Pages

domingo, 21 de abril de 2013

Reportagem Temática - Karolina Ciccareli


Paulista de todos, paulista da PM?




Sendo um dos pontos turísticos mais importantes e movimentados da cidade de São Paulo, e o local de maior concentração de empresários do cenário Paulistano, a Avenida Paulista é tão imponente o quanto deve ser. Sempre movimentada, dia e noite, abriga desde o mais importante executivo, até o mais perdido passante. É uma Avenida sem preconceitos. Abriga todas as culturas e classes sociais, e sorri para os que por ela passam. É local de grandes manifestações e têm sua cara pintada na história deste país.  Por dia, mais de 1,5 milhão de pessoas percorrem suas calçadas e  edifícios para realizar as mais variadas tarefas, é mais do que a população inteira de Recife e Belém. A avenida é a casa de 17 emissoras de rádio, o que corresponde a mais de 25% de todo o dial FM do estado.  E aí você se pergunta: Como manter a ordem em um local tão movimentado, tão cheio gente?  Será que a força policial da Avenida Paulista está totalmente preparada para lidar com os problemas que lhes são apresentados ? Como é a relação entre policia e população na região? Será que os jovens e a PM conseguem manter um dialogo pacífico ? Em meio ao caos do dia-a-dia pouco se nota dos conflitos presentes diariamente envolvendo a ação da policia militar, e é isso o que tentamos descobrir aqui. Qual o verdadeiro papel dessa instituição militar perante os que têm a Avenida como cenário cotidiano?

Com mais de 250 policiais distribuídos ao longo da Avenida, a sensação de segurança é grande para quem passa pela Paulista. São muitas bases locadas em quase todas as esquinas, com dois ou três policiais por quarteirão, mas os índices de assalto e usuários de drogas na região ainda estão longe do ideal. As principais ocorrências registradas na base da PM, situada em frente ao Museu de Arte  de São Paulo, MASP, são de furtos e moléstias causadas por  moradores de rua. Segundo informações oficiais da própria corporação, no começo deste ano duas bases da PM deveriam ter sido  inauguradas s na região, mas o projeto foi adiado por tempo indeterminado devido a  problemas estruturais do projeto. Segundo alguns estudos,  só no primeiro semestre de 2012, houve um aumento de 35% nos índices de roubos e furtos na região da Avenida Paulista em relação ao ano anterior.

 Quando abordados para entrevista, nenhum policial militar se dispôs a conversar e colaborar com informações simples. Disseram que “estudantes e jornalistas já causaram muitos problemas” , e que preferem não se manifestar.  Fomos então, aos consumidores de seus serviços, a população. Quando perguntados, mais de 50% dos passantes da Avenida disseram se sentirem seguros em relação a roubos e furtos, e 90% dos entrevistados apresentou algum receio quando perguntados sobre a conduta da policia militar. “Eles são bons policiais, e até pacíficos no dia-a-dia, mas já presenciei coisas que não julgo muito corretas. Eles muitas vezes gritam com os jovens e não respeitam os mendigos”, disse Vera, 32, cujo nome foi modificado para a reportagem pois a fonte não quis ser identificada. Outro ponto abordado pelos entrevistados, é o despreparo dos policiais quando falamos sobre o turismo: “Eles não falam direito nem o português, mal conseguem se comunicar com um gringo. Outro dia tive que traduzir para um policial que o rapaz tinha sido assaltado, porque o PM não conseguia entender, dá pra acreditar? Ainda queriam me levar junto pra delegacia pra ajudar. É muita falta de estrutura isso. A copa ta aí, como é que vai ser? Vai estar lotado de turista que não fala português e aí o bicho vai pegar”.

São muitas as questões levantadas pela população freqüentadora da Avenida, mas qual será a real relação entre civil e militares? Existe total respeito de ambas as partes? O que deve ser feito para que exista uma relação saudável ? Foram ouvidas mais de 20 histórias, boas e ruins, sobre acontecimentos que, de alguma forma, envolviam a força da policia militar na região da Avenida Paulista. Seria ótimo poder contar todas aqui, mas esta matéria se tornaria um livro e não um especial, por isso foram selecionadas duas histórias que ilustram bem todo o contexto dessa integração que nem sempre está perto de poder ser chamada de ideal.  Para respeitar a privacidade dos entrevistados, os nomes foram modificados.

Foi colocada nas redes sociais a seguinte frase: conte sua história, boa ou ruim, envolvendo a policia militar na região da Av. Paulista. E dito e feito. Muitas histórias começaram a ser contadas, e não vamos mentir, em sua maioria, envolvendo maus momentos da população com os agentes da PM. Mas é claro, quando a experiência é ruim, é mais difícil de esquecer.

Falta de respeito e profissionalismo

Bruna Silva, 21,  estudante  de publicidade e residente da Av. Paulista. Todas as manhãs, ela e sua cadela Rayka, uma mistura de pitbull com vira-lata, fazem sua caminhada matinal. Segundo a jovem, embora o grande porte da cadela, ela é doce e muito brincalhona, e jamais mordeu alguém. Durante uma de suas caminhadas, Bruna esbarrou em um rapaz que vinha no sentido contrário e logo se adiantou em pedir desculpas. O rapaz, irritado, disse que não teria problemas e parou ao seu lado para esperar o semáforo ficar verde. Enquanto isso, Rayca, brincalhona começou a lamber a mão do desconhecido, que passou de enraivecido a descontrolado:

-       Sabe, garota ? Eu poderia te prender agorinha mesmo. Essa cadela está sem focinheira, tentou me morder e é um monstro. Espera aqui que vou ligar pra viatura vir te buscar. Sou policial, você está ferrada comigo.

Enquanto isso, Bruna tentava explicar que Rayka seria incapaz de mordê-lo, e mal reparou que o rapaz que ameaçava prendê-la estava sem uniforme e procurava desesperadamente seu distintivo nos bolsos.

Ao perceber que o rapaz só estava querendo arrumar confusão, Bruna chamou Rayka e continuou sua caminhada, mas com um pequeno detalhe: o policial militar, não fardado, continuou andando atrás dela, fazendo as mais variadas ameaças.   A jovem, assustada, foi para seu apartamento. O porteiro, preocupado ligou para a moradora afirmando que um rapaz e uma viatura policial ficaram muito tempo parados na frente do prédio e foram fazer perguntas sobre Bruna. A estudante afirma que nunca mais teve contato com o policial e que nada lhe aconteceu, alem do medo e da falta de respeito que sofrera.
Essa história apresenta inúmeros problemas de conduta, tanto de Bruna quanto do PM. Ao saber que sua cadela é da linhagem de pitbulls, a jovem deveria colocar a focinheira em seu animal, mesmo sabendo que ela é dócil. É lei, e não devemos modificar isso porque nos sentimos exceção. O policial, que quando sem farda se torna  civil, não poderia ter ameaçado a garota e tê-la seguido, por não estava em seu horário de trabalho.  É complicado.


Respeito aos estudantes, respeito aos manifestantes


No dia nove de março de 2013, dois grupos  de estudantes escolheram o mesmo locar para realizar seus protestos. O primeiro, protestava apenas contra a corrupção, o segundo, contra a eleição do pastor deputado Marco Feliciano, que passou a presidir a Comissão dos Direitos Humanos e Minorias (CDHM). Pietro Picca, 23, estudante de engenharia, quando viu os policiais se aproximando já se preparou para o pior, esperou que a PM chegasse agredindo os manifestantes, mas se surpreendeu. A força policial organizou os dois grupos de forma que ambos puderam utilizar a avenida, e mais, muitos dos policiais apoiavam a causa da passeata. “Foi algo que me surpreendeu mesmo, sabe? Não esperava que a policia tivesse esse nível de cultura e conhecimento, e por puro preconceito. Achei a conduta deles exemplar. Eles acompanharam os grupos, que depois viraram um só e nos protegeram dos carros. Achei brilhante”.

É comum ouvirmos histórias de pessoas que foram a passeatas e manifestações e saíram feridas ou insultadas por PM’s, mas desta vez, a policia militar mostrou a eficiência de seu trabalho organizando uma manifestação de forma pacifica.

Ainda existem muitos problemas a serem resolvidos na Avenida Paulista quando falamos sobre a relação entre polica e cidadão civil, mas temos que sempre torcer para que ambas as partes se esforcem para melhorar. É muito importante, em primeiro lugar, que exista respeito. 

           

Nenhum comentário:

Postar um comentário