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sexta-feira, 19 de abril de 2013

Reportagem Especial - Lucas Hanashiro



 Que esporte é esse?



O futebol domina o Brasil desde o começo do século XX. Na verdade desde que um esporte de porte e com relevância chegou a território nacional, sendo este primeiro esporte o futebol. A febre futebolística é unânime, e poucos esportes conseguem fazer barulho o suficiente para ofuscar temporariamente o futebol no país penta campeão mundial. Quando a população brasileira pára para assistir outro esporte, é porque está havendo uma final, ou um grande clássico. Já o futebol está presente religiosamente em todas as noites de quarta feira e nas tardes de domingo. Nunca houve uma ocasião em que outro esporte tomasse o lugar do futebol nesses horários definidos. Nas olímpiadas, os campeonatos futebolísticos nacionais são paralisados para que todas as nações sejam representadas com força máxima, e mesmo nessa competição, o futebol está presente.
Mesmo nos outros esportes, como basquete, vôlei e tênis, o horário de televisão para eventos de grande porte é bastante limitado. Uma decisão de Super Liga Mundial, a final do Novo Basquete Brasil, um evento do UFC...isso quando envolve brasileiros, caso contrário, a visualização da mídia, principalmente os canais televisivos abertos, é mínima. Uma rápida menção é o suficiente para tratar do assunto.
Se nem os esportes mais populares do mundo tem espaço no Brasil, qual a chance de outros ainda menos conhecidos? Muito pequena, inclusive em canais de rede fechada, que focam propositalmente em esportes com um público menor, com a intenção de ir expandindo os esportes de pouco a pouco.
Agora, por que os brasileiros são tão fixados ao futebol, e dão pouca chance para outros esportes? O que atrai o brasileiro, e o que repulsa? O que é necessário para se jogar? E o quão difícil é a prática desses esportes em nosso país? Entre os esportes escolhidos estão o hóquei, curling, UFC e pôquer.
Hóquei no gelo
O hóquei no gelo é praticado quase que somente na parte setentrional do mundo. O esporte requer um rinque de gelo para ser jogado, em que os jogadores usam patins para se locomover na espessa superfície. O clima precisa ser propício para que o gelo mantenha uma boa qualidade, e isso é difícil de encontrar em países tropicais como o Brasil, e outros de mesmo clima pelo mundo. Além de um local específico, os equipamentos são muitos, e caros. Além dos patins, é necessário todo um aparato de proteção para o corpo inteiro, que serve como uma armadura vestido por baixo da camiseta de jogo, além do capacete. O principal, claro, é o stick, também conhecido como taco. Por necessitar de diversos aparatos, o investimento para se jogar não é pequeno, que surge como o primeiro empecilho do esporte no Brasil.
O jogo em si é bastante movimentado, e é considerado um dos mais rápidos do mundo. Uma vez que o disco é solto no gelo, a ação é frenética, e colisões entre jogadores são mais do que comuns no jogo. O objetivo, assim como na maioria dos esportes, é marcar pontos, neste caso gols. Diferente do futebol, aqui o contato é permitido, inclusive lutas são permitidas, a troco de ficar 5 minutos fora do jogo. A dinâmica não estranha muito, pois o jogo para poucas vezes, e há três intervalos no jogo que é dividido em três períodos. O esporte requer muita habilidade com o stick, e há jogadores que se destacam por serem especialistas em certos pontos do jogo. Assim como no futebol, temos o artilheiro, capaz de marcar gols de diversas maneiras, o criador de jogadas, o velocista, o bom marcador e o durão. Todos esses são pontos positivos, que assemelham o gelado esporte com o futebol.
O grande problema do hóquei é que ele é praticamente impraticável em nosso país, diferentemente do futebol, que pode ser jogado em todas as esquinas das cidades. Excluindo a inviabilidade da prática, o esporte se encaixaria bem no perfil brasileiro, que gosta de esportes de contato, e que ao mesmo tempo valoriza, e muito, aqueles que têm habilidade e se sobressaem no campo de ação. O hóquei tem um ritmo que prende o espectador, e o envolve no jogo quando, por exemplo, um jogador do time que você está torcendo dá um hit (conhecida trombada) muito forte no adversário, ou se envolve em uma luta com um jogador do outro time.
As regras do esporte podem complicar um pouco a compreensão do jogo, principalmente para os iniciantes. Quem se divertir com o jogo, irá inevitavelmente buscar no google um guia com as regras básicas, que requerem uma certa intimidade para que se possa entender o porque dos juízes usarem seus apitos.
É um esporte com bastante potencial de criar um público interessado no Brasil, mas por ser um esporte jogado em suma na América do Norte, nos países escandinavos e na Rússia, a repercussão será automaticamente pequena. Mas caso um canal de grande porte da televisão aberta resolvesse investir em transmissões de jogos da NHL (National Hockey League), o interesse aumentaria escandalosamente após alguns jogos, que seriam os de apresentação do esporte e para o público simplesmente criar uma opinião básica sobre ele.
UFC (Ultimate Fighting Championship)
O UFC surgiu na América do norte, e vem se expandindo de maneira assombrosa no século XXI. O que era considerado antes um esporte para bárbaros vem ganhando popularidade no mundo inteiro, e incentiva a procura de academias para a prática do MMA, o Mixed Martial Arts, que envolve diversos tipos de lutas, que vai do jiu jitsu ao boxe. A dificuldade do UFC é que se deve ser um especialista em diversas artes marciais, não apenas em uma. O que o público quer não é se tornar um lutador completo, mas sim uma mera atividade em que se pode ser bom sem requerer muita habilidade ou conhecimento, dependendo mais de força bruta. O que é necessário é de um tatame ou rinque de luta, e diferentemente do hóquei, não há praticamente nenhum equipamento para a prática do esporte.
As lutas do UFC são bastante controversas no Brasil. Há quem ame, e há quem odeie de forma absurda, sendo totalmente contra esse esporte. A violência é o principal ponto de discussão. Para se vencer uma luta de UFC, deve-se nocautear o adversário, finaliza-lo ou na decisão dos juízes, e como toda arte marcial, a violência física é bastante apelativa e constante. Para os entendedores do assunto, a dominação de diversas técnicas e o duelo no octógono é um banquete de diversão. Para os que pouco entendem, não se passa de um banho de sangue em que dois gladiadores acéfalos se enfrentam dentro de um ringue com o propósito de se destruírem.
O público que condena o MMA ressalta que o esporte não serve para nada, que é uma competição para tirar sangue de pessoas. Mas do outro lado, os profissionais ressaltam que tudo está dentro da arte do esporte, na dominação de técnicas corporais que foram inventadas há séculos, e que tudo não passa de uma profissão, uma modalidade em que eles são bons e tiram proveito disso para viver. Aqueles que ao menos não gostam, que respeitem a profissão daqueles que veem o MMA e o UFC como suas vidas.
No Brasil, o UFC já virou febre nacional, principalmente pela grande participação de brasileiros. Anderson Silva é considerado o maior lutador de todos os tempos, enquanto José Aldo é detentor de um cinturão, e Júnior Cigano, Lyoto Machida e Victor Belfort estão entre os principais lutadores do mundo. A Rede Globo transmite os eventos em que há um brasileiro envolvido na luta principal, e mesmo com as lutas acontecendo durante a madrugada, a audiência é surpreendentemente grande. O UFC também faz uma grande jogada de marketing levando eventos para todo o mundo.
Curling
O curioso esporte jogado no gelo chama a atenção de muita gente quando televisionado. A mistura de jogar grandes pedras de granito polidas a fim de atingir certa área com jogadores que varrem os caminhos das pedras para direciona-las ao lugar desejado é bastante exótica, e interessa o espectador mais pelo seu formato diferente do que por ser um esporte excitante, animado. Por ser jogado em uma superfície de gelo, o contato brasileiro com o curling é mínimo, tendo sua primeira aparição em nossa sociedade quando transmitido durante as Olímpiadas de Inverno de 2010. Mesmo despertando o interesse de uma magra minoria, a prática é quase que impossível no Brasil. Por necessitar de uma superfície de gelo devidamente apropriada, e por ser extremamente difícil de encontrar as pedras do jogo e também as vassouras, é bastante inviável pratica-lo, a não ser que se importe todos os bens necessários.
O curling é o tipo de esporte que se para no canal para assistir alguns minutos por mera curiosidade. “O que diabos são essas pessoas varrendo o gelo?” e “Por que os jogadores tentam acertar aquele grande circulo?” são perguntas que vêm à mente automaticamente para quem não está acostumado com o esporte. A mecânica do jogo é totalmente diferente dos outros dois esportes dissecados acima, pois não há contato físico e se joga em turnos. Cada time joga uma pedra alternadamente, e cada jogador tem uma função no gelo, seja lançar, varrer ou criar estratégias de jogo conforme o estilo usado pela equipe adversária. É um esporte bastante devagar, de paciência, mas que encanta pelos detalhes de cada movimento feito, e pela precisão com que se é jogado.
O campeonato mundial, masculino e feminino, transmitido pelo SporTV, foi líder de audiência na TV paga com cerca de 11 milhões de telespectadores. Os brasileiros com certeza não estão familiarizados com o curling, mas fazem força para entender o enigmático jogo e se interessam quando passam na televisão, principalmente eventos de grande importância. O Brasil não tem uma seleção que nos represente, já que o esporte foi recentemente introduzido no país, e pouquíssimas pessoas são capazes de praticar esse esporte com um enfoque na profissionalização.
Em países setentrionais, como o Canadá, a Grã Bretanha e os escandinavos (Suécia, Noruega e Finlândia), o curling já é mais naturalmente visto. Apesar de não ser o esporte mais popular, as seleções dos países acima citados são os líderes dos rankings masculinos e femininos, o suficiente para atrair a atenção de um público maior. Quando as fases finais do campeonato mundial são televisionadas, a audiência não é baixa, e chega a brigar entre os programas de maior ibope do país. Para os países que possuem um inverno rigoroso, que envolva neve, a prática é muito mais acessível, e por ser um esporte sem violência alguma, é preterido por pais que são precavidos e atenciosos com seus filhos, já que não há riscos de lesões.
Pôquer
O último da lista, e o único que envolve cartas, também vêm crescendo de forma surpreendente no Brasil. Talvez por sua simplicidade de depender unicamente de cartas para ser jogado, além de alguma coisa para se apostar, o pôquer é preterido por poder ser jogado por todas as pessoas. Não é preciso saber patinar como no hóquei, ter uma forma física boa para o MMA, e nem a precisão do curling. Basta sentar, aprender as regras, e jogar. Saber blefar, porém, é uma habilidade muito bem vinda.
O pôquer é um jogo de muita habilidade, um pouco de mentira e um pouco de sorte. Todos que se envolvem no jogo começam com uma mesma quantia do que se está apostando, seja dinheiro, bolachas ou fichas sem valor real. Se é jogado em um único baralho, e aquele que saber tirar o melhor das cartas em jogo para formar um jogo melhor que os de seus adversários é o vencedor. O objetivo é ganhar, por meio de apostas, toda a quantia do que se está apostando dos seus adversários, e isso pode ser conseguido tendo um jogo melhor que ele, ou fazendo com que ele desista sem saber o que os outros têm em suas mãos.
Seja online, com os amigos ou mesmo em torneios, o pôquer é um esporte divertido e instigante, por evidenciar quem é o melhor beflador da mesa, quem consegue controlar seus adversários melhor. E convenhamos, ninguém gosta de ser controlado. Muito menos em um jogo em que dinheiro, ou algo de valor está sendo disputado, até mesmo honra.
O pulo de amador para profissional no pôquer pode ser feito de forma até que rápida. Vencendo alguns torneios online, e tendo dinheiro o suficiente para investir em inscrições para outros cujos níveis vão gradualmente crescendo já te leva à metade do caminho. Sendo habilidoso e capaz de vencer torneios menores, basta dinheiro e credencial, que podem ser obtidos através dos torneios vencidos, para participar de torneios profissionais. É um dos únicos esportes que não necessitam de um investimento primário para se iniciar a carreira, e que sozinho, se chega a um nível mundial em questão até de meses, dependendo apenas de sua própria habilidade.
No Brasil há poucos profissionais, mas muitos amadores. Estamos passando por uma transição necessária, em que os profissionais ainda estão em formação, e as pessoas estão percebendo o quão simples é aprender e jogar pôquer. Muitos, também, jogam por puro lazer, assim como em outros jogos de cartas. Por ser um esporte em que a idade não faz diferença, podemos esperar um “boom” de profissionais de todas as idades daqui a alguns anos, vindos do Brasil.
 Mesmo com o futebol dominando a população brasileira, e com outros esportes como o basquete, vôlei e tênis dominando o level secundário de preferências, ainda há bastante espaço para que outros esportes bem menos famosos e populares entrem na sociedade brasileira. Mesmo sendo um esporte bastante distante, o hóquei anima pela sua velocidade e contato físico. O UFC é o mais controverso de todos, adorado por alguns e repudiado por outros, mas fato é que boa parte da população fica acordada para assistir aos eventos nas madrugadas de sábado para domingo. O curling vai deixando suas marcas de pouco a pouco, mais despertando interesse por ser diferente do que animando com jogadas extremamente técnicas e precisas. O blefe do pôquer, e a possibilidade de ganhar dinheiro através de técnicas atraem cada vez mais pessoas para o mundo do carteado. Difícil imaginar que qualquer esporte, inclusive esses listados, ultrapasse o futebol um dia. Mas o objetivo dos esportes não é se tornar o mais popular de países, e sim de espalhar a palavra dessa arte que é apreciada, às vezes, por poucos para uma maioria que pode se encantar, sem saber o que está perdendo.

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