cansativo, turbulento, em uma rotina cada vez mais
desgastante. Os minutos contados no fim de mais um expediente parecem
intermináveis para o trabalhador que ainda deve ter dificuldade para chegar a
sua residência no final de mais uma noite. Esta é a realidade enfrentada por
uma parte dos paulistanos que depende do transporte público para cumprir as
tarefas diárias, mas já não conta com o meio mais rápido de locomoção no
município. Com funcionamento previsto, em média, entre 4h40 e 00h20 – exceto
aos sábados -, o Metrô de São Paulo tem sido alvo de discussão daqueles que
clamam por 24 horas de serviço ao dia.
De acordo com o site
oficial do Metrô, cerca de 3,7 milhões de pessoas utilizam o transporte
diariamente, sendo que 700 mil
circulam apenas na Estação Sé, a mais movimentada do sistema. Diante de tal
realidade, a população paulistana criou uma petição pública pedindo o
funcionamento 24 horas. O clamor popular
já reuniu mais de 91 mil assinaturas desde o dia 8 de fevereiro, quando foi
criado no portal Avaaz, e deve ser
entregue a Geraldo Alckmin, governador do Estado de São Paulo.
A luta popular também ganhou força entre os representantes do poder
público. Cientes dos anseios da população, os deputados estaduais Luiz Cláudio
Marcolino (PT) e Leci Brandão (PC do B) organizaram uma audiência pública no
dia 20 de março, na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo, na qual
propuseram uma discussão sobre a possibilidade do funcionamento ininterrupto.
Milton Goia, gerente de manutenção do Metrô também esteve presente e tentou
explicar os motivos pelo qual a medida ainda não foi adotada.
"A curto prazo,
é impossível o Metrô atender 24h", destacou Milton Goia diante de 200
pessoas que faziam barulho e pediam soluções para o problema, pressionando o
representante da Companhia. Ao destacar os serviços realizados durante a
madrugada, quando o Metrô está fechado, como a manutenção dos trilhos, dos
trens e do sistema de circulação, além da lavagem das vias, o gerente alertou
para os cuidados que devem ser tomados. "Se não houver inspeção e tivermos
um trilho trincado, podemos ter um descarrilamento".
Entre
os principais sistemas metroviários do mundo, Nova York se destaca por ser a
única cidade com o funcionamento 24 horas. No local, a existência de linhas
paralelas em uma mesma direção permite que a manutenção seja alternada, sem
interromper o transporte da população. Em uma realidade
distinta, São Paulo não oferece a mesma possibilidade atualmente, o que
impediria a ininterrupção, segundo o gerente do Metrô. “É possível em alguns
trechos. Em outros não há como seccionar. Algumas manutenções precisam
'desernegizar' as duas vias”, justificou Milton Goia.
Criador do Projeto de Lei 621 de 2011, no qual propôs
a extensão do horário de serviço do Metrô para 24 horas, incluindo fins de
semana e feriados, o deputado Luiz Cláudio Marcolino contestou Milton Goia. "Não observamos a preocupação das autoridades
de ter um planejamento estruturado. Já era para o Metrô apresentar essa
viabilidade". Em busca de um panorama diferente para os próximos anos, o
parlamentar disse estar ciente da atual situação. "Precisamos ter todos os
sistemas integrados. Sabemos que esse sistema não pode ser implementado do dia
para noite. Mas dá para fazer isso de forma paulatina".
Em
relação aos cuidados com a segurança dos passageiros, Marcolino afirmou que é
possível continuar com a mesma manutenção, desde que sejam adotadas novas
estratégias e tecnologias para a realização do serviço. “Claro que temos
preocupação com a segurança e o sistema de manutenção. Mas pode-se ir
construindo esse processo de forma paulatina. Seja nos finais de semana, seja
ampliando o horário de funcionamento a partir de novas tecnologias”, rebateu o
líder do Partido dos Trabalhadores na bancada da Assembleia Legislativo do
Estado de São Paulo.
Opositor ao atual governo do Estado de São Paulo,
Marcolino citou os valores das verbas utilizadas para melhorias no transporte
metroviário da capital paulista. O petista alegou que o dinheiro usado foi
abaixo daquilo que foi destinado para as obras de expansão. “Em 2011, o governo do Estado poderia ter
usado R$ 21 bilhões par aa expansão do Metrô, mas usou apenas R$ 13 bilhões. Em
2012, usou R$ 16 bilhões, mas podia usar R$ 21 bilhões”.
Ao cobrar os responsáveis por uma possível mudança que beneficiaria a
população paulista, Luiz Cláudio Marcolino pediu um planejamento estruturado
para a cidade. “Queremos, como a população
disse na audiência pública, que o Metrô seja uma política pública do estado de
São Paulo, que haja recursos destinados no orçamento e tenha um planejamento de
curto, médio e longo prazo. O que não estamos vendo é a preocupação do governo
estadual em pensar um planejamento estruturado de mobilidade urbana”, concluiu.
Também presente na Audiência Pública, a deputada Leci
Brandão é autora do Projeto de Lei 379, que sugere a operação contínua do Metrô
em São Paulo pelo menos aos sábados e domingos. Em seu site oficial, a
parlamentar do PC do B cita a necessidade da população em ter um transporte
ininterrupto, alegando que amenizaria os problemas de violência urbana e
aumentaria a possibilidade de um maior fluxo de pessoas nos estabelecimentos
comerciais da cidade, que poderiam oferecer atividades diferenciadas durante as
madrugadas dos finais de semana.
Confira o Projeto de Lei 379:
Artigo 1º: A Companhia do Metropolitano de São Paulo
– METRÔ, deverá adaptar todas as suas estações para funcionar ininterruptamente
nos finais de semana.
Parágrafo único - Os trens passarão a cada 30 minutos
nas estações, considerando-se o horário compreendido entre 01:00 (uma) e 05:00
(cinco) horas.
Artigo 2º: A entidade descrita no artigo anterior, em
cada estação e no interior de seus vagões, fornecerá a seus usuários,
informativos sobre o horário de funcionamento específico dos finais de semana.
Artigo 3º: As despesas decorrentes da execução desta
lei correrão à conta das dotações próprias consignadas no orçamento vigente.
Artigo 4º: Esta lei entra em vigor 365 (trezentos e
sessenta e cinco) dias contados da data de sua publicação.
Populares divergem opiniões sobre uma possível
mudança
Conhecida por uma rotina alucinante em todos os horários
do dia, a cidade de São Paulo reúne pessoas com diferentes opiniões sobre o
assunto, variando de acordo com a necessidade do usuário. Em sua maioria, as
pessoas que utilizam o Metrô no período noturno, seja para fins profissionais
ou pessoais, pedem o funcionamento ininterrupto, mesmo com os problemas
apontados. “Eu sou a favor do metrô 24
horas, sim. Eu sempre saí cedo dos lugares que frequentava por causa da falta
de Metrô”, justificou Murilo Carvalho, 25 anos, técnico de informática.
Letícia Duque, 26 anos, também defendeu o funcionamento
24 horas por dia. A publicitária alega que a atual Lei Seca, que visa coibir os
motoristas que dirigem alcoolizados, atrapalha aqueles que desejam curtir a
noite paulistana. “A gente tem uma Lei Seca que não deixa dirigir depois que
você ingeriu bebida alcoólica, mesmo que em quantidade mínima, portanto, o
Estado deveria proporcionar um meio para que as pessoas possam sair de casa e
curtir”.
De acordo com os interesses pessoais, o economista
Fernando Pires, 29 anos, revela que também é favorável a mudança, mas também
cita o lado financeiro, já que um novo horário de funcionamento geraria mais
custos à Companhia. “Eu acho que, em uma visão para os viajantes, seria muito
boa, pela disponibilidade do serviço. Porém, as pessoas que trabalham na
manutenção do metrô, com certeza, não gostariam da mudança. Acho que pelo fator
do financeiro, já que é interesse do Metrô lucrar, também não é viável. Mas,
pra mim, com certeza, eu seria a favor do metrô 24 horas”.
Por outro lado, alguns usuários preferem adotar a postura
adotada por Marco Goia, gerente do Metrô, na qual alega que é impossível uma
medida deste porte em curto prazo, já que a realidade de São Paulo não suporta
tal mudança. “Acho que é uma boa ideia, mas no momento é
inaplicável, pois o Metrô precisa de manutenção e iria aumentar muito o custo
para um horário que não tem gente”, defendeu Marco Aurélio Rodrigues, 32 anos, gerente
de administração.
Metrô já apresentou falhas e mostrou dependência do
paulistano
A manhã do dia 16 de maio de 2012 não foi nada
tranquila para os usuários da Linha 3 – Vermelha do Metrô. Por volta das 9h50,
dois trens se chocaram quando as composições circulavam no sentido
Palmeiras/Barra Funda, entre as estações Penha e Carrão. O acidente deixou 33
pessoas feridas e mostrou os problemas na segurança do transporte público
paulistano. Depois de uma melhor análise, foi constatado que o fato foi
provocado por uma falha no circuito eletrônico que era responsável pela
velocidade dos trens.
Pouco tempo
depois, no dia 23 do mesmo mês, os metroviários decidiram mostrar à população
os problemas nas condições de trabalho oferecidas na Companhia. Após uma
assembleia no Sindicato, os trabalhadores resolveram entrar em greve por
melhorias e deixaram escancarada a dependência da população em relação ao
Metrô. Com ônibus insuficientes para atender a demanda do transporte público,
São Paulo viveu mais um dia de caos, alterando a rotina de grande parte da
população que mal conseguiu realizar seus compromissos diários.
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