Paulista
de todos, paulista da PM?
Sendo um dos pontos turísticos mais importantes e movimentados da
cidade de São Paulo, e o local de maior concentração de empresários do cenário
Paulistano, a Avenida Paulista é tão imponente o quanto deve ser. Sempre movimentada,
dia e noite, abriga desde o mais importante executivo, até o mais perdido
passante. É uma Avenida sem preconceitos. Abriga todas as culturas e classes
sociais, e sorri para os que por ela passam. É local de grandes manifestações e
têm sua cara pintada na história deste país. Por dia, mais de 1,5 milhão de pessoas
percorrem suas calçadas e edifícios para
realizar as mais variadas tarefas, é mais do que a população inteira de Recife
e Belém. A avenida é a casa de 17 emissoras de rádio, o que corresponde a mais
de 25% de todo o dial FM do estado. E aí
você se pergunta: Como manter a ordem em um local tão movimentado, tão cheio
gente? Será que a força policial da
Avenida Paulista está totalmente preparada para lidar com os problemas que lhes
são apresentados ? Como é a relação entre policia e população na região? Será
que os jovens e a PM conseguem manter um dialogo pacífico ? Em meio ao caos do
dia-a-dia pouco se nota dos conflitos presentes diariamente envolvendo a ação
da policia militar, e é isso o que tentamos descobrir aqui. Qual o verdadeiro
papel dessa instituição militar perante os que têm a Avenida como cenário
cotidiano?
Com mais de 250 policiais distribuídos ao longo da Avenida, a
sensação de segurança é grande para quem passa pela Paulista. São muitas bases
locadas em quase todas as esquinas, com dois ou três policiais por quarteirão,
mas os índices de assalto e usuários de drogas na região ainda estão longe do
ideal. As principais ocorrências registradas na base da PM, situada em frente
ao Museu de Arte de São Paulo, MASP, são
de furtos e moléstias causadas por moradores de rua. Segundo informações oficiais
da própria corporação, no começo deste ano duas bases da PM deveriam ter
sido inauguradas s na região, mas o
projeto foi adiado por tempo indeterminado devido a problemas estruturais do projeto. Segundo
alguns estudos, só no primeiro semestre
de 2012, houve um aumento de 35% nos índices de roubos e furtos na região da
Avenida Paulista em relação ao ano anterior.
Quando abordados para
entrevista, nenhum policial militar se dispôs a conversar e colaborar com
informações simples. Disseram que “estudantes e jornalistas já causaram muitos
problemas” , e que preferem não se manifestar. Fomos então, aos consumidores de seus serviços,
a população. Quando perguntados, mais de 50% dos passantes da Avenida disseram
se sentirem seguros em relação a roubos e furtos, e 90% dos entrevistados
apresentou algum receio quando perguntados sobre a conduta da policia militar.
“Eles são bons policiais, e até pacíficos no dia-a-dia, mas já presenciei
coisas que não julgo muito corretas. Eles muitas vezes gritam com os jovens e
não respeitam os mendigos”, disse Vera, 32, cujo nome foi modificado para a
reportagem pois a fonte não quis ser identificada. Outro ponto abordado pelos
entrevistados, é o despreparo dos policiais quando falamos sobre o turismo:
“Eles não falam direito nem o português, mal conseguem se comunicar com um gringo. Outro dia tive que traduzir para
um policial que o rapaz tinha sido assaltado, porque o PM não conseguia
entender, dá pra acreditar? Ainda queriam me levar junto pra delegacia pra
ajudar. É muita falta de estrutura isso. A copa ta aí, como é que vai ser? Vai
estar lotado de turista que não fala português e aí o bicho vai pegar”.
São muitas as questões levantadas pela população freqüentadora da
Avenida, mas qual será a real relação entre civil e militares? Existe total
respeito de ambas as partes? O que deve ser feito para que exista uma relação
saudável ? Foram ouvidas mais de 20 histórias, boas e ruins, sobre
acontecimentos que, de alguma forma, envolviam a força da policia militar na
região da Avenida Paulista. Seria ótimo poder contar todas aqui, mas esta
matéria se tornaria um livro e não um especial, por isso foram selecionadas duas
histórias que ilustram bem todo o contexto dessa integração que nem sempre está
perto de poder ser chamada de ideal. Para respeitar a privacidade dos
entrevistados, os nomes foram modificados.
Foi colocada nas redes sociais a seguinte frase: conte sua história,
boa ou ruim, envolvendo a policia militar na região da Av. Paulista. E dito e
feito. Muitas histórias começaram a ser contadas, e não vamos mentir, em sua
maioria, envolvendo maus momentos da população com os agentes da PM. Mas é claro,
quando a experiência é ruim, é mais difícil de esquecer.
Falta
de respeito e profissionalismo
Bruna Silva,
21, estudante de publicidade e residente da Av. Paulista.
Todas as manhãs, ela e sua cadela Rayka, uma mistura de pitbull com vira-lata,
fazem sua caminhada matinal. Segundo a jovem, embora o grande porte da cadela,
ela é doce e muito brincalhona, e jamais mordeu alguém. Durante uma de suas
caminhadas, Bruna esbarrou em um rapaz que vinha no sentido contrário e logo se
adiantou em pedir desculpas. O rapaz, irritado, disse que não teria problemas e
parou ao seu lado para esperar o semáforo ficar verde. Enquanto isso, Rayca,
brincalhona começou a lamber a mão do desconhecido, que passou de enraivecido a
descontrolado:
-
Sabe, garota ? Eu poderia te
prender agorinha mesmo. Essa cadela está sem focinheira, tentou me morder e é
um monstro. Espera aqui que vou ligar pra viatura vir te buscar. Sou policial,
você está ferrada comigo.
Enquanto isso, Bruna tentava explicar que Rayka seria incapaz de mordê-lo,
e mal reparou que o rapaz que ameaçava prendê-la estava sem uniforme e
procurava desesperadamente seu distintivo nos bolsos.
Ao perceber que o rapaz só estava querendo arrumar confusão, Bruna
chamou Rayka e continuou sua caminhada, mas com um pequeno detalhe: o policial
militar, não fardado, continuou andando atrás dela, fazendo as mais variadas
ameaças. A jovem, assustada, foi para
seu apartamento. O porteiro, preocupado ligou para a moradora afirmando que um
rapaz e uma viatura policial ficaram muito tempo parados na frente do prédio e
foram fazer perguntas sobre Bruna. A estudante afirma que nunca mais teve
contato com o policial e que nada lhe aconteceu, alem do medo e da falta de
respeito que sofrera.
Essa história apresenta inúmeros problemas de conduta, tanto de
Bruna quanto do PM. Ao saber que sua cadela é da linhagem de pitbulls, a jovem
deveria colocar a focinheira em seu animal, mesmo sabendo que ela é dócil. É
lei, e não devemos modificar isso porque nos sentimos exceção. O policial, que
quando sem farda se torna civil, não
poderia ter ameaçado a garota e tê-la seguido, por não estava em seu horário de
trabalho. É complicado.
Respeito aos estudantes,
respeito aos manifestantes
No dia nove de março de 2013, dois grupos de estudantes escolheram o mesmo locar para
realizar seus protestos. O primeiro, protestava apenas contra a corrupção, o
segundo, contra a eleição do pastor deputado Marco Feliciano, que passou a
presidir a Comissão dos Direitos Humanos e Minorias (CDHM). Pietro Picca, 23,
estudante de engenharia, quando viu os policiais se aproximando já se preparou
para o pior, esperou que a PM chegasse agredindo os manifestantes, mas se
surpreendeu. A força policial organizou os dois grupos de forma que ambos
puderam utilizar a avenida, e mais, muitos dos policiais apoiavam a causa da
passeata. “Foi algo que me surpreendeu mesmo, sabe? Não esperava que a policia
tivesse esse nível de cultura e conhecimento, e por puro preconceito. Achei a
conduta deles exemplar. Eles acompanharam os grupos, que depois viraram um só e
nos protegeram dos carros. Achei brilhante”.
É comum ouvirmos histórias de pessoas que foram a passeatas e
manifestações e saíram feridas ou insultadas por PM’s, mas desta vez, a policia
militar mostrou a eficiência de seu trabalho organizando uma manifestação de
forma pacifica.
Ainda existem muitos problemas a serem resolvidos na Avenida
Paulista quando falamos sobre a relação entre polica e cidadão civil, mas temos
que sempre torcer para que ambas as partes se esforcem para melhorar. É muito
importante, em primeiro lugar, que exista respeito.
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