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sexta-feira, 19 de abril de 2013

Reportagem Especial - Camila Forte




O meu blog é cor-de-rosa

Jovens blogueiras contam as experiências e delícias de fazer o que mais gostam: escrever





Elas começaram cedo. Já fizeram um pouco de fama, dinheiro e, o mais incrível: fazendo o que gostam e o que lhes cabem apenas como um hobby. Com a criação de blogs pessoais voltados para o mundo feminino, Fernanda Minillo, Soraya Arbex, Marina Bragança e Valentina Rampini veem-se hoje como formadoras de opinião e servem de espelho para diversas mulheres preocupadas com moda, beleza e cultura.

A febre dos blogs pessoais que tratam de moda, cibercultura e sociedade contemporânea permitiu que esses blogs se encaixassem entre os mais de 30 milhões que existiam no mundo até junho de 2005 (informação da Consultoria Americana Perseus Development). Hoje, estima-se que existam mais de 100 milhões de blogs ativos na internet. As postagens sobre roupas, tendências, desfiles, marcas, designers, make, sapatos e acessórios dominam os blogs de moda. Além disso, o que (ou quem) é diferente, ou estiloso, será sempre considerado cool, servindo de inspiração e estimulando a transformação de várias pessoas que tem acesso ao blog. Isso permite tanto a criação de uma identidade própria (ver os outros e fazer o seu) quanto a simples imitação de imagens prontas criadas por outros sujeitos. Com relação a esse fator, Valentina afirma que até mesmo as blogueiras precisam criar uma identidade própria, pois “o mercado dos blogs está saturado, se você não criar um estilo próprio (que vai desde a escrita, fotos e ideais), nunca vai conseguir se destacar no meio”. Ela diz também que, para fugir de posts que trazem sempre os mesmos assuntos dos outros blogs, procura se inspirar em blogs internacionais e, mesmo assim, sem largar mão do estilo próprio adotado. “É muito importante tentar inovar sempre. O público se cansa fácil... Tem que trazer alguns posts mais ‘polêmicos’ de tempos em tempos!”, afirma.

Tanto Valentina quanto Fernanda e Marina têm um número elevado de fãs e seguidores de seus blogs que as admiram e as usam de inspiração até mesmo para a vida. Com o blog Gabbia Dorata, Valentina Rampini consegue uma média de crescimento de 20% por semana de visualizações nas suas postagens. Marina Bragança, em sua conta pessoal, tem mais de 50 mil pessoas, o que significa que em torno de 50 mil fãs acessam o blog The Classic M dela. Fernanda Minillo, desabafando sobre a insignificância que esses números têm pra ela, diz que há em torno de 15 pessoas que curtem sua página do Facebook por dia, o que representa um número significativo de leitores e admiradores do Little Rock. Fernanda, que criou o blog quando tinha apenas 17 anos, contou que, quando começou, “não imaginava que o blog alcançaria o número de leitoras e seguidoras que tem hoje”. Fernanda e Valentina, que iriam fazer intercâmbio para a Califórnia e Roma, respectivamente, criaram apenas para divulgar aos parentes e amigos tudo o que acontecia durante viagem. No entanto, elas gostaram da coisa: e foi impossível parar os blogs por aí.

A relação com os fãs é muito importante para cada uma delas. “Me dou super bem com todos! Tento responder todos os comentários, um a um, principalmente no Instagram. Muitos fãs me param em lojas, shoppings e até mesmo na rua para tirar fotos ou só cumprimentar mesmo. Acho isso legal porque, além de tudo, é um reconhecimento do seu trabalho”, contou Marina Bragança. Todas elas veem os fãs como amigos e escrevem os textos com intimidade e carisma. Valentina contou sobre uma situação engraçada com fãs: “Algumas leitoras me viram na rua e gritaram "Gabi!", meu nome é Valentina, mas muitas quando veem o nome do blog Gabbia Dorata ou escrito tudo junto no link, sem o espaço, acham que meu nome é Gabi! (risos)”. Percebe-se, com isso, que as blogueiras são cultuadas como celebridades pelos fãs e expõem suas vidas, dia-a-dia e realidade ao mundo. Existe uma frase do editor executivo do portal Chic (Chic.com.br), André do Val, que explica esse conceito claramente: “Se o mundo da moda fosse a televisão, os blogs de moda seriam reality shows”.

Todas as blogueiras entrevistadas enxergam o blog como um hobby e não uma obrigação. Apesar da paixão por escrita, nenhuma delas decidiu seguir carreira jornalística ou fazer algo que exigisse isso delas. Soraya é arquiteta, Fernanda faz faculdade de moda, Valentina é designer de produtos e Marina faz administração de empresas. Pode-se perceber então que a criação de blogs permitiu um crescimento significativo de “jornalistas que não são jornalistas”, ou seja, com a tecnologia, a comunicação e o relacionamento entre os indivíduos se expandiram, fazendo da internet um espaço para que qualquer um pudesse expor a própria opinião. Independente da credibilidade do conteúdo, o interesse da sociedade está no bombardeio de informações e opiniões, onde “falar” é mais importante que ler e entender. Os blogs em geral foram, no começo, um meio de jovens adolescentes se expressarem e “gritarem” ao mundo suas ideias e achismos. No caso das blogueiras, todas elas estudam sobre o tema que escrevem visitando sites nacionais e internacionais. Soraya Arbex, que compartilha o Estilo Arbex com as suas duas irmãs, disse que se inspira no blog da Julia Petit para fazer o seu: “Amo a Julia Petit, acho linda, inteligente e cheia de ideias, o blog dela é o meu número 1”. Fernanda diz que lê e gosta muito dos blogs “Petiscos”, “Just Lia” e “Le Blog de Betty”: “Cada um trata da moda em si de um jeito diferente, é isso o que eu mais gosto, ver meninas e mulheres completamente diferentes apaixonadas pela mesma coisa!”.

Como as meninas conseguiram a fama que tem hoje? A resposta é publicidade. Através de aparições em revistas importantes, sites grandes, blogs de outras jovens blogueiras, redes sociais e até divulgações boca-a-boca, os blogs das meninas puderam alcançar a proporção que tem hoje. Elas se fotografavam, mostravam o que vestiam, as marcas das roupas (o que, na opinião da Valentina, foi o que surpreendeu as leitoras: a maioria das suas roupas são de departamentos e brechós!), opinavam sobre diferentes assuntos ligados à moda e beleza e conseguiram, com esta espécie de “diário”, encantar muitas meninas. No caso da Marina, o número significativo de followers (seguidores) na rede social Twitter facilitou a fama do blog. “As pessoas que me seguiam no Twitter me pediam sempre dicas e informações. Foi aí que criei coragem e fiz o The Classic M, para que eu pudesse compartilhar minhas opiniões com todos que se interessavam pelos mesmos assuntos que eu”, disse ela. Atualmente, nenhuma delas ganha muito dinheiro com isso (diretamente) e nem pretendem. No entanto, as blogueiras ganham muitos serviços e produtos de diversas marcas. A opção de divulgar ou não no blog o que receberam é delas. Ao ser questionada, a entrevistada Fernanda contou que o Little Rock é patrocinado por várias lojas de fast-fashion da China. O fast-fashion é um termo utilizado por grandes magazines para produção rápida e contínua de novidades (as lojas Zara e C&A são exemplos de fast-fashion). Fernanda disse que ganha peças de roupas para fazer um “review e uma propagandazinha!”. Além das meninas preencherem o guarda-roupa e a caixa de maquiagens, os patrocinadores também acabam tendo muito retorno com a divulgação, afinal, como já foi dito, elas são os espelhos de muitas jovens. Valentina, que é formada em design de produto e faz faculdade de moda, contou que o Gabbia Dorata serve para ela também como um portfólio: “Por causa dele consigo muitas oportunidades, como trabalhar com produção e social media”.

            Para alcançar o número significativo de fãs que tem hoje, as blogueiras precisaram e precisam ter certa frequência de postagens. Apesar da correria do dia-a-dia e dos compromissos, elas tentam postar novidades de uma a duas vezes por dia. Caso não tenha tempo, Marina procura escrever dobrado no dia seguinte para compensar.  Valentina explica que “algumas pessoas reclamam, mas não é tão rápido assim: até editar as fotos, fazer montagem, pesquisar o assunto... isso leva tempo”, também diz que prefere “não postar a fazer de qualquer jeito”.                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                   

            As garotas também deram dicas para as meninas que estão começando a criar seus blogs em meio a milhares que já existem. Fernanda diz: “Não copiem o texto de outros sites! Vejo muito disso por aí, meninas que criam blogs para repostar exatamente cada palavra que sites grandes postam. Acho que ser você mesma e não ter medo de expor sua opinião é o que mais chama atenção nesses dias de hoje onde todo mundo tem um blog de moda”. Para Soraya, as meninas não podem deixar de “publicar, pelos menos, 2 vezes por semana, se não as pessoas desanimam e param de seguir. Dica: usar sempre textos curtos e com finalidade fácil de entender, e sempre que possível use imagens”. Valentina e Marina compartilham da mesma ideia, que é a de não desistir de jeito nenhum, pois quando se faz o que gosta e com carinho, não tem erro. “Por mais que você ache que não vai chegar lá, sempre dê o seu melhor, porque tudo que hoje é sucesso, um dia começou do zero”, disse Marina.

            Moda é um tema que não parará de crescer nunca. Hoje, tudo é tendência e o que realmente importa é o que está “in”, ou seja, o que segue os estilos ditados pela própria moda. Em um mundo de aparências, a beleza importa sim e muito. Ainda mais quando se é mulher. Ninguém nunca estará satisfeito com o próprio ser e, por isso, os blogs podem servir como auxílio para os interessados e insatisfeitos. Eles explicitam a moda, mostram o que está em alta e, o mais importante, abrigam e formam opiniões.

            Valentina Rampini tem 20 anos e criou o Gabbia Dorata com 16; Fernanda Minillo tem 19 anos e criou o Little Rock com 17; Marina Bragança tem 19 anos e criou o The Classic M com 17; Soraya Arbex, que é a mais velha, tem 28 anos e criou o Estilo Arbex com 26.

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